E ao terceiro, e último dia de North Festival a bussola, como refere a organização, apontava apenas numa direção… Robbie Williams. O concerto do músico britânico era a joia da coroa da edição do festival, que tinha abraçado todos os estilos musicais ao longo dos dois dias anteriores.
Os fãs mais fiéis de Williams chegaram cedo, os restantes mais perto da hora do concerto. Aqueles que chegaram cedo foram comtemplados com 3 concertos extras… custa a pensar que alguém estava ali pelos nomes nacionais que ocuparam o palco durante algumas longas horas (para alguns).
Tiago Nacarato deu o mote à longa espera, por vezes penosa. Anunciado por um speaker da M80, a entrada em palco de Nacarato fez-se morna, sem chama, sem glória, e que infelizmente seria a tónica ao longo do concerto do músico do Porto. Sem “aquele” entusiasmo para segurar um público durante algumas horas, assistimos a um concerto que se limitou a cumprir os mínimos, sem inovar e por vezes a trazer à memória um concerto, antigo, de Miguel Araujo, tais semelhanças se evidenciavam em palco. As canções, minimalistas e sem energia, criavam um total desanimo junto da front raw, onde o público já ostentava artigos e cartazes de apoio ao nome maior que iria passar pelo palco do North Festival.
Seguiu-se a segunda parte do concerto de Nacarato. Mudam-se os personagens, mantem-se o irritante speaker e entram em palco, em slow motion, os The Black Mamba, infantilmente apelidados pelo tal speaker como o Prince Português… Era o segundo concerto da tarde e os erros de castings somavam-se uns atrás dos outros.
O ar de tédio do publico agravava-se com bocejos à mistura, e era constrangedor assistir aquele desenrolar de sofrimento sonoro, qual filme de categoria B que é apresentado antes do blockbuster.
Os The Black Mamba até podem ser uns animais de palco, mas neste final de tarde de domingo, assistimos a uma performance apagada, tal como o primeiro concerto, sem chama, com um publico que ia chegando, mas a contar as horas e os minutos para assistir ao concerto que os motivou a deslocar à alfandega a um domingo a tarde.
E eis-nos chegados ao último concerto antes da apresentação de Robbie Wiliiams. Pedro Abrunhosa de seu nome entra em palco debaixo de uma chuva irritante e continua. O speaker faz a apresentação do músico do Porto, afirmando ser o seu cantor nacional favorito…
Com a chuva, chega uma injeção de adrenalina, de energia e uma entrega total, sempre presente nos concertos de Abrunhosa. Parte do público refugia-se no interior do edifício da Alfandega, ficando os mais resistentes, sob uma copiosa chuva a aguardar pelo motivo maior que os levou ali. O bónus da noite seria mesmo o concerto de Pedro Abrunhosa, que mostrou que a chuva só assusta os mais fracos e que energia em palco foi contagiada pela mesma. Se do céu esperávamos uma estrela na noite, acabamos de ser servidos por outra.
Abrunhosa sabe como ninguém ter o público na mão. Rodeado por excelentes e destemidos músicos, que sem medo usavam o acrescento do palco, debaixo de chuva, para destilar a sua raiva sonora, assistimos a um dos melhores concertos de Pedro Abrunhosa em festivais (veio à memória um concerto em Vilar de Mouros no ano de 2014). Imparável em palco, percorreu sempre debaixo de chuva os temas que ajudavam a esquecer a gélida e penosa chuva que caía sem parar. Para os resistentes foi um excelente concerto antes da chegada do “prato principal”. Para os mais fracos fica a frustração depois de se terem refugiado entre comes e bebes no espaço interior do edifício.
Mas a estrela da noite chegaria à hora marcada… 23 horas, nem mais um segundo. A chuva tinha deixado de cair, colaborando com a chegada de Robbie fucking Williams ao som de “Hey Wow Yaeh Yeah”.
O Mr. Entertainment, em pessoa, pisava de forma gloriosa o palco do North Festival. Em histeria o público gritava por Robbie que rapidamente soltou os primeiros versos de “Let me Entertain You”…
E foi mesmo isso que aconteceu ao longo de 95 minutos, puro entretenimento. Como um verdadeiro mestre de cerimónias, Williams abria-se para o mundo, falou… falou… falou, interagiu com o público contando in loco a fase mais negra da sua vida como artista… os anos 90. “Land of 1000 Dances” de Chris Kerner, “Monsoon” ou “strong” marcaram os primeiros minutos de um concerto que ao mesmo tempo se prestava a um espectáculo de stand up comedy.
O rafeiro de Manchester, como o próprio se denominou sem qualquer pudor, embarcaria na narrativa da sua aventura pelos Take That. Para mal do público, fomos brindados pelo primeiro vídeo da boys band, “Do What U Like” de 1990 e da auto humilhação a que Robbie se prestou. Aprofundou a sua relação com a restante banda até ser “despedido” e ter-se aventurado em Glastonbury, onde uma canção, “Don’t look back in Anger”, o fez despertar para a carreira a solo, com as botas carregadas de cocaína.
Mas a história de vida do próprio Williams andou lada a lado com as canções que ia desenrolando ao longo do concerto. A interactividade com o público era constante culminado com distribuição de brindes e merchandising ao som de “Candy”, recuperados do caixote do lixo (bin)
Apesar da voz, por vezes embargada e ou cansada, Robbie Williams conseguia que o público o acarinhasse respondendo às suas perguntas e provocações, o que dirá a jovem com a bandeira da Argentina. A parte final antes do encore fazia-se ao som de “Feel”, “Kids” com uma substituta de Kylie Minogue encontrada nas suas bailarinas, e “Rock DJ”.
Pouco mais de uma hora de música, mas também de muita conversa, demasiada como se comentava.
Sem ressentimentos, ou melhor com “No regrets”, chegávamos ao encore, onde como o próprio fez questão de frisar, estabelece um dialogo com o público do sexo feminino, para lhes dedicar “She’s the one”… Desta vez foi no plural, ao encontrar na front raw duas gémeas a quem dedicou a canção, no plural, entre mais alguns minutos de “Stand up”.
Para fechar, chega o tema que se gritava ao longo do concerto… “Angels” encerrava-se uma noite que se queria de festa e entretenimento, mas que foi igualmente noite de terapia e de histórias. Musicalmente poderia ter atingido outro patamar, mas é ele, Mr. Williams, ou melhor, Mr. fucking Williams que conduziu o público pelas suas ideias, histórias, frustrações e alegrias. Globalmente ficou longe do que se poderia esperar, mas salvou sem dúvida o terceiro dia do festival que demorou a libertar a energia.
Um reparo final para o ar “cansado” de Williams que evitou que os fotógrafos pudessem realizar o seu trabalho. Quanto ao festival, apesar da diversidade do cartaz, a aposta foi ganha em termos de afluência… o resto fica para conversas de bastidores.
Apesar de tudo, obrigado Mr. Williams e Mr. Abrunhosa por salvarem o dia… o resto ficara como uma memória ténue.
📸 Paulo Homem de Melo / Sérgio Pereira
🖋 Sandra Pinho