Caetano Veloso esgotou os bilhetes para o primeiro dos três concertos anunciados para os Coliseus no mês de setembro, respetivamente a 9 e 10 em Lisboa e 14 no Porto.
São agora acrescentadas duas novas e últimas datas a esta etapa portuguesa da digressão, primeiro no Coliseu de Lisboa, a 12 de setembro, ficando o espetáculo de encerramento agendado para o Porto, no dia 15 de setembro.
“Meu Coco”, o último disco de originais de Caetano Veloso, é apresentado ao vivo nesta nova digressão homónima que marca o seu regresso aos palcos portugueses, depois de nos últimos anos ter atuado ao lado de Gilberto Gil, com os filhos Moreno, Zeca e Tom e por fim a solo, apenas ele e o violão. “Chego aos 80. A forma geral do show se deve também ao prazer da volta quase-pós-pandémica aos palcos e a atenção à minha história nessa arte tão amada e bem cultivada pelos brasileiros – mesmo que minhas reservas quanto a meu talento para ela não tenham se desfeito.”
Em “Meu Coco” os batuques da Baía, que têm em si a africanidade e a pulsão da mãe terra, flertam com orquestrações delicadas, tornadas poéticas graças à lírica das canções, onde tantos companheiros, amigos e irmãos de Caetano são nomeados direta e indiretamente, com requintada finura.
Fazer um concerto para divulgar um disco novo, como o próprio diz, é um hábito velho. Felizmente, há hábitos que não mudam. O que muda, sim, é a forma como Caetano olha para cada espetáculo, sempre com uma sensibilidade cinematográfica própria de alguém que admite ter alma de cineasta. “No show Meu Coco procuro juntar peças marcantes do álbum com obras que registem momentos históricos do meu trabalho”, escreve o próprio sobre este espetáculo.
O reportório é escolhido a dedo, não apenas com “a mera função de agradar aos espetadores”, mas criando um enredo que ponha em diálogo faixas de diferentes tempos. No fundo, que ponha em diálogo Caetano com a sua obra, com o seu público e com os seus mestres e discípulos.
É importante destacar aqui o papel das novas gerações na forma como o músico baiano se deslumbra com a excitante possibilidade de redescoberta. Não por acaso, chamou Lucas Nunes para a produção do álbum, músico de alguns dos projetos revelação mais entusiasmantes do Brasil, como os Dônica e os Bala Desejo. Pretinho da Serrinha também participa dos arranjos. “Passei quase todo o tempo dos ensaios seguindo as sugestões que vinham deles. Devo confessar que me sinto deslumbrado e intimidado pela musicalidade deles”.
Photo: Fernando Young