As guitarras vão falar mais alto no gnration…

Norte-americano Ben Chasny, ou Six Organs Of Admittance, apresentará este sábado, 24 de Fevereiro, “Burning The Threshold”, o mais recente disco. Luís Martins, guitarrista e compositor dos Deolinda, dará a conhecer o seu disco inaugural “Tentos – Invenções e Encantamentos”.

Ben Chasny (quase) dispensa grandes apresentações. Ao lado do mago Ethan Miller, figurou nos lendários rockers psicadélicos Comets on Fire e ainda esteve ligado a respeitosos nomes da música contemporânea como Current 93, Magik Markers ou Badgerlore. Junto com o baterista Chris Corsano e o guitarrista Sir Richard Bishop formou os Rangda, excelentíssimo power-trio rock. Dizer que Chasny é um dos mais interessantes guitarristas da atualidade é entregar-lhe pouco. Dizer que Chasny é o melhor representante do legado deixado, numa primeira estância, por John Fahey, e numa segunda, por Jack Rose, com quem foi um dia em digressão, será o mais correto. O seu lugar como o miúdo rebelde no universo da “american primitive guitar” está mais que firmado desde a sua estreia em 1998 com o disco homónimo como Six Organs of Admittance.

Nos seguintes da sua extensa lista, “Compathia” (2003), “For Octavio Paz” (2003), “School of The Flower” (2005), “The Sun Awakens” (2006) ou “Shelter from the Ash” (2007) tornaram-se discos essenciais numa qualquer discografia de subgéneros avant-garde, free-rock, noise-rock, psych-folk ou new-folk. “Burning the Threshold”, o mais recente trabalho e parte do mote para o concerto no gnration, apresenta Chasny num abraçar subtil da guitarra, quente e cheio da essência a que o músico norte-americano nos habituou e de que tanto gostamos: a beleza dos acordes. Chasny estará acompanhado em palco por Elisa Ambrogio, conhecida guitarrista e cara maior do grupo noise-rock Magik Markers, com quem também forma os 200 years.

No dia seguinte ao concerto, Ben Chasny apresentará um workshop onde dará a conhecer os princípios básicos e os métodos utilizados em “The Hexadic System”. Criado pelo guitarrista norte-americano, “The Hexadic System” é um sistema de composição de música inteiramente original, que recorre a um baralho de cartas para retirar os guitarristas da sua habitual abordagem à guitarra e os entregar a um universo não-familiar de tonalidades. Os participantes vão aprender técnicas de composição únicas, construir as suas próprias peças musicais e conhecer como se processa este sistema. Embora pensado para guitarristas, o workshop é aberto a todos os músicos. Esta será uma oportunidade imperdível para mergulhar na mente criativa e original do guitarrista.

 

A primeira parte da noite está assegurada por Luís José Martins. Muitos conhecerão o músico pelo seu trabalho enquanto guitarrista dos Deolinda, uma das bandas mais populares da música contemporânea portuguesa, mas o que é certo é que Martins tem arrecadado a atenção do outro lado da música contemporânea portuguesa pelo seu trabalho à guitarra clássica. Estreando-se a solo em “Tentos – Invenções e Encantamentos”, disco editado pela Shhpuma em 2017 e uma das revelações discográficas do ano, Luís José Martins divide-se entre a guitarra clássica, guitarra preparada, eletrónica e percussões. Esta estreia foi sujeita a um preparo meticuloso e demorado, mas sobretudo porque acabou por ser prometida nas entrelinhas de alguns valiosos projetos do autor. O trabalho exigente dos Deolinda, onde a sua guitarra é marca distintiva, é um momento a destacar do seu preenchido percurso musical.

Os processos e as construções musicais mais técnicas, e que funcionam como estudos, o guitarrista chamou-os de Invenções, enquanto Encantamentos são os lugares nos quais busca uma poética mais pessoal e de contemplação. As suas composições encontram eco nos Tentos, uma forma renascentista e pré-barroca ibérica instrumental que sempre o apaixonou pelo seu carácter misterioso, repertório rico e difícil de catalogar, e no qual a música nasce da pesquisa exploratória dos próprios instrumentos. Estes novos tentos tentados formam uma das mais bonitas obras para guitarra recentes, encantadoramente frágil, mas de escrita complexa e fascinante, propondo composições modernas, de rutura e aventura, que trazem consigo a história da música. “Tentos – Invenções e Encantamentos” é uma estreia apenas porque é este o nome que se dá à primeira obra; e como seria de esperar, há já toda uma vida dentro desta maravilhosa música.

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