O mês de setembro assinala, desde há 15 anos, o aniversário de um dos pontos centrais da cultura em Guimarães e da atividade d’A Oficina em particular, que aqui promove a generalidade dos festivais – como GUIdance, Westway LAB, Festivais Gil Vicente, Manta, Guimarães Jazz – e a programação regular ao longo do ano – contemporânea, internacional e com um foco na nova criação. Com um caminho de 15 anos percorrido (e tendo já sido epicentro da Capital Europeia da Cultura, em 2012), muito há para construir no Centro Cultural Vila Flor, neste equipamento cultural vivo, de âmbito geográfico regional, nacional e internacional, que assume a missão de cocriar, programar e produzir atividades culturais diversas no domínio das artes do espetáculo, com ampla abertura a linhas estéticas muito plurais, numa natureza de ação designada de serviço público.
O dia 12 de setembro assinala especialmente o aniversário do Centro Cultural Vila Flor com a exposição Observatório Natural a inaugurar às 18h00 nos seus jardins que se transformam num observatório da biodiversidade urbana de Guimarães. As imagens em exposição, captadas pelo fotógrafo Jorge Sarmento, foram realizadas em diferentes locais da cidade, como a Penha, o Parque da Cidade e a Veiga de Creixomil, entre outros, mostrando diferentes espécies da fauna e da flora da região.
No mesmo dia, a partir das 21h30, o palco do Grande Auditório testemunha um reencontro – 15 anos e centenas de espetáculos depois – com a voz que o inaugurou, a de Teresa Salgueiro (na altura voz dos Madredeus), que agora se apresenta num concerto especial acompanhada pela Orquestra de Guimarães. Esta coprodução d’A Oficina e da Câmara Municipal de Guimarães tem entrada gratuita, com a particularidade dos bilhetes poderem ser levantados (limite de dois bilhetes por pessoa) no dia do espetáculo, durante o horário de funcionamento da bilheteira do Palácio Vila Flor.
No fim de semana seguinte, a 19 de setembro, as honras de destaque vão para Tiago Rodrigues – recentemente distinguido com o Prémio Pessoa 2019 – que traz ao CCVF a estreia absoluta da sua mais recente encenação, Catarina e a beleza de matar fascistas, marcando-se assim o regresso do teatro a este equipamento cultural com esta que é uma ampla coprodução em que A Oficina é cúmplice.
Outubro, mês invulgar para este acontecimento, apresenta a 7ª edição do Westway LAB, a ter lugar nos dias 14, 15, 16 e 17, tendo sido transposta da primavera para o outono por força do contexto de saúde pública. O Westway LAB 2020, situado excecionalmente em outubro, apresenta assim uma nova configuração híbrida que conjuga a experiência presencial com acesso digital a importantes conteúdos. Assim, na impossibilidade de voltar a juntar, em Guimarães, artistas nacionais e estrangeiros para processos de criação sem barreiras, na abertura do festival será celebrado o legado das últimas 6 edições das residências artísticas com alguns dos seus intervenientes e colaboradores, que neste momento se juntarão no jardim do CCVF. Terá de seguida lugar um programa de concertos, adaptado às condições de segurança vigentes, a decorrer no Grande Auditório do CCVF com lugares marcados, que reunirá em Guimarães nomes e projetos artísticos como The Legendary Tigerman, Valter Lobo, Mão Morta Redux, Tó Trips, The Lemon Lovers, Miramar, Evols, Seiva e IAN, estes dois últimos em estreita colaboração com a plataforma Why Portugal.
As conferências PRO – que contarão com a participação de nomes como Roberta Medina e Rob Challice – acontecem nos dias 15, 16 e 17 e serão difundidas através de uma plataforma digital criada para o efeito pela AMAEI, Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes, de forma a mostrar mais uma vez Guimarães ao mundo. A demonstração do talento e a partilha do conhecimento seguem pois inevitavelmente neste novo contexto, onde o encontro se fará no espaço territorial e virtual, uma combinação de formas que veio para ficar.
O dia 24 de outubro (21h30) apresenta Camané & Mário Laginha (na foto) com o seu novo projeto Aqui Está-se Sossegado, sendo este um espetáculo que também viu transposta a sua apresentação, inicialmente prevista para o mês de março numa noite com uma plateia plena no Grande Auditório do CCVF. O mesmo espaço junta agora em palco estes dois pesos pesados do universo musical português para aí apresentarem o seu novo trabalho conjunto, pensado para dar mais brilho a uma voz e a um piano que se descobriram cúmplices desde a primeira vez que encheram um palco.
O sábado seguinte, 31 de outubro, à mesma hora, coloca de novo a dança em cima deste mesmo palco que lhe é tão familiar, com a peça Romeu e Julieta, a partir de Prokofiev – Romeo and Juliet – The Three Suites, que aqui será apresentada pela Útero.
Percorrendo o tempo até novembro, o dia 7 assinala a vez de Afonso Cabral visitar o CCVF para pisar o palco do seu Café Concerto às 23h00. Mais conhecido pelo seu trabalho enquanto vocalista dos You Can’t Win, Charlie Brown, Afonso Cabral revelou, em 2019, o seu primeiro álbum em nome próprio, Morada, já elogiado pela crítica especializada e que agora se poderá fazer ouvir em Guimarães, depois de também sofrer um adiamento forçado pela pandemia.
As semanas seguintes, apresentam-se vigorosas à boleia daquele que é um dos mais reconhecidos acontecimentos musicais de Portugal. Trata-se do incontornável Guimarães Jazz, que se apronta para consumar a sua 29ª edição de 12 a 21 novembro, vivendo ao longo destes dias no CCVF, onde se apresenta com mais de 100 músicos portugueses em nove concertos, decorrendo um deles no CIAJG. Este é “um festival para tempos incertos”, nas palavras do seu programador, Ivo Martins. E as circunstâncias em que se realizará a 29ª edição do Guimarães Jazz serão especialmente exigentes tendo em conta o estado excecional de emergência determinado pela pandemia que atingiu o mundo no início de 2020 e que, desde então, tem provocado alterações radicais no modo de organização da sociedade. Perante um cenário de grande incerteza, o Guimarães Jazz encara o presente contexto como uma oportunidade para o festival descobrir novos pontos de vista sobre o jazz que possam ir de encontro às expetativas e desejos dos artistas e do público. Assim sendo, o programa é centrado sobretudo em projetos que envolvem músicos portugueses e alguns músicos estrangeiros a residir em Portugal (a única exceção será a Radiohead Jazz Symphony, um conjunto de seis músicos holandeses dirigidos por Reinout Douma e que atuará em conjunto com a Orquestra de Guimarães), um formato que permite um olhar mais alargado do que o habitual sobre o panorama musical nacional e que é, ao mesmo tempo, uma forma de catalisar novas colaborações e suscitar diferentes aproximações artísticas.
A edição que se avizinha reúne em Guimarães, como habitualmente, diferentes abordagens jazzísticas, apresentando atuações de nomes como Andy Sheppard Costa Oeste, Duo Set e The Book of Void (duas formações que apresentam pela primeira vez no festival o mediático Peter Evans), César Cardoso Ensemble, o Projeto Big Band ESMAE / Guimarães Jazz, o Projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz (aqui interpretado por Hugo Raro, Miguel Amaral, Rui Teixeira, Alex Lázaro) e o Projeto Sonoscopia / Guimarães Jazz (por Miguel Carvalhais, Pedro Tudela, Gustavo Costa e Rodrigo Carvalho), juntando-se a este elenco os concertos Radiohead Jazz Symphony & Orquestra de Guimarães, Julian Arguëlles “Aqui e Agora” e Pedro Melo Alves’ Omniae Large Ensemble.
O primeiro sábado de dezembro dá a conhecer a exposição O Palácio, mostra dedicada aos 15 anos de Arte Contemporânea apresentados no Palácio Vila Flor entre os anos de 2006 e 2020, e que se estenderá neste espaço até 6 de março de 2021. Transitando para o CIAJG, no mesmo dia é possível assistir ao concerto dos Bing & Ruth, projeto do compositor e pianista americano David Moore. Os Bing & Ruth visitam pela primeira vez Guimarães para apresentar os temas que fazem parte do seu novo álbum. Dezembro reserva ainda outros destaques como a apresentação de Aurora Negra no CCVF. Este espetáculo criado por Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema foi o vencedor da 2ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, uma iniciativa promovida pelo Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), o Teatro Viriato (Viseu) e o Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), onde se estreou muito recentemente.
Fotografia: Arlindo Homem / Arquivo Glam Magazine