A Glam Magazine escolheu os 20 melhores discos nacionais de 2020

O ano de 2020 vai ficar para história pelos piores motivos, mas aparte do confinamento, pandemia, falta de concertos, etc, a música continuou presente nas nossas vidas. O ano de 2020 foi mais contido em edições discográficas mas costuma-se dizer… poucas mas boas.

Um ano de regresso de artistas veteranos como é o caso dos Três Tristes Tigres, Pop Dell’Arte ou dos Clã, mas igualmente um regresso dos veteranos da nova geração como B Fachada, Samuel Úria ou os Birds are Indie a celebrar 10 anos de carreira.
Verifica-se igualmente em 2020 um (grande) decréscimo de edições físicas em CD, sendo cada vez maior a aposta nas plataformas digitais e no vinil.
À semelhança de anos anteriores, a Glam Magazine ouviu centenas de discos durante este ano e colocou de lado aqueles que fazer parte desta lista de 20 melhores deste atípico ano de 2020.

Com ou sem surpresas, deixamos a lista dos 20 melhores. Acreditamos que muitos discos poderiam ter sido escolhidos, mas um dos fatores que pesa para esta escolha, as apresentações ao vivo, não aconteceram como todos pretendíamos. Aos que ficaram de fora, dentro da nossa linha editorial, acreditem que ficam igualmente nas nossas escolhas.

 

  1. Scúru Fitchádu – “Un Kuza Runhu”

Scúru Fitchádu não é fácil, é fúria e combate… Um caminho nunca antes pisado, com as novas linguagens a fazerem uma visita à tradição do funáná caboverdiano sem qualquer pudor numa carruagem de furiosa estética punk. “Un Kuza Runhu” foi editado logo no inico de janeiro, uma viagem atribulada, “funaná má onda” e aceleração de batidas cardíacas.

  1. Três Tristes Tigres – “Mínima Luz”

Foram precisos 22 anos para encontrar o sucessor de “Comum” dos Três Tristes Tigres. “Mínima Luz” foi editado em Maio e resultou de uma rotina quase diária de ensaios e gravações ao longo de dois anos.

  1. Birds Are Indie – “Migrations — Travel Diaries #1”

É conhecida e vincada a geografia musical dos Birds Are Indie… o seu ninho musical foi construído em forma de bedroom pop, com a folk pelo meio, numa postura DIY minimalista. “Migrations — Travel Diaries #1” surge na celebração dos 10 anos da banda que apresentou uma nova releitura de 5 faixas já conhecidas juntamento com dez novas canções mais musculadas e possantes.

  1. Selma Uamusse – “Liwoningo”

Liwoningo” (que significa luz em Chope, uma língua tradicional de Moçambique), é o segundo disco a solo de Selma Uamusse. Um trabalho refrescante, dado a conhecer no inico do verão e que aposta mais uma vez na releitura das tradições Moçambicanas. Um manifesto pela harmonia ao que nos rodeia e um olhar positivo sobre o mundo… é essa a luz de “Liwoningo”.

  1. Vaiapraia – “100% Carisma”

Vaiapraia é um herdeiro directo e assumido dos movimentos punk riot grrrl e queercore… “100% Carisma       “explora diversas temáticas como o desconcerto e a falha, a fome vs. o apetite, a insatisfação, e a autoficção enquanto pessoa queer. O disco de Vaiapraia almeja uma genealogia política  e artística do punk e dos feminismos, que é a bicha do leme destas canções.

  1. André Henriques – “Cajarana”

Cajarana” é o título do álbum de estreia de André HenriquesO músico dos Linda Martini foge da sua área de conforto e brinda os fãs com um trabalho intimista e pessoal, inspirado na alcunha que detestava mas que ganhou na escola… “Cajarana”

  1. The Twist Connection – “Is That Real?”

Duas semanas após o confinamento total em Março surgia uma pergunta em forma de disco… “Is That Real?“. Mais uma vez a capacidade da arte de preceder os acontecimentos. O disco marcou o regresso dos ‘veteranos’ The Twist Connection. Um disco musculado mais adulto e com um conjunto de ingredientes que agradaram , sem duvida, a quem desde sempre abraçou as canções da banda de Coimbra.

  1. Cabrita – “Cabrita”

Cabrita superstar… poderia ser esta a alcunha de João Cabrita, musico que faz parte de um sem números de projetos nacionais de sucesso. Mas Cabrita foi mais longe. Abraçou a família Omnichord Records e editou o seu próprio disco intitulado simplesmente “Cabrita”. O icónico e único estilo musical de Cabrita eleva-se ao tomar conta das canções que apresenta em nome próprio.

  1. Conjunto Cuca Monga – “Cuca Vida”

A familia Cuca Monga confinou como todo o país. Longe dos palcos e do público resolveram dar música entre eles e surgiu “Cuca Vida”, um disco gravado em pleno confinamento e onde “Tou na Moda” retratava na perfeição as vivências desses tempos obscuros.

  1. Primeira Dama – “Superstar Desilusão”

O Outono de 2020 surgia com uma “Superstar Desilusão“. O regresso de Primeira Dama aos discos revelou uma nova faceta do projeto, com o indie rock inspirado em Julian Casablancas e no garage rock dos nacionais Pega Monstro ou dos Veenho. Se “Desilusão” era a palavra de ordem o disco superou e muito a mesma.

  1. Mancines – “II”

Estavamos em Abril e surgia o primeiro ‘trailer’ da segunda parte da aventura musical dos Mancines. Se o cinema negro marcou a estreia, “II” desfilava uma linha mais aberta e solarenga, um disco de primavera com cheiro a verão com novas sonoridades que a banda de Coimbra arriscou, sem deixar de lado a sua sonoridade experiente, elegante e luxuosa, basta analisar os pergaminhos dos seus elementos.

  1. Da Chick – “Conversations with the Beat”

Não fosse a pandemia e “Conversations with the Beat“ tinha brilhado pelas mais diversas salas nacionais. Um regresso de Da Chick que como a própria referiu na altura “ Este álbum surge de uma necessidade de provar a mim mesma que seria capaz de produzir música sozinha. Foi uma viagem demorada de quem está ainda a aprender muito, e julgo que a sonoridade do álbum reflecte esse espaço aberto para criar”

  1. Noiserv – “Uma Palavra Começada por N”

Setembro foi o mês de David Santos, ou melhor de noiserv, com a apresentação final de “Uma Palavra Começada por N”, disco que foi divulgando ao longo dos meses em pequenos pedaços como se de um puzzle se tratasse. Um disco complexo, mais adulto, em português e que mais uma vez fez avivar a memória dos momentos mais intimistas, marcados pela habitual melancolia harmoniosa de noiserv.

  1. Samuel Úria – “Canções do Pós-Guerra”

Dizem que a arte tem a capacidade ou o recurso de preceder os acontecimentos. “Canções do Pós-Guerra” que saiu mais tarde do que estava inicialmente previsto surgiu como intervalo na guerra que se travou em 2020… ou talvez não       Um disco como o própria Samuel disse, obriga a quem o ouve a olhar para si próprio e descobrir qual a guerra que travou. Provavelmente o disco “fica aquém” de quem aguardava este regresso, mas Samuel não deixou os seus créditos de lado, e confirmou mais uma vez a sua audácia em escrever (boas) canções.

  1. B Fachada – “Rapazes e Raposas“

6 anos depois do seu último disco e sem anuncia, B Fachada refugia-se no Alentejo e apresenta “Rapazes e Raposas”. “Rapazes e Raposas “ é aquele disco de B Fachada, uma obra adulta e consistente mas sempre com a linha contestatária e impulsiva do musico que deu uma nova vida à viola braguesa. 15 canções com muitos “Prognósticos” e sem esquecer os “Lambe-Cus

  1. Filipe Sambado – “Revezo”

Foi um dos primeiros lançamento do ano de 2020 e durante meses manteve o estatuto como o melhor do ano mas depois aconteceu… o “revezo” . A palavra “revezo” pode ter os mais diversos sentidos, quer seja na forma de voltar atrás ou igualmente de reverter uma situação. No caso de Filipe Sambado, provavelmente é um reversão que o fez regressar às origens…. ou talvez não.

  1. David Bruno – “Raiashopping”

Em finais de 2019, a Glam Magazine celebrava o disco do ano ao som de David Bruno com “Miramar Confidencial”. 12 meses depois David Bruno alcança um quarto lugar com uma aventura musical que se desprende de Gaia e navega pela “Raiashopping“, um disco onde o artista dá um passo atrás na sua árvore genealógica, inspirado em histórias pessoais vividas num Portugal profundo, selvagem e desertificado.

  1. Capicua – “Madrepérola”

Capicua é a rapper feminina mais conhecida de Portugal. “Madrepérola” é um disco solar, repleto de colaborações surpreendentes que expandem o universo musical único de Capicua, que brinda o publico com uma escrita emotiva e politicamente engajada, e por uma clara atitude feminista. O álbum reflete igualmente outro lado da mulher, que é mãe e que canta “Madrepérola”, título que é uma clara alusão à maternidade.

  1. Benjamim – “Vias de Extinção”

Vias de Extinção” é provavelmente o melhor trabalho da carreira de Luis Nunes. O escritor de canções colocou a guitarra num canto, fez as pazes com o instrumento de sempre, o piano, e com a sua velha paixão, o velho e pouco fiável sintetizador Roland Jupiter 6. “Vias de Extinção”, editado neste atípico ano de 2020, é um disco cru e duro, longe das festividade musical dos anteriores trabalhos de Benjamim, mas ao mesmo tempo um erdadeiro hino pop com harmonia e a elegância que Benjamim tem aperfeiçoado a escrever canções para um conjunto cada vez mais alrgado de artistas.

  1. Clã – “Véspera”

O confinamento tem destas coisas… “Vèspera”, é sem duvidas, o disco deste estranho ano de 2020  para a Glam Magazine. Editado em pleno confinamento, e que mereceu um grande destaque, foi ouvido de uma ponta a outra, com a atenção que um novo disco dos Clã merece. As canções dos Clã preenchem aquele vazio emocional existente, quer pelas derivas pop dos seus temas, quer pelas canções de amor desalinhadas, que exprimem os sentimentos mais pessoais, contadas na primeira pessoa, mas sem destinatário em concreto. Em “Véspera”, a voz de Manuela Azevedo serviu poesias de um luxuoso leque de autores, desde Sérgio Godinho a Samuel Úria, passando por Capicua.

 

 

 

 

 

Partilha