Simple Minds… As boas canções nunca morrem

A Super Bock Arena recebeu esta terça feira, 30 de julho, uma noite de festa, eufórica e animada, que transpira qualidade e nostalgia, sem se deixar levar pelo passado. Uma prova viva que os Simple Minds são uma banda de palco, uma banda que destila energia para o seu público.

Perante uma sala que ainda recebia algum público, não habituado a horários britânicos, os músicos entram no palco na semi-escuridão para ocuparem os seus lugares. Quando Jim Kerr se segue, ouve-se um rugido de reconhecimento por parte do público. Os inconfundíveis acordes iniciais de “Waterfront” dão vida à Super Bock Arena. Kerr é banhado em luz e o público levanta-se em massa. Alguns ficam de pé durante quase todo o concerto. O porquê de este ser um concerto sentado continua a ser um mistério.

Once upon a Time” e “Mandela Day” mantêm o ritmo inicial apresentando a impressionante segunda vocalista Sarah Brown pela primeira vez esta noite.

Glittering Prize”, “Promised You A Miracle” e a faixa-título “New Gold Dream” seguem-se em rápida sucessão. É como um mini set dentro de um set, culminando com a baterista Cherisse Osei sozinha em palco para um solo impressionante.

O concerto na Super Bock Arena assenta fortemente nos álbuns clássicos dos Simple Mind dos anos 80. Apesar de lançarem regularmente novas canções ao longo das décadas seguintes, há muito pouco, ou nada, dos anos 90 em diante.

Jim Kerr e Charlie Burchill, membros fundadores da banda, já passaram dos sessenta anos. Podemos não ter em palco a energia de um Dickinson ou de um Jagger, mas Kerr está constantemente em movimento. Ele é o epítome de um frontman carismático, que nos brinda com uma verdadeira postura ‘rock n’ roll’.

Nada é apressado em palco, é como ver os movimentos em camara lenta para ter e sentir mais efeitos, de forma brilhantemente eficaz. Também Burchill é uma presença constante nos movimentos em palco. A sua forma de tocar e os seus solos sucintos não exibem nenhuns movimentos de alta velocidade. São comedidos, de bom gosto e concebidos para causar impacto junto do público.

Belfast Child” acaba por abrandar o ritmo do concerto. É emotivo e evocativo, destacando-se por algumas projecções monocromáticas. Torna-se sem dúvida o ponto alto da noite mostrando como é possível criar uma melodia forte, partindo de um universo folk e tradicional.

Mas a noite era de um concerto dos Simple Minds, o abraço fraterno da empatia folk de “Belfast Child” dá lugar à energia de “Someone Somewhere”, fechado com o iconico “Don’t You (Forget About Me)” em que o público eufórico, dá vida própria ao tema. Os “La, la, la’s” espontâneos ecoam alto e bom som em sequencias longas e animadas. Jim Kerr parece genuinamente comovido referindo que o público tinha estado a ensaiar de manhã no chuveiro.

Regressam para o encore com “Book Of Brilliant Things”, Sarah Brown assume o centro do palco para uma atuação cheia de emoção. “See The Lights” simplesmente aumenta essa emoção, mas os Simple Minds, no seu melhor, geram euforia junto do público. O golpe final chama-se “Alive and Kicking”, onde assumimos que somos verdadeiramente um público “perdido na música”.

A atuação desta noite recorda-nos o impressionante e intemporal catálogo sonoro que os Simple Minds possuem, mas, tão importante quanto isso, realça a classe do grupo; uma banda verdadeiramente fantástica ao vivo. As boas canções nunca morrem.

🖋 Sandra Pinho

📸 Paulo Homem de Melo

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