Todos os anos existe um local de peregrinação no norte de Portugal. As margens do rio Taboão continuam ao fim de 25 anos a marcar um regresso a “casa” para muitos, para os verdadeiros amantes da música que se envolvem mais uma vez no Habitat natural da Música…. o Couraíso. Um chavão mais que ‘batido’ mas sempre atual ano após ano, e já lá vão 25.
Como habitualmente, o primeiro dia contou com apenas 1 dos palcos a fazer parte da programação. Um dia de enchente, muito longe dos anos anteriores em que a ‘quarta-feira’ funcionava como o warm up do festival, mas isso agora é reservado para os concertos que acontecem na vila nos dias que antecedem o festival.
Um primeiro dia com 2 nomes nacionais, celebrando a música de maneiras distintas, por um lado a juventude em palco do projeto de Braga, Grandfather’s House, por outro lado o culto de Linda Martini, que se deu a conhecer como pessoa no inicio deste ano. A nível internacional a estreia de Marlon Williams, o regresso de King Gizzard & The Lizard Wizard e a electrónica dos The Blaze a completar o cartaz para este primeiro dia de festival.
Pouco passava das 18.00 horas quando as grades se abriram para deixar entrar todos aqueles que chegavam, com uma pressa ligeira, ao anfiteatro natural da música. As correrias não eram muitas, pois os fãs repartiam-se pela panóplia de opções que seriam apresentadas neste início de festival. Algumas alterações no recinto esperavam os festivaleiros que ano após ano encontram refúgio no já referido ‘Couraiso’. De salientar que a entrada do recinto está bem mais acessível. (clique na imagem para ver a galeria completa)
A abrir o palco principal, o projeto nacional Grandfather’s House, que regressou ao festival pela terceira vez, desta feita ocupando o lugar de destaque que a banda de Rita e Tiago Sampaio merece, depois de já ter percorrido os outros palcos do Vodafone Paredes de Coura nos últimos anos. Um segundo disco mais elaborado, uma presença em palco sem reparos e um convidado de excelência no saxofone, João Cabrita. A indie pop do colectivo de Braga soube mais uma vez conquistar um público que por norma se encontra tímido ao final da tarde. Música para ouvir, sentir e sobretudo absorver com a poderosa vocalização da Rita a dar ênfase às canções da banda.
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Feitas as apresentações ao público, a 26ª edição do Vodafone Paredes de Coura abria as portas a Marlon Williams. Marlon Williams, conhecido pelo Elvis de Lyttleton ou Roy Orbison de Christchurch, era um dos nomes mais aguardados para este primeiro dia do Vodafone Paredes de Coura. Chegou da Nova Zelândia e dominou o final da tarde do ‘couraíso’. Country, soul, folk e pop, em temas carregados de narrativas rodeadas por atmosferas indie numa harmonia plena com o final de tarde que brilhava atrás do palco.
Marlon Williams apresentou as canções de “Make Way for Love”, o seu mais recente álbum, onde o neo zelandês canta de coração partido, onde o relato sincero e dramático sobre o fim de uma relação amorosa e todos os sentimentos que daí surgem. Se ele cativou a audiência? Sim cativou .. emocionando o público que acompanhou Marlon nas suas canções, transmitindo energia envolvente ao longo de 60 minutos, nesta sua estreia em Portugal. Não sendo um dos nomes maiores para este primeiro dia, Marlon deixou a sua marca no festival, abrindo estradas para um regresso a terras lusas.
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Da melancolia ao grito de revolta de Linda foi apenas uma fracção de tempo. O segundo nome nacional da noite soltou as suas emoções e revoltas em formato canção. Linda Martini de seu nome, a banda assinalava de forma imponente o seu regresso a Paredes de Coura. Com um álbum novo, homónimo e que deu a conhecer de modo figurativo a Linda Martini, a banda de Hélio Morais, e não só, conseguiu sem grandes artifícios conquistar um anfiteatro que já se encontrava bastante preenchido. A “gravidade” deu o mote para o início do concerto que percorreu os temas mais relevantes do novo disco, sem esquecer algumas incursões por alguns dos temas mais carismáticos da banda de Claúdia Guerreiro. Abrasivos em palco mas munidos de um equilíbrio em elementos com o ritmo e a melancolia das suas canções, bem patentes neste concerto e nos temas do 5º disco, de seu nome “Linda Martini”. Talvez um dos melhores concertos que a banda já apresentou.
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A noite prometia e era de Melbourne que chegava King Gizzard & the Lizard Wizard. Rock energético puro e bruto, psicadelismo qb e uma presença em palco capaz de mobilizar dezenas de festivaleiros a desafiar a gravidade e literalmente “voar” em direção ao palco. “Polygondwanaland”, “Murder Of The Universe”, “Gumboot Soup”, “Flying Microtonal Banana” os 4 álbuns de 2017 foram o suporte para mais de 60 minutos de energia contagiante com loops frenéticos. Foi ao som de “People-Vultures” que as descargas tiveram início mas o ‘orgasmo sonoro’ do concerto acontece com o tema de 2014 “Cellophane”. Crowd Sufing desenfreado, moshes e muito pó… no ar.
A fechar o palco principal, único no primeiro dia, os primos Guillaume e Jonathan Alric, mais conhecidos por The Blaze, chamaram a atenção com as suas produções filmográficas e uma perspectiva da música de dança que consegue ser sensível. O concerto juntou imagens á música em vídeos estranhos e conceptualmente provocadores.
Foi o culminar de uma primeira noite com muito rock à mistura, com descargas de energia constantes, canções de amor não correspondidas e electrónica dançável, entre a celebração e a contestação em forma de música no Festival Vodafone Paredes de Coura.
Reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo