Wolf Alice no Coliseu dos Recreios… uma explosão rock em noite de Halloween

Wolf Alice no Coliseu dos Recreios: uma explosão rock em noite de Halloween. Em aproximadamente hora e meia, a banda britânica deu em Lisboa um dos melhores concertos do ano em solo luso.

Os Wolf Alice atuaram pela segunda vez este ano em Portugal, depois de terem feito a primeira parte do concerto de Harry Styles na Altice Arena em julho. A banda de Ellie Rowsell (voz e guitarra), Joff Oddie (guitarra), Theo Ellis (baixo) e Joel Amey (bateria) apresentou “Blue Weekend” (2021) para um Coliseu bem composto e entusiasmado por finalmente poder ver os britânicos, depois de estes terem adiado o concerto – inicialmente marcado para março – devido a uma reestruturação dos planos de tournée provocada pela situação pandémica.

 

Pouco passava da hora marcada quando o quarteto, acompanhado por Ryan Malcolm nos teclados, entrou no palco. Todos com a cara pintada, já que a noite era de Halloween, arrancaram com a vertiginosa “Smile” (de “Blue Weekend”), seguindo-se “You’re a Germ” (de “My Love is Cool”, 2015) e “Formidable Cool” (de “Visions of a Life”, de 2017).

Não será por acaso que os britânicos se sentiram confortáveis para atirar, desde logo, uma música de cada um dos seus três álbuns. Numa ainda curta carreira, os Wolf Alice têm sido bastante aclamados pela crítica e amealhado cada vez mais fãs. Após “Visions of a Life” ter arrecadado um Mercury Prize para Melhor Álbum, seria difícil imaginar que “Blue Weekend” poderia ser ainda mais consensual – o que, definitivamente, aconteceu.

 

O último longa-duração da banda é um dos trabalhos mais interessantes que já viram a luz do dia nesta ainda curta década. Numa conceção marcadamente rock, a banda passa, em 11 faixas, pela influência do grunge, pelo showgaze, pela balada rock e também pela pop, numa produção polida que permite criar coerência em tamanha diversidade.

O primeiro momento de elevado êxtase deu-se mal soaram os primeiros acordes de “Delicious Things”, um dos melhores temas – se não o melhor – de “Blue Weekend”. O entusiasmado público entoou em uníssono e a plenos pulmões o coro que antecede os primeiros versos, para regozijo da banda, alegre e visivelmente contagiada pelos fãs que se deslocaram ao Coliseu.

 

A comoção surgiu na belíssima “Planet Hunter”, sobretudo quando Ellie Rowsell arrancou para o refrão “Am I a planet hunter / or a brave deviator?”. A resposta para a questão não temos, mas sentiu-se que os corações estavam a encher.

Pouco depois, Theo Ellis levou ao rubro os presentes ao declarar que tinha estado “todo o fim de semana a sonhar com um público assim.” Seguiu-se “Bros”, onde versos como “Stick it out together, like we always do” e “There’s no one quite like you” fizeram perfeita conexão com o que o baixista havia dito – e, sim, não há muitos como os Wolf Alice.

 

Mais à frente, numa sequência de temas de “Blue Weekend”, destaque para “How Can I Make It OK?”, onde o new-age à lá Enya soou mais rockeiro, naquele que será um dos maiores protótipos de hino de estádio presentes na discografia dos Wolf Alice. Já “Play the Greatest Hits”, tema que busca inspiração no grunge de Seattle, levou à maior descarga de energia de uma plateia em plena ebulição.

Estava ainda guardada uma incursão por um trio de temas com influência shoegaze: a introspetiva “Feeling Myself”, o final perfeito de “Blue Weekend” (de seu nome “The Beach II”) e a muito celebrada “Silk”. Mais à frente, pouco antes do fim do primeiro ato, ligaram-se as lanternas dos telemóveis para a emotiva “No Hard Feelings”, esta que já havia sido momento grande quando, na Altice Arena, Harry Styles a cantou com Rowsell.

 

Antes de saírem pela primeira vez do palco, “Giant Peach” foi mote para um pequeno moshpit, de uma audiência visivelmente extasiada, ainda para mais depois de Theo Ellis a ter voltado a elogiar, compreensivelmente enternecido. Theo e Joff, aliás, mostraram-se sempre muito enérgicos, em clara consonância com o público, puxando e sendo puxados por este.

Os presentes queriam mais, com repetitivos saltos fizeram estremecer o chão do Coliseu e a banda voltou com a estreia, na era “Blue Weekend”, do tema “Lisbon”. Apesar da faixa retirada de “My Love is Cool” ser uma referência ao apelido das irmãs protagonistas do livro The Virgin Suicides, e não à capital portuguesa, movimentos foram criados para se ouvir em Portugal esta que é uma das melhores faixas de “My Love is Cool”. Só temos que agradecer!

 

O fim aproximava-se e os dois últimos temas foram os mais entoados da noite. Primeiro a lindíssima balada “The Last Man on Earth”, onde a emoção fez algumas das pessoas presentes levarem a mão ao peito. Faz-nos todo o sentido: é quase como se de cantar o hino se tratasse.

Para fechar com chave de ouro, o enorme sucesso “Don’t Delete the Kisses” foi acompanhado de uma ponta à outra, numa tarefa hercúlea, dada a rapidez com que são cantados os versos. Este é um hino ao amor que faz jus àquilo que é o quarteto: uma banda que se apresentou em palco com uma imensurável entrega e dedicação ao público que tão bem a recebeu.

 

Após abandonarmos o Coliseu, temos noção de que vimos um dos melhores concertos do ano em Portugal. Os Wolf Alice, para além de serem a banda rock britânica mais entusiasmante desde os Arctic Monkeys, têm o dom de conquistar ainda mais aqueles que, muito provavelmente, já chegaram convertidos aos seus concertos.

Não sabemos o que ditará o futuro, porém é de espantar que os Wolf Alice não estejam já a esgotar arenas pelo mundo fora. A dúvida persistirá até a um novo registo de originais, mas diríamos que estão a uma Do I Wanna Know? de o conseguir.

Reportagem: João Maia

Fotografias: Paulo Miranda

 

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