Sai a 7 de junho o resultado de uma já há muito desejada colaboração entre a Discos Extendes e a Lovers & Lollypops: um split que coloca, lado a lado, dois dos mais prolíficos artistas nacionais dos últimos tempos: Bruno Silva e o seu projeto Serpente e João Pais Filipe, aqui em colaboração com Leon Marks e Valentina Magaletti sob a insígnia CZN.
Dois projetos que cresceram em paralelo, mas partilhando um interesse comum pelo ritmo e a riqueza das texturas e timbres da percussão. Projetos com semelhanças inegáveis. A antecipar a edição de “Oferendas” liberta-se o pre-order do disco, ao mesmo tempo que se mostra um dos temas nela incluídos: “Em Vida Traz”, uma colaboração de Serpente com Maxwell Sterling.
“Oferendas” é um disco onde uma certa ritualidade e o avant-garde parecem querer construir uma hipnótica paisagem emocional, tensa e atribulada. No lado A, os temas de Serpente constroem-se através de uma programação de baterias muito livres e algo dispersas que, assentando em polirritmos, criam uma imagem de um ritmo em constante mutação. Nele os acidentes causados pelo clash dos diferentes padrões rítmicos geram momentos de riqueza que mantêm os temas num fino equilíbrio entre a sua a sua rica identidade e desenvoltura estética, e a eventualidade da sua própria desintegração.
No lado B, CZN apresentam-se da forma a que já nos habituaram, enredados na força de um ritmo intenso, constante e metronomicamente rigoroso cujo pendor hipnótico resulta da insistência na sua própria repetição. Se em Serpente falávamos de uma liberdade no ritmo que poderia levar a sua fragmentação, em CZN essa mesma fragmentação parece inimaginável. Denso, pesado e concêntrico, o ritmo e as suas constantes mutações parecem poder se repetir indefinidamente, como um vector.
📸 Sara Vitoria
