Saur + Quelle Dead Gazelle no Sabotage…

Saur e Quelle Dead Gazelle ocupam o sabotage Club já no dia 7 de Abril. Paulo André Cecílio  e Quim Albergaria deixam aqui em traço gerais 2 visões distintas do inquilinos do Sabotage para uma noite de sábado.

Se olharmos atenciosamente para aquilo que nos rodeia, encontraremos diversas máquinas do tempo, carregadas das memórias do passado. Uma árvore centenária guarda, nos seus anéis, histórias atrás de histórias de gerações, os seus amores, as suas guerras, a sombra que apreciaram ou o fruto que comeram. Num prédio antigo habitam milhares de passos, de conversas, de pensamentos.

O próprio ar tem inscrito, em cada átomo, algo aparentemente perdido – até que alguém o encontre ou reencontre. Na arqueologia, há o âmbar: dourado e belo, memória fossilizada de tempos imemoriais, quando o homem não remoía ainda a terra. Em cada pedaço de âmbar há o reflexo de uma criatura majestosa, não pelo tamanho, mas pelo seu significado na história da evolução, do mosquito ao dinossauro mais feroz. Na música, há agora Âmbar: o retrato tardio de uma banda que se viu forçada, por todas as razões e mais algumas, a interromper o seu percurso durante vários anos. Vários? Parece que foi ontem: linhas de baixo gostosas, guitarras eléctricas a descobrir o vento, a bateria cuidadosamente posicionada. Tudo isso, e mais. Tal como na arqueologia, Âmbar conta a história da evolução dos SAUR, do pós-rock de garagem para algo bastante mais idiossincrático, coeso. Se não tivessem parado, talvez não tivessem até aqui chegado. Assim como um pedaço de âmbar não seria estudado se tivesse perdido a batalha para a natureza.Tudo para provar que, por vezes, aquilo que é mais antigo é o que mais deve ser valorizado, seja um velho sábio cujas ideias inspiram a novidade ou um fóssil a partir do qual aprendemos mais sobre nós próprios. Âmbar é uma lição: o tempo que passa não interessa; interessa a forma como se repercute no presente. Se foram cinco ou mais anos desde a última vez não interessa; interessa que os SAUR estão aqui, agora, mais fortes do que nunca. Dourados, e belos, como nunca quiseram deixar de o ser.

Paulo André Cecílio

Entre o Serengueti, Chicago e Lisboa há uma planície enorme.Ampla, com um horizonte a perder de vista. Nessa planície corre uma gazela. Lisboa sabe misturar e na cabeça do guitarrista Pedro Ferreira e do baterista Miguel Abelaira, pôs as cadências sincopadas dos ritmos africanos a encontrarem-se com os sons da desconstrução que a aventura pós-rock ofereceu às gerações futuras. Sobre a frecha onde se encontram estas duas placas tectônicas, passado e futuro, peles e electricidade, os dois músicos começaram em 2012 a tocar e trocar ideias. No mesmo ano lançaram o single “Afrobrita”. Os Quelle Dead Gazelle começam assim a correr e ainda não mostraram sinais de falta de fôlego. Em 2013 o primeiro EP gravado e produzido com os produtores Makoto Yagyu e Fábio Jevelim, leva-os aos palcos do Optimus Alive, Milhões de Festa,  Paredes de Coura e Serralves em Festa. Com mais de 50 concertos dados, chegam ao final de 2015 com sede. Sede de subir a barra num novo disco e de o mostrar ao vivo. “Maus Lençóis” é o primeiro longa duração da banda e regista o re-encontro do duo de músicos Ferreira-Abelaira com o duo de produtores Yagyu-Jevelim desta vez no estúdio HAUS. O novo disco traz o adensar do vocabulário que “Afrobrita” iniciou e mostram a “gazela” em controlo, força e graça. Quelle Dead Gazelle lança “Maus Lençóis” em Abril e em Abril lança-se à estrada, porque a planície por onde correm ainda tem muito por mapear.

Quim Albergaria

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