Num período particularmente rico na criação de Tiago Sousa – as explorações sonoras da série “Organic Music Tapes” assim o comprovam -, “Ripples On The Surface” ouve-se como um estágio de salto.
Habituado a compor com um desejo de procura e descoberta, o pianista e compositor está desde 2006 – ano em que começou a editar em nome próprio – num processo de constante evolução. Isso acontece de forma aberta, partilhável, a sua música existe como um acontecimento relacionável, genuíno e honesto.
Por outro lado, “Sunflowers” bate – sobretudo nos seus primeiros minutos – como uma homenagem a Manuel Göttsching se este tivesse desligado o botão house em “E2-E4”.
As intenções de novidade podiam ficar-se por aqui. Mas em “Red Pine” Tiago Sousa volta a surpreender com uma peça mais aberta que liberta da tensão – ou da beleza ofegante, conforme se queira ver – de “Sunflowers”. Há qualquer coisa de triunfante que começa, como se a primeira peça fosse um grito de elevação e o que se segue um abraço ao belo e a emoções que o pianista pretende revisitar.
Como se tudo o que vem depois de “Sunflowers” fosse uma segunda parte, uma forma de Tiago Sousa apaziguar a catarse da abertura: voltando ao pianista que conhecemos de outros álbuns, mas desafogado e sem qualquer peso nos ombros. “Blossoms” não é um lugar estranho no seu espólio, mas nunca o revelou de forma tão relaxada e desconcertante. No final, “The Time Binder” fideliza uma ideia de infinito que parece romper a cada momento de “Ripples On The Surface”. E se dúvidas até aí existiam, no último tema concretiza-a com grandeza. Termina-se com as mesmas certezas: Tiago irá para outro lado, certamente, depois disto. Felizmente passámos por aqui…
“Ripples On The Surface” é uma edição Holuzam disponível em CD e digital a 11 Novembro de 2022