ProfJam protagonizou duas noites inesquecíveis para quem as presenciou na Aula Magna

O autor de Música De Intervenção Divina apresentou o seu último disco num concerto duplo especial, perante uma Aula Magna de lotação esgotada em ambas as noites.

 

A história repete-se quando não quer cair em esquecimento. E como se uma noite não bastasse para fazer história, ProfJam protagonizou duas igualmente inesquecíveis para quem as presenciou na Aula Magna, dias 16 e 17 de fevereiro, ambas de lotação esgotada e de plateia completamente extasiada. Vir, ver e agradecer de parte a parte — um pelo público incansável que o segue cada vez mais convicto do seu valor incalculável, os outros rendidos ao “mestre” que a cada aparição faz crer que nada é garantido, no melhor dos sentidos.

 

As aparições, essas, foram gloriosas. Melhor entrada seria inimaginável, com o palco da Aula Magna a abrir-se para a dimensão de onde veio Mário Cotrim. Cabeça em chamas de tons vermelhos e azuis davam cor à figura negra que emergiu à boca de cena para dar início à magna aula. ProfJam fez do púlpito seu posto do início ao fim, sem se prender numa só estação cénica. E, para apresentar Música De Intervenção Divina na sua plenitude, fez uso de todos os meios que dispunha em palco — do magistral cadeirão em que se foi sentando, a contemplar o acontecimento em tempo real, até aos bastidores abertos que serviram de portal para a entrada e saída de ideias materializadas na hora.

 

Foi MDID o centro deste universo criado e replicado pelo respetivo autor nas noites de sexta-feira e sábado, álbum editado no quinto dia do quinto mês do ano passado com 25 faixas — cada uma delas em absoluta evidência neste espetáculo duplo. Porque cada uma mereceu uma performance única, exclusivamente pensada para o próprio tema em questão, muitos deles abrilhantados pelos contributos dos 2LO — dupla composta por Gonçalo Lemos e Leonardo Pinto, dois dos principais arquitetos sonoros do quinto trabalho de Mário Cotrim — e do quarteto de músicos liderado pelo maestro Tiago Matos.

 

ProfJam levou-nos ao céu com “FEHÉR” e ao inferno com “CABARET”, puxou-nos para as profundezas do oceano em “DAKAR” e incendiou a sala com “AZTECA”. Foi também ele maestro, dançou sem rei nem roque, envergou a guitarra elétrica como verdadeira estrela rock que é, deu palco aos seus aliados Wheelie GADS para um autêntico show de freestyle a uma roda ao som de “SACA LÁ”, desdobrou-se em múltiplos registos para os variadíssimos momentos que o espetáculo pedia, e encheu ele o palco com toda a energia, todo o carisma e toda a destreza que o caracterizam.

 

É o que o distingue dos demais: na vanguarda da experimentação, nunca se coíbe em dar um salto de fé quando a sua crença artística fala mais alto. Os resultados, apesar de consequência — e não razão de ser — da sua visão, têm-no recompensado à medida da sua entrega. Ver uma legião totalmente envolvida e incondicionalmente rendida é a prova cabal do verdadeiro sucesso, palpável, que não se mascara em números nem se dissipa ao sabor das tendências. A história não se apaga, e para fazê-la há que ter a devida coragem. E coragem não faltou a Mário Cotrim a subir e assumir o palco da Aula Magna por duas vezes, com um espetáculo idealizado sem impossíveis, concretizado sem falhas e apreciado sem reservas. Caso para dizer, como acontece em todo e qualquer acontecimento histórico, só quem lá esteve terá consciência da importância do momento. Mas que história foi feita, isso ninguém lhe tira.

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