Os Melhores discos do Ano (Parte III)

Todos os anos a Glam Magazine escolhe entre todas as edições nacionais, aqueles que considera os melhores discos do ano da música Portuguesa.
Mais de 100 discos nacionais foram ouvidos e analisados ao longo do ano de 2017 para ficar uma lista com apenas 30 discos cuja classificação é apresentada.
Estes são os 10 primeiros….

10 – Dear Telephone – “Cut” (Outubro 2017)

“Cut”… Feito de uma mistura fina entre tensão e contemplação. Neste novo lugar dos Dear Telephone os uníssonos desapareceram e o André recuou para a Graciela, como na belíssima capa, avançar e assumir a voz do grupo. A música ganhou mais espaço para respirar e divagar, mas o toque para as canções eficazes permanece intacto mantendo a capacidade para, dentro do mesmo tema, nos transportarem à estratosfera para depois, suavemente, nos fazerem aterrar.

9 – Flying Cages – “Woolgather” (Março 2017)

Os Flying Cages ouvem-se com uma eterna saudade da adolescência, com um desejo de querer perpetuar uma altura da vida que não volta mais. “Woolgather” é o segundo álbum do grupo formado em Coimbra, que nos transporta para a alegria da simplicidade festiva da música. E a refinação faz-se sentir em “Woolgather”. “Well shaved armpit” serve as honras do álbum, com um riff dançável e memorável que nos transporta para as sonoridades mais primaveris. O selo de apresentação do disco é música para acompanhar numa longa viagem num dia de calor, de vidro aberto. As guitarras ouvem-se com uma aguçada alegria emprenhada nelas.

8 – Orelha Negra – “Orelha Negra” (Setembro 2017)

Se no seu álbum de estreia ofereceram uma visão completamente nova e singular da mais moderna música urbana pós-Hip Hop, assente numa inesperada dialética entre o sampling via MPC, o gira-disquismo e a orgânica live dos seus intérpretes de exepção, e na exploração da canção que se liberta da sua escrita tradicional (mas que se quer manter canção), produzindo uma das mais históricas obras da nova cena nacional, com largo alcance além-fronteiras, isso não os conformou. Transportaram a experiência para os palcos com um impacto notável. Deixaram que esse exercício passasse a ter o peso certo no seu processo criativo, levando-os por caminhos que nem eles teriam antevisto

7 – Frankie Chavez – “Double Or Nothing” (Maio 2017)

“Double or Nothing” é, segundo Frankie Chavez, “um álbum de histórias que vão desde a perda ao nascimento, ao andar na estrada, ao tempo que perdemos em coisas fúteis. Fala também de amor e de relações impossíveis. E fala de atentados terroristas e de privação de liberdade. As ideias começaram a surgir logo em 2014, após Heart & Spine, tendo sido gravado ao longo do ano passado. O álbum foi gravado sem grandes preocupações de como o tocaríamos ao vivo. O objetivo era escrever boas canções e tentar que soassem o melhor possível no disco. Depois logo se verá como as iremos apresentar ao vivo.” “Double or Nothing” é também um disco de maior maturidade para Frankie Chavez, enquanto artista e pessoa

6 – Grandfather’s House – “Diving” (Setembro 2017)

“Diving” é o  resultado de uma residência artística no espaço gnration (Braga), contando com as participações de Adolfo Luxúria Canibal, Nuno Gonçalves e Mário Afonso, na voz, teclados e saxofone, respectivamente. Com um método de composição mais complexo, que contou com a participação de mais um elemento em todos os temas, o músico convidado, Nuno Gonçalves (teclas), explora assim, uma sonoridade mais densa.

5 – Surma – “Antwerpen” (Outubro 2017)

Em dois anos e meio, Débora Umbelino levou o seu projecto solitário de exploração de sons, Surma, até 7 países em mais de 150 concertos. Tinha apenas o single “Maasai” quando começou a gravar o disco de estreia e todo o caminho traçado até aquela altura lhe parecia um período zero que a tinha deixado apenas com vontade de avançar ainda mais numa demanda cada vez mais sua. Enquanto one woman band que domina teclas, voz, cordas, pedais e botões, e não se deixa ficar num ou noutro género musical, Surma preparou o seu registo de estreia “Antwerpen” como se estivesse num laboratório, observando cada reacção sonora de cada nota e de cada instrumento, criando a partir daí. Em colaboração com a Casota Collective, que integra elementos dos First Breath After Coma, construiu uma renovada identidade sonora e visual, da qual “Hemma” foi o primeiro cartão de visita.

4 – Slow J – “The Art Of Slowing Down” (Março 2017)

Slow J conquista o seu espaço e o seu lugar com “The Art Of Slowing Down”. A vida como ela é, é aquilo que João Baptista traz. “The Art of Slowing Down” é muita coisa. É com certeza Hip Hop mas cingi-lo a essa caixa seria castrar a genialidade desta edição independente, editada em parceria com a Kambas e totalmente produzida por Slow J. “The Art Of Slowing Down”é João Coelho (aka Slow J) de uma ponta à outra, é Fado, é Rock, é Semba, é Jazz mas é também cada um que o ouve e se identifica através de cada uma das palavras cantadas pelo setubalense.

3 – Benjamim & Barnaby Keen – “1986” (Maio 2017)

“1986” é constituído por oito canções escritas e interpretadas por ambos. É um exercício de partilha: Benjamim faz coros em inglês das canções de Barnaby e este empresta o seu sotaque brasileiro quebrado para fazer vozes em português nas canções de Benjamim. Os dois tocam quase tudo nos temas um do outro, escolhendo o melhor das capacidades de cada um, seja no saxofone, no piano ou na bateria. Os dois músicos, nascidos em 1986, cruzaram-se pela primeira vez em 2012, num cinema de Brixton, no sul de Londres, e selaram amizade a partir do gosto comum por um disco de Chico Buarque. Barnaby Keen viveu no Brasil durante seis meses, onde descobriu o amor pela língua portuguesa e pelos mestres do samba e da bossa nova

2 – Moullinex – “Hypersex” (Outubro 2017)

Moullinex estende o processo criativo a vários convidados: Fritz Helder (Azari & III), Georgia Anne Muldrow (Flying Lotus, Mos Def), UhAhUh ou Tee Flowers, com quem colabora pela primeira vez, e também Iwona Skwarek (Rebeka), Best Youth, Marta Ren e Da Chick, antigos cúmplices. Na companhia de cada um destes convidados aborda diferentes facetas da sua paixão pelo groove: House solarengo, psicadelismo tropical com curvas MPB, Soul moderno com toda a escola Motown, melodias jazzísticas mas que nunca se levam a sério: todos irresistivelmente dançáveis.

Esta ideia de promiscuidade construtiva fruto da pista de dança materializa-se na identidade gráfica de “Hypersex”. Há algo de comum na abordagem ao conceito do álbum: levantar questões sobre o papel histórico, cultural e sócio-político da cultura da música de dança e das suas diversas manifestações culturais na sociedade, e em cada um de nós enquanto animais-sociais.

1 – Luis Severo – “Luis Severo” (Março 2017)

“Luis Severo”, segundo trabalho de Luis Severo, é aqui resumido pelo mesmo… “Já sabia que o Diogo Rodrigues iria gravar o disco comigo. Ele era já carta certa nos meus concertos ao vivo e anfitrião de Alvalade, estúdio que também tinha passado a ser meu. Sentia que faltava outra pessoa para nos ajudar, trazendo ideias novas, e rompendo as demasiadas rotinas que a minha dupla com o Diogo já tinha. Lembrei-me do Manuel Palha que me impressionou bastante durante os ensaios da primeira Festa Moderna. O Manuel era completamente diferente de mim no método, conhecimento, procura e gosto. Um músico fora de série com a sensibilidade certa para me corrigir, sem me estragar. Os três fomos fluindo nos arranjos e produção até que, pontualmente, chamámos outros amigos. O Francisco Ferreira acabou por gravar mais teclados do que alguma vez esperámos, contribuindo fortemente para a massa de texturas do disco. O Tomás Wallenstein tocou violinos e apareceu nas alturas certas para desbloquear impasses. A Violeta Azevedo gravou flautas e o Salvador percussões. No fim veio o coro formado pela Teresa Castro, a Bia Diniz e o Manuel Lourenço. Estes três compinchas foram incansáveis e acrescentaram um lado muito orgânico ao disco”.

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