É num misto de prazer e esforço que o elenco composto por elementos do Teatro de Ferro e do Teatro de Marionetas do Porto se entregam, por esta altura, aos ensaios contínuos em Campanhã (Porto), no espaço da primeira companhia referenciada, para levar até ao estrado do Teatro Municipal Rivoli a peça “O Regresso do Futuro”, um tributo a Maiakovski.
A estreia do espectáculo decorrerá no Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica – FITEI, já no próximo dia 7 de Maio, quinta-feira, e repete no dia seguinte. Pouco tempo depois, a peça entra em itinerância por algumas salas do país, entre os meses de Maio, Junho e Julho.
Igor Gandra, artífice-mor desta construção cénico-dramatúrgica, releva o método adoptado para esta ressuscitação, ‘sem desfibrilhador’, da obra e do criador: “Dedicámo-nos à revisitação do universo do poeta russo Vladimir Maiakovski e fizemo-lo a partir de alguns aspectos muito particulares do trabalho do autor, que são transversais ao seu teatro e à sua poesia – uma espécie de troca de correspondência com o futuro feita de mensagens e de visitas do futuro ao presente e vice-versa”, defende o encenador e director artístico deste trabalho.
A dinâmica da dramaturgia, feita também de poemas e fragmentos de peças teatrais traduzidos por Regina Guimarães, inscreve-se em cena a partir de uma matriz dialéctica de binómios: máquina-do-tempo versus tempo-da-máquina, máquina-do-teatro versus teatro-da-máquina, teatro-do-tempo versus tempo do teatro. Estas e outras palavras em português e em russo soam e lêem-se como lemas, palavras de ordem de uma revolução futurista em embrião. O enredo decorre num enovelado de linhas temporais alternativas, com personagens e circunstâncias que convocam avanços e recuos cronológicos, analepses e prolepses, na acção.
Para o efeito, os habitantes do tempo-da-máquina assumem a condição de Os do Futuro, a quem Maiakovski se dirigiu tantas vezes. Este tempo-do-teatro é uma espécie de laboratório para a ressurreição humana em curso, mais ou menos como os Bio-Cosmistas russos a imaginavam, e Maiakovski está imerso no teatro-do-tempo, lá no passado, e Os do Futuro anseiam por conhecê-lo.
Uma ficção habitada por actores e marionetas, perene de matéria simbólica e marcada pela intensidade da iconografia, à laia de exemplo: a pose do colectivo de actores evoca por vezes a imagética dos cartazes típicos de uma certa Revolução, quiçá a de Outubro, ou talvez nem por isso… afinal aqui tudo é futuro! Contudo, só vai ficar a saber quem for ao Rivoli, nos próximos dias 7 e 8 de Maio (sexta, 19h30 e sábado às 11h00).
A itinerância levará ainda “Maiakovski – O Regresso do Futuro” até ao FIMFA Lx – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas de Lisboa, a 20 e 21 de Maio (quinta e sexta, às 20h00), ao Encontro Internacional de Marionetas de Montemor-o-Novo, no dia 5 de Junho (às 21h00) e ao Festival de Teatro de Almada, com direito a seis apresentações em quatro dias, de 9 a 12 de Julho.