NOS Primavera Sound 2018… Ao terceiro dia os céus abriram-se para Nick Cave

Chegados ao último dia do NOS Primavera Sound rapidamente somos confrontados com a chuva que iria ser a companhia até ao final da noite no parque da Cidade do Porto.

Numa noite em que Nick Cave é o convidado de honra, a chuva é a preocupação menor para quem espera há meses para rever o músico Australiano ou para muitos a primeira oportunidade de assistir e de se converterem a Nicholas Edward Cave.

Mas a tarde era brindada com a presença em palco de uma verdadeira “Cara de Anjo”. Luis Severo fazia as honras de abertura no palco Seat. Uma plateia composta para escutar as trovas românticas do Luis, a quem muitos chamam o Carlos Paião da atualidade. Melodioso, tímido e nervoso, Severo não deixou ninguém indiferente às suas canções, trauteadas por todos os que chegavam ao festival naquele final de tarde pouco primaveril. Analogias perfeitas entre algumas canções de Severo e o tempo instável que se verificava. No final e depois de entoados os temas mais marcantes de Luis Severo, “Escola”, “Planície (Tudo Igual)” ou “Boa Companhia”, uma sensação de vazio pois “Ainda é Cedo”.
À semelhança de Moullinex no primeiro dia do Festival, foi uma aposta ganha com um nome nacional a dar cartas num dos palcos maiores do Festival.

Num dia em que os headliners eram muitos, a juntar a Nick Cave, o palco NOS, abria no último dia com os bascos Belako. Este quarteto de Mungia abriu caminho com guitarras desde que em 2013 explodiu na cena underground espanhola, graças a “Eurie”, uma estreia esmagadora. Em palco, os Espanhois apresentaram “Render Me Numb Trivial Violence”, o disco já de 2018. Energia qb rebuscada em riffs de guitarra. Sob o lema “Support your local bad bitch”, Cristina Lizarraga conduziu a banda ao longo de 40 minutos com pura adrenalina. No final ficou a faltar os moches no público e a presença da própria Cristina que abandonou o palco antes da última canção.

Voltando ao palco Seat, os Rolling Blackouts Coastal Fever, vindos de Melbourne, traziam a apresentação do disco de estreia “Hope Downs”, disco fresquíssimo já editado em 2018. Formados em 2013, só ao fim de 5 anos é que este quinteto se aventurou num disco. “Mainland” e “The French press”, temas que serviram de apresentação ao disco não foram esquecidos no final de tarde de sábado. Rock com pinceladas pop, por vezes a arranhar o acústico, mas com boa presença em palco de todos os elementos.

Se o R&B de Rhye deixou a sua marca no primeiro dia do festival, este último dia procurava em Kelela o R&B e a Soul. Acima de tudo, Kelela é pop sem rótulos, sem etiquetas e sem medos. A sua estreia acontece em 2013 com mixtape “Cut 4 Me” mas a sua consolidação acontece em 2017 com o álbum de estreia “Take Me Apart”, e com uma pequena ajuda de Solange, a irmã de Beyonce.

Boa vibração, apoio incessante do público aos temas que Kelela ía apresentando em palco, apesar dos percalços. Ao contrário de Mavi Phoenix, não foi o autotune a trair Kelela mas sim o reverbe. LMK” a abrir mas sempre com a vibe a subir surgem temas como “Blue Light” ou “A Message”. Despedia-se dos fãs com “Rewind”, desta que foi a sua segunda passagem por Portugal.

Quando a palavra punk surge num contexto, vem à memória a segunda metade dos anos 70 do século XX. As convulsões sociais na Grã-Bretanha na altura fizeram despoletar um movimento de revolta social que encontrou na música a forma mais rápida de se fazer ouvir. 40 anos depois o punk continua vivo, prova disso os Idles no dia anterior, deixaram em palco a sua pegada punk no festival. Ao terceiro dia a passagem de testemunho foi entregue aos Flat Worms. Disco de estreia homónimo, editado em 2017, a banda reúne um compêndio de músicos que lutaram nas fileiras de Thee Oh Sees, Ty Segall e com Kevin Morby. Em palco os riffs tocaram os extremos através de hinos como “Motorbike”, “White Roses”, “Followers” ou “Accelerated”.

Da revolta do punk à revolta social Brasileira. O final da tarde era brindado pelo trio de São Paulo Metá Metá. Jazz, rock, soul e até algumas pitadas de punk caracterizam a música da banda Brasileira. Pouco conhecida por cá, a banda cumpriu os mínimos na apresentação do seu último trabalho “MM3”, mas a sua música atravessou praticamente os 10 anos em que se encontram no ativo. Talvez pela chuva que se fazia sentir, ou pela apatia dos elementos em palco, o público acabou por não apadrinhar a estreia do trio de São Paulo no NOS Primavera Sound.

A noite aproximava-se e o recinto do festival ganhava cada vez mais público que de uma forma mais ou menos ‘aconchegada’ ía-se posicionando para assistir ao grande concerto da noite. Mas antes de Nick Cave ainda tempo para dar um saltinho novamente ao palco Seat para assistir ao regresso dos Londrinos Public Service Broadcasting a Portugal.
Banda com características predominantes pop, mas também matemáticas, nerdy e hedonistas.
A electrónica aliada a samplers precisos e metódicos, com as vocalizações a serem extraídas das constantes projecções em vídeo. Curiosamente o tema “People Will Always Need Coal” foi um dos que desfilou em palco, quem sabe em mais uma analogia com as condições atmosféricas.

No palco Super Bock, Joe Godard, o homem dos Hot Chip,  espalhava a sua magia dançável, quer ao som de “Music Is The Answer” ou de “Endless Love”. No palco literalmente ao lado, Nick Cave surgia como o redentor de 30.000 almas perdidas. (ver reportagem do concerto de Nick Cave aqui).

A fechar a noite, e depois das profecias se terem tornado realidade, os escoceses Mogwai, de regresso ao festival, ocuparam o espaço deixado por Nick Cave. O post rock fez-se ouvir pelos resistentes das emoções dos gerados pelo senhor de negro, ou por aqueles que não trocaram outros palcos, e as propostas eram bastantes com dois headliners  a vincar o final da noite. Por um lado Nils Frahm (que não se deixou fotografar) e bem mais perto da entrada do Parque da Cidade, os War on Drugs (que abdicaram igualmente de serem fotografados) a fechar o cartaz.
A noite prolongava-se pelo novo espaço Primavera Bits à semelhança das duas noites anteriores, localizado num pavilhão à imagem de um armazém industrial. Decorado com plantas e equipado com um sistema de som Bowers & Wilkins serviu como um local de encontro para os devotos da electrónica, que receberam com entusiasmo os sets de Gerd Janson, Motor City Drum Ensemble, Levon Vincent e Marcel Dettmann, Talaboman e Denis Sulta

Apesar das condições atmosféricas adversas, a sétima edição do NOS Primavera Sound será lembrada como uma das mais importantes da sua história recente. O festival ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 100.000 visitantes de mais de 60 países. O NOS Primavera Sound tem regresso marcado ao Parque da Cidade de 6 a 8 de Junho de 2019. Até para o ano!

Clique nas fotos para ver a galeria completa de cada concerto

Texto e reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo

 

 

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