“Manufactured Heart”, o 5º single do álbum “Wet Dreams”, mostra como, por parto doloroso, os INWATER transformaram água em sangue, sangue em música, e música em encantamento. Esta metamorfose possibilitou revelar agora, em superfície visível, emoções nunca antes partilhadas pela banda. Num amor invertido, primeiro ouvimos a implosão, para em iluminante descarga, sermos brutalmente envolvidos em melodias e poesias, que não temos capacidade ou ferramentas para, na primeira passagem, as interiorizar.
Será fácil compreender o mundo imaginário dos INWATER? Não. A complexidade lírica e musical que os lisboetas nos têm entregue é, definitivamente, uma das suas características mais fortes. Temos de assimilar este percurso como vários capítulos do nosso filme preferido. Será uma estratégia da banda?
Para quem acompanha a vida dos INWATER, e priva com a identidade firme deste projeto, vai reconhecer que o novo single transporta consigo uma cobertura diferente. As almas e distúrbios de Miguel Moreira e Rui Duarte, inteiraram-se de formas mais obscuras, e em “Manufactured Heart”, apoiados numa estrutura mais eletrónica, conversam lado a lado com a voz sinistra do oceano.
De “My Tragedy” a ”Plain Heart”, “Nobody Else Than Me” a “Memory”, esta banda, que anteriormente contemplou-nos com músicas que se expressaram numa base musical mais orgânica, agora, em tempo certo, os INWATER adicionam a esta essência uma força maquinal. Uma estrela do norte que, por vontade própria, abraça o ADN biológico da música, e reside em simbiose aprimorada nos cruzamentos do rock alternativo, com fragmentos new wave, e um hino ao imaginativo mundo dos Bauhaus.
“Manufactured Heart” desperta com uma estonteante introdução. É sensível na escolha de sons, prodigiosa na secção rítmica, e na visão das guitarras arranhadas, desprende os seus braços, para nos convidar pessoalmente à magia escura que se sucede, camuflada em arrepios fantasmagóricos.
