O primeiro longa duração da recém-criada Discos de Platão adivinhava-se doce. Reconhecidos pelo pop bem-humorado, os Unsafe Space Garden lançam agora o disco “Guilty Measures”.
Um ano depois da sua estreia, e com a natural maturação da chegada à idade adulta, a composição e execução deste disco foi o processo de aceitar o caos na descoberta do que é a vida terrena. Refletindo no sentimento de culpa que advém do erro, sobre as emoções à flor da pele e com a urgência imposta aos terráqueos, o resultado é o caminho, é a procura do indivíduo e do seu propósito. Os Unsafe Space Garden, com uma sonoridade caracteristicamente caótica e teatral e com o compromisso único de serem fiéis a si mesmos, regozijam dos problemas mundanos e transformam-nos no seu ofício.
Se o disco lhes concede a liberdade e o desfrute característicos, também os leva à perda do medo de serem percebidos como parvos ou dramáticos. É como consentir e acordar com o universo, acedendo à liberdade de não nos levarmos demasiado a sério.
O início de “Guilty Measures” conduz-nos num severo tsunami, porém a viagem torna-se depois mais aérea e dançável, com uma leveza dissimulada, mas sem nunca largar a sua particular honestidade. E se a voz de Nuno Duarte nos desperta e chacoalha, a doçura de Alexandra Saldanha puxa-nos o cobertor e aconchega-nos no sofá. É com esta constante dualidade que nos debatemos ao longo do disco – e não será isso mesmo a verdadeira descoberta? Uma constante viagem com subidas íngremes e descidas a pique? Em “Balcony Panoramics” tudo adensa e se torna sério, como se a perspetiva da varanda, integral e distanciada, fosse negra, como se estivessem a ver algo que nós, cá em baixo, não vemos. No remate da canção percebemos que afinal tudo está bem, não existe nada cruel. O prefácio deste disco, “It All Depends On Time”, transmite serenidade e promete bonança, assegurando de que o trajeto terminou, mas apenas por agora.
Servirá este álbum como recordação fotográfica da viagem dos Unsafe Space Garden?
Photo: Bruno Carreira
