Filipe Sambado edita novo disco “Três Anos de Escorpião em Touro”

Filipe Sambado edita o seu 4.º álbum de originais. “Três Anos de Escorpião em Touro“, é o mais íntimo longa-duração da artista, um reflexo das várias mudanças significativas que aconteceram neste período.

A obra de quinze temas foi sendo conhecida ao longo do verão através do álbum visual homónimo com os títulos: “Mau Olhado”, o single “Talha Dourada”, “Choro da Rouca“; “Laranjas/Gajos”, “Entre os Dedos das Mãos“, e por último “Caderninho”.

As primeiras apresentações ao vivo deste disco acontecem em Lisboa e no Porto, no Lux Frágil e no CCOP respetivamente, nos dias 16 e 23 de novembro.

Numa carta aberta a todas as pessoas a que chega “Três Anos de Escorpião em Touro“, Filipe Sambado escreve:

“Aconteceram em mim mudanças significativas durante estes Três Anos de Escorpião em Touro: a minha reafirmação de género, uma reconstrução familiar (ser pai, mãe, papita ou outro papel de parentalidade não binária), reapropriação discursiva, incerteza, ansiedade, depressão, que trouxeram consigo um confronto com a identidade.

Este trabalho exigiu uma transposição muito concreta de imagética metamórfica, em consequência de todas estas vivências e do período em que foi criado: o cenário eco ansioso, pré-apocalítico, pandémico, pós-pandémico e esta profunda crise belicista do autotélico regime antropocénico, que nos estrangula com a aproximação a uma meta já visível.

A resiliência de algumas memórias ou o brotar espontâneo de outras mais esquecidas, fundem-se entre si, talvez troquem alquimiamente de existência. Esse processo celebra-se na narrativa informal do disco, nas canções, entre canções, na composição, na instrumentação, no espaço e nas mudanças de espaços, na poesia, na melodia, na harmonia, na estrutura, na estética e no questionamento constante de todas as valências nele abordado. Imperou, na produção, esta urgência de trazer para vários planos e dimensões, a efetividade da imagem e a transcendência da mesma, assim como esta variabilidade e instabilidade mutante. Isto é o simulacro dum bombardeamento, de toda a ostentação barroca, que é o ruído do fim.

“You are excrement. You can change yourself into gold.” (Jodorowsky, 1973).

Há uma notória sugestão esotérica no título, uma atribuição de culpas às condicionantes astrais. O impacto do meu Saturno e do meu ascendente em Escorpião, num conflito de três anos com Vénus em Touro. É a minha imagem social, são os meus receios e inseguranças em luta com as minhas rotinas e com o amor que nelas expresso. É um duelo de aparências. No fundo, procuro encontrar aqui a leveza necessária, um contraste com o peso do mundo. Dedicar fé e crença em infactualidades, mas de observação e dedução milenar. Ao mesmo tempo, esperar que a força gravitacional de um conjunto de astros do nosso sistema solar, possa ser responsável pela gestão do meu arbítrio, descansa-me tanto as noites, quanto as atormenta.

O referencial comportamental do horóscopo perpetua arquétipos, estereótipos, caracteres e preconceitos, todavia com muita simbologia e significância de útil aplicação na compreensão e explicação empírica. É uma espécie de senso comum astral.

 

Pegando nestes pressupostos herméticos, pretendi interligar a videografia e os grafismos deste álbum, conectando elementos do zodíaco constituintes do meu mapa astral, no tecido textual dos vídeos. Há outros esoterismos e paganismos latentes na minha obra e neste trabalho, que andam de mão dada com a expressão naturalista e desafiadoramente concreta da tradição. Isto é a necessidade de criar gramática para novas realidades, novas experiências, por isso novas inteligibilidades, novas noções de sublime e de poética, são a metamorfose do progresso.

Acredito que a expansão do objecto artístico através de outros meios, produz e recria sentidos. O intuito deste álbum visual, é adicionar linguagem e ramificações ao que foi criado no aspecto musical e sonoplástico. Chegar à palavra pela imagem, ao som pela experiência ou pela indução, sugerir a abstracção pelo concreto, propôr o subjectivo.

Senti a necessidade de criar gramática para novas realidades, novas experiências e por isso novas inteligibilidades, noções de sublime e de poética para o progresso. São canções dum cancioneiro comum que transgridem o local de existência e de pertença. O tempo e a paisagem são o que define o objecto. A diferença entre a aberração e o belo, o estranho e o comum é dada pelas condicionantes que o rodeiam.”

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