Após as edições de Lisboa e de Braga em abril e maio passado – que contaram com mais de três mil participantes – o Festival Política chega agora à cidade de Loulé.
De 22 a 24 de setembro, a “Desinformação” – tema central deste ano – continua a ser abordada de uma perspectiva crítica através de um arrojado conjunto de propostas, que convidam a reflectir e repensar as notícias, as respectivas fontes e como estas, quando falsas, são efectivamente uma ameaça à democracia.
São quatro os locais que vão receber uma extensa programação de cinema, debates, humor, música, workshops e propostas de várias linguagens artísticas: o Cineteatro Louletano, o Palácio Gama Lobo, o Auditório Solar da Música Nova e os Banhos Islâmicos. O programa é composto por 18 atividades, incluindo junto do público escolar. A secção de cinema conta com 10 filmes com foco nos direitos humanos, liberdade e cidadania.
No arranque do festival a 22 de setembro, quinta-feira, o Cineteatro Louletano recebe a sessão de anúncio dos vencedores do Programa de Bolsas para Jovens, em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude. Os dois jovens vencedores apresentam as suas peças: João Diogo Veiga mostra uma instalação em torno da sustentabilidade e Raquel Rodrigues estreia um tema original com voz e guitarra. Também a jovem promessa da música em português Sílvia Barros (na foto) apresenta um showcase do seu álbum “Nua”.
Segue-se a sessão de cinema Corpos Políticos I, onde o grande destaque é o filme “Alcindo” de Miguel Dores, sobre o assassinato de Alcindo Monteiro por um grupo de etno-nacionalistas portugueses. À noite será exibido “Quo Vadis, Aida?” de Jasmila Zbanic, nomeado para o Óscar de melhor filme internacional, que explora a vida de uma tradutora da ONU, que assiste à crise dos refugiados, onde se inclui a própria família, com um olhar diferente e impotente.
O dia 23 de setembro, sexta-feira, é marcado pelo já habitual e incontornável Cara a Cara com os Deputados, um encontro entre cidadãos e deputados representantes dos partidos com assento parlamentar em que, durante cinco minutos, cada participante e deputado conversam individualmente sobre um tema ou questão. O evento tem lugar no Palácio Gama Lobo. Ainda neste espaço, acontece o debate entre Anselmo Crespo (TVI/CNN Portugal) e Catarina Carvalho (Mensagem de Lisboa), sobre o estado atual do jornalismo e a sua responsabilidade no combate à desinformação.
Para fechar o dia com grandes gargalhadas, no Cineteatro Louletano, o humorista Hugo van der Ding promete desmistificar alguns dos grandes mitos da História de Portugal, no espectáculo “A grande mentira”; e uma sessão para maiores de 18 anos intitulada Sexo no Feminino.
O último dia do festival, 24 de setembro, sábado, começa com uma visita guiada pelo centro de Loulé para conhecer melhor a História Islâmica da cidade, conduzida por Alexandra Pires. O percurso termina nos Banhos Islâmicos, com uma conversa com o sheik Zabir Edriss e Dália Paulo (Câmara Municipal de Loulé). Ao final da tarde, o Auditório Solar da Música Nova recebe o documentário “A música invisível”, de Tiago Pereira, sobre a presença dos ciganos em Portugal e de como a sua música tem sido esquecida e pouco divulgada. Este documentário parte do projecto A Música Cigana a Gostar Dela Própria, que o realizador tem vindo a desenvolver junto da comunidade cigana. Ao filme, segue-se um concerto.
O festival remata no Cineteatro Louletano com a delicadeza da música de Luca Argel, que apresenta o concerto de lançamento do quarto disco de originais, “Samba de Guerrilha”, em que versa sobre as temáticas da resistência política, a escravidão e o racismo, e ainda com a exibição de “O Teu Nome É”, de Paulo Patrício, que mergulha no caso de homicídio real de Gisberta Salce Jr, mulher transexual, hiv-positiva, sem-abrigo e toxicodependente, em formato de animação; e de “Tracing utopia” de Catarina de Sousa e Nick Tyson, que mostra um olhar diferente sobre a identidade de género e a geração Z.
Durante toda a duração do festival, há ainda exposições e workshops.
“Falsos títulos” é a instalação de Rui Sebastian sobre o papel dos tipógrafos e a sua responsabilidade na indução do erro, patente no Palácio Gama Lobo; e “Revelação”, uma exposição de fotografia apresentada no Auditório Solar da Música Nova pela CooLabora, (Cooperativa de Intervenção Social da Covilhã), que reflecte os sonhos e aspirações das crianças e jovens ciganos que, muitas vezes, lhes vêm negadas as oportunidades. Já no Cineteatro Louletano, está a instalação de um dos jovens vencedores da bolsa acima mencionada, João Diogo Veiga, que apresenta “Eco-nomica”, uma exposição em torno do sustentável, da economia e da importância da consciência ambiental.
Na vertente educativa, destaque para o workshop “Desinformação, Regulação e Literacia Mediática”, onde serão analisados alguns temas, como a covid-19 e a guerra na Ucrânia, com o objectivo de ajudar a compreender os desafios que a Desinformação traz aos responsáveis pela comunicação social, mas também a cada cidadão.
“A desinformação pode pôr em causa a crença dos cidadãos nas instituições, como promove os populismos e as discriminações, e como pode afastar os cidadãos da participação na vida pública”. As palavras são de Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques, directores artísticos do festival, que continuam a assumir o compromisso para com o despertar do sentido crítico e da participação cívica, levando agora o Política para uma nova região do país.
O festival é de acesso gratuito, mantendo o compromisso com a inclusão – todas as sessões de cinema têm legendagem em português (incluindo os de língua portuguesa) e todas as actividades são acompanhadas por tradução em Língua Gestual Portuguesa.