Em Outubro… O Festival Materiais Diversos torna visível o invisível

De 5 a 15 de outubro de 2023, o Festival Materiais Diversos habita Alcanena e Minde com um programa que pretende continuar a aproximar as pessoas e as artes contemporâneas. Espetáculos de dança, teatro e música, instalações e conversas revelam o trabalho de artistas e valorizam as relações que a Materiais Diversos constrói ao longo do tempo. Desacelerar e tornar visíveis as pessoas, os lugares e os processos são os motes da 12ª edição do festival.

Mais uma vez, mas este ano com maior profundidade, o Festival Materiais Diversos valoriza o trabalho desenvolvido junto de artistas com os quais estabelece relações de continuidade. Neste âmbito, apresenta as coproduções KdeiraZ, de Natália Mendonça, espetáculo para crianças que traduz um investimento continuado na aproximação de jovens públicos à dança, nomeadamente através de oficinas e de residências artísticas.

Decadência e Mil e Uma Noites, de Cátia Terrinca/UMCOLETIVO, que nos fazem redescobrir escritoras portuguesas do séc. XX, como Judith Teixeira, no caso de Decadência, e também mulheres do concelho de Alcanena com produção literária, como no caso de Mil e Uma Noites.

O festival aposta também em artistas do distrito de Santarém, apresentando a ante-estreia do espetáculo Didascálias, de Giovanna Monteiro e Leonor Mendes, uma criação apoiada pela bolsa Fios do Meio, que valoriza o papel da criação artística como elemento vital aos territórios. Traz ainda La Burla (na foto), de Bibi Dória e Bruno Brandolino, criação apoiada no âmbito da bolsa Novos Materiais, que a Materiais Diversos concretiza desde 2018.

O Festival volta também a programar Coreografia em sala de aula, de João dos Santos Martins, que decorre do espetáculo Coreografia, que foi Projeto Associado da Materiais Diversos (2020-2022).

Dá visibilidade ao seu Programa Regular, que em boa medida se realiza em colaboração com o Agrupamento de Escolas de Alcanena, partilhando, durante o festival, uma exposição de materiais desenvolvidos nas Oficinas Corpo Comum, orientadas por Marta Tomé e Raquel Senhorinho, com as turmas de 5º e de 7º ano deste Agrupamento de Escolas.

De outras geografias, mas como resultado de relações igualmente longas, o festival dá a conhecer a performance-instalação Las Lámparas, de Leticia Scrycky, uma coreografia elétrica, onde o som move a luz e a luz por sua vez soa, aquecendo o espaço cénico e procurando ativar um estado primordial de observação como aquele que se sente quando se contempla o fogo.

Uma aproximação ao universo sonoro dos pássaros será abordada em All in the air is bird, de María Jerez e Élan d’Orphium, que ao mesmo tempo aprofunda uma pesquisa em práticas de colaboração entre elementos humanos e não humanos. O Banquete das Saudades, de Anne Lise Le Gac, por seu turno, é uma performance duracional que propõe uma experiência partilhada através de sabores e receitas que falam de saudades. Estes projetos, que incitam ao desaceleramento, desafiam a perceção e a memória.

Procurando abrir janelas entre este e outros territórios, o Festival Materiais Diversos reúne também no programa Gio Lourenço, com Boca Fala Tropa, que parte dos passos e dos códigos do Kuduro para cruzar elementos da memória individual com elementos da memória coletiva, colocando assim à vista trânsitos entre Angola e Portugal, e Elizabete Francisca, com a besta, as luas, uma performance que, através de gestos e sons, enuncia uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso.

 

Na música, o Festival Materiais Diversos destaca dois jovens nomes que traçam agora o início das suas carreiras. chica encerra o festival num concerto que se realiza numa das praças emblemáticas de Minde, a Praça Alberto Guedes. As sonoridades do folk, anti-folk e jazz em parelha com o elemento principal da sua música – o diálogo –, compõem o estilo musical de chica. Em concerto partilha as canções que foram sendo escritas e pensadas à sombra do desencantamento sobre a vida adulta, da gestão da sobrevivência, mas também das palavras de Fausto de “que atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão de vir”.

O acolhedor jardim do Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde) é o espaço escolhido para o concerto de Bernardo Branco que partilha “Cantar de Ouvido”, álbum a ser lançado brevemente, no qual florescem sonoridades que confluem entre música popular e urbana e que aborda o dia-a-dia, os desamores passados, a queda de cabelo, as festas populares e o êxodo rural

 

📸 Vítor Barão

 

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