Dança, comédia, circo, teatro e o reforço na ópera… Coliseu Porto com 150 espetáculos em 2023

A estreia em Portugal de uma das melhores companhias de circo contemporâneo do mundo, uma ópera da autoria de Philip Glass, o regresso da Companhia Nacional de Bailado e das digressões musicais estão entre os destaques da programação do Coliseu Porto em 2023. Até dezembro, esperam-se cerca de 150 espetáculos, entre concertos de todos os géneros, bailados, teatro, ópera, dança, comédia, espetáculos infanto-juvenis, e, claro, o Circo de Natal.

 

A programação própria vai focar-se nas produções nacionais líricas e sinfónicas, várias em estreia absoluta, tirando partido das valências únicas da Sala Principal do Coliseu e da tradição e experiência acumuladas em 81 anos de história. São 13 propostas variadas, do clássico ao contemporâneo, e em cruzamento com diferentes disciplinas artísticas: ópera encenada, concertos sinfónicos e coral-sinfónicos, bailados com música ao vivo, teatro musical lírico e ópera electroacústica e ainda um festival de ópera.

 

De modo a incentivar o público a experimentar novas e variadas propostas, o Coliseu disponibiliza pela primeira vez três assinaturas, com descontos de 50%: Assinatura da temporada lírica e sinfónica (onde se incluem cinco espetáculos à escolha), Assinatura CNB (para as duas propostas que a Companhia Nacional de Bailado aqui apresenta) e Assinatura Promenade (para a totalidade do ciclo de Concertos Promenade).

 

A 25 de outubro, o maestro Martim Sousa Tavares dirige a ópera de câmara clássica-moderna “Na Colónia Penal”, de Philip Glass, um dos compositores mais influentes do final do século XX. O libreto de Rudolph Wurlitzer, a partir do conto homónimo de Franz Kafka, reflete sobre a frágil dualidade da razão humana, onde a fronteira ténue entre a justiça e a injustiça é explorada e atravessada com mestria narrativa e sonora. “Na Colónia Penal” terá estreia absoluta no Teatro São Luiz, em Lisboa, antes de chegar ao Coliseu e, além da direção musical de Sousa Tavares, conta com encenação de Miguel Loureiro e movimento de Miguel Pereira.

 

Evocando tempos imemoriais mas bem mais recente, no dia 28 de março sobe ao palco um especialíssimo “Requiem”, uma estreia nacional interpretada pela Banda Sinfónica Portuguesa. Este “Requiem” foi composto pelo húngaro Frigyes Hidas, falecido em 2007, em homenagem à Revolução Húngara de 1956, na época sob domínio soviético. Especialmente vocacionada para orquestra de sopros, quatro solistas e coro, será dirigida pelo maestro convidado Diogo Costa.

 

A 22 de setembro, acontece a grande estreia de uma das mais populares óperas do repertório ocidental: “Carmen”, a derradeira obra-prima de Georges Bizet, numa nova produção encomendada pelo Coliseu à Ópera na Academia e na Cidade, dirigida pelo carismático maestro Ferreira Lobo. Ciganos, toureiros, ladrões, gente do povo e toda uma coloratura sevilhana.

 

Depois de um adiamento provocado pela pandemia, apresenta-se a 22 de junho, em estreia absoluta “Ópera Real”, a primeira ópera integralmente produzida pela ESMAE, com quem o Coliseu tem mantido uma estreita colaboração. Com libreto de Jorge Louraço Figueira e música de Telmo Marques, Eugénio Amorim, Carlos Azevedo e Dimitris Andropoulos, esta ópera divide-se em quatro atos, ou quatro “short stories” em torno de desastres e catástrofes, a começar pelo terramoto de 1755. “Ópera Real” tem como fio condutor a história de uma família e seus descendentes ao longo dos séculos.

 

Destaque ainda para “A Laugh to Cry”, a 29 de setembro, ópera eletro-acústica com música e libreto multilíngue de Miguel Azguime, e que chega finalmente ao Porto. Um teatro metafísico, assente em vídeo-projeções, põe em música e em cena arquétipos eternos, refletindo sobre a devastação do planeta, a barbárie da guerra ou o poder hegemónico do capitalismo, temas que marcam a atualidade. A boa notícia é que “A Laugh to Cry” termina com notas de esperança. Um projeto Miso Music / Sond’Ar-te Electric Ensemble.

 

A terminar a temporada, a 28 de novembro, terá lugar a estreia absoluta de “It’s not over until the soprano dies” (não acaba enquanto a soprano não morrer), uma ópera feminista onde a companhia Mala Voadora se propõe, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, recriar os finais de óperas em que as personagens femininas morrem sempre. Centrando-se nessas personagens e nas árias que cantam, leva-se o público a notar a vertigem dessas mortes. Nesta encenação de Jorge Andrade salta à vista que, se é verdade que muitas óperas acabam de forma trágica, as mortes femininas são pautadas por particular crueldade: esfaqueadas, queimadas, envenenadas, atirando-se ou afogando-se.

 

Na dança, o Coliseu integra três propostas com música sinfónica tocada ao vivo. A primeira acontece já esta sexta-feira, 27 de janeiro, com “A Sagração da Primavera”. Uma grande produção que traz uma nova abordagem à obra de Stravinsky, feita à luz de uma era tecnológica, na qual as linguagens da dança, da videografia, do video mapping e da música produzem uma experiência sensorial avassaladora. Em palco, a Vortice Dance Company, de Cláudia Martins e Rafael Carriço, dança ao som da música interpretada pela Orquestra Sinfónica da ESMAE, sob direção de Nuno Côrte-Real.

 

Destaca-se ainda o regresso da Companhia Nacional de Bailado (CNB) ao Porto, com dois projetos de grande escala que mostram as facetas clássica e contemporânea da companhia, e sempre com música ao vivo. A 16 de junho, o programa junta dois coreógrafos que, com abordagens diferentes, propõem obras que trabalham a relação simbiótica entre dança e música: “Symphony of Sorrows”, de Miguel Ramalho, com música de Henryk Górecki, e “Cantata”, de Mauro Bigonzetti, peça que teve a sua estreia mundial em Lisboa, em 2001, no Ballet Gulbenkian, deixando uma memória duradoura. “Cantata” é uma coreografia plena de cores vibrantes, típicas do sul de Itália, e será aqui apresentada na sua versão original e completa, cantada ao vivo pelo grupo musical italiano Assurd.

 

A 13 de outubro, a CNB apresenta no palco do Coliseu “La Sylphide”, de August Bournonville, tido como o primeiro bailado romântico da história da dança, numa remontagem em tudo grandiosa desta obra-prima trágica sobre sapatilhas de pontas. A dirigir a orquestra estará o maestro Vasco Pearce de Azevedo.

 

Na música clássica, destacam-se duas propostas muito diferentes entre si. A 17 de março, o maestro António Victorino d’Almeida regressa ao Coliseu para, junto com Mário Laginha, apresentar diante do público “Improvisação a dois Pianos”. Ambos pianistas e extraordinários improvisadores, ainda que de gerações e experiências musicais diferentes, propõem-se arriscar num concerto improvisado que irá percorrer os caminhos das vivências musicais de cada um, num concerto único e irrepetível.

 

A 12 de maio, Dia da Europa, a Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob a batuta do maestro Osvaldo Ferreira, estreia o concerto “Mitos da Europa”, sobre este continente batizado pelo mito da princesa fenícia Europa, com composições do austríaco Yury Revich e da portuguesa Sara Ross, e texto de Alexandre Honrado.

 

No teatro musical, o Coliseu apresenta The Cradle Will Rock, de Marc Blitzstein, do compositor contemporâneo de Brecht e uma das principais peças musicais de teatro político escritas nos Estados Unidos. Impiedosa sátira à corrupção e ganância que subverte os valores da sociedade (à maneira “brechtiana”) e um hino ao trabalho e às pessoas pobres em luta pela sobrevivência, no período que se seguiu à Grande Depressão, “The Cradle Will Rock” foi objeto de censura, mas, apesar das proibições, teve estreia em 1937, em Nova Iorque, com encenação de Orson Welles. Esta produção do Teatro Aberto apresenta-se no Coliseu a 25 de junho, com direção musical de João Paulo Santos, encenação de João Lourenço e um elenco de atores e cantores líricos, como Ana Ester Neves, Marco Alves dos Santos e Mário Redondo.

 

Na linha da continuidade, e a pensar nos mais novos e nas famílias, regressa o ciclo Concertos Promenade 2.0. O conceito, iniciado em Portugal pelo Coliseu, foi recuperado em 2021 e continua a ser uma aposta ganha, quer na formação de públicos, quer na criação de oportunidades de atuação e visibilidade para jovens talentos nacionais. Com direção artística do maestro Cesário Costa, o novo ciclo vai incluir obras emblemáticas como “As Quatro Estações“, de Vivaldi ou “A Minha Mãe Ganso“, de Maurice Ravel, iniciando já o primeiro concerto a 19 de fevereiro com “Quadros de uma Exposição”, de Mussorgsky, aqui interpretado pela Orquestra Clássica de Espinho. Um domingo por mês, em ambiente descontraído, miúdos e graúdos são convidados a entrar no ambiente das obras e a descobrir todas as curiosidades, com os comentários do musicólogo Jorge Castro Ribeiro e o design multimédia de Sara Botelho.

 

No Circo, disciplina que faz parte da génese do Coliseu e onde este se assume cada vez mais inovador, destaca-se a estreia nacional da companhia de circo contemporâneo Les 7 Doigts de la Main, que a 11 de fevereiro mostra ao vivo a espetacularidade de “Passagers”. Após várias tentativas e adiamentos provocados pela pandemia, é finalmente em 2023 que esta prestigiada companhia canadiana se apresenta em Portugal. E, no final do ano, não poderia faltar o Circo de Natal do Coliseu Porto, cujo tema e elenco será divulgado no segundo semestre.

 

Além da programação própria, a agenda de acolhimentos é fundamental para a pluralidade do Coliseu. E, após a incerteza causada pela pandemia, a normalidade permite o regresso às grandes digressões nacionais e internacionais, excepção feita à Ucrânia, que sofre ainda com a guerra. O calendário vai sendo anunciado durante todo o ano, ao ritmo dos artistas, destacando-se neste momento concertos de artistas nacionais como Xutos e Pontapés, Jorge Palma, Aurea, Valete, Pedro Abrunhosa e os Canto Nono, com uma homenagem a José Mário Branco, e internacionais como The Waterboys, Meute, Martinho da Vila, Orochi, Ana Carolina ou Emicida, entre outros.

No renovado Salão Ático, o projeto Novo Ático continuará a apresentar concertos de média dimensão nas matinés de domingo. IAN (8 de março), Luca Argel (26 de março) e Mirror People, o alter ego do músico, produtor e DJ Rui Maia (7 de maio) são alguns dos concertos a não perder.

 

Humor nacional (Bumba na Fofinha, a “Extremamente Desagradável” Joana Marques, Quim Roscas & Zeca Estacionâncio) e internacional (Fábio Porchat), teatro (A Ratoeira), musicais (Shrek), ballet (Gala d’Etoiles, Romeu e Julieta e O Lago dos Cisnes) e propostas infantis (Os Três Porquinhos) são outros dos espetáculos já anunciados para a Sala Principal.

Toda a programação de 2023 vai sendo atualizada em permanência em www.coliseu.pt.

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