A lendária e trágica história de amor de D. Pedro e D. Inês de Castro deu origem a uma rica linhagem artística ao longo dos tempos, atravessando várias gerações.
Depois de Garcia de Resende, Luís de Camões e António Ferreira, mas antes de João Batista Gomes Júnior ou Agustina Bessa-Luís, o dramaturgo espanhol Luis Vélez de Guevara glosou o tema em Reinar Depois de Morrer (1635), peça em três atos que a Companhia de Teatro de Almada recupera numa adaptação de José Gabriel Antuñano e encenação de Ignacio García. Após a estreia em Lisboa, o espetáculo chega agora ao palco do Teatro Nacional São João (TNSJ), entre os dias 5 e 7 de dezembro.
Publicado em Portugal pela primeira vez em 1652, o texto de Guevara é considerado uma das comedias mais representativas do século de ouro do teatro espanhol. Para Sarah Adamopoulos, a “história de Pedro e Inês, que é simultaneamente a de amores proibidos entre filhos de nações disputando o poder sobre territórios e povos, e mais linda (e verdadeira) história de amor de sempre, é de um lirismo […] e de uma emotividade que plenamente justificam a sua eternidade”. Reinar Depois de Morrer é, também ela, uma produção ibérica que une e celebra “os laços indestrutíveis, entre duas nações unidas pela História”, como conclui a escritora.
A encenação de Ignacio García – que se baseia na tradução de Nuno Júdice – coloca em cena um dispositivo cenográfico que se situa entre a vida/realidade e a morte/irrealidade, focando-se nesta episódio no qual a razão de Estado se opõe e se sobrepõe ao amor e à liberdade individual.
Centrando-se na forma como essa oposição se agudiza nas quatro personagens principais (interpretadas por Margarida Vila-Nova, José Neves, João Largarto e Ana Cris), moldando as suas ações, dilemas e sofrimentos, Reinar Depois de Morrer convida os espectadores a refletir sobre um tema perene: “O da supremacia das conveniências sobre o indivíduo – sempre mais frágil – que as questiona”.
Photo: Rui Mateus e Luana Santos
