Caetano Veloso regressa a Portugal para concertos em Lisboa e no Porto

Entre os muitos elogios justos que possam ser proferidos sobre Caetano Veloso, talvez a sua qualidade de trabalhar a carreira como se fosse uma intricada peça de filigrana é dos que mais ressoam ao fim de mais de cinquenta anos de canções. Ao fazê-lo, Caetano não está apenas a renovar o seu olhar artístico sobre si mesmo, mas também sobre o Brasil e as suas infinitas linguagens musicais.

O mais bonito desta renovação é que ela não pretende cortar com a raiz, muito pelo contrário: Caetano tem a ancestralidade bem presente, dando espaço para que ela se manifeste por novos caminhos, disco após disco.

Em “Meu Coco”, último trabalho de originais lançado em 2021, essa característica está bem presente. Os batuques da Baía, que têm em si a africanidade e a pulsão da mãe terra, flertam com orquestrações delicadas, tornadas poéticas graças à lírica das canções, onde tantos companheiros, amigos e irmãos de Caetano são nomeados direta e indiretamente, com requintada finura.

A digressão concebida em torno de “Meu Coco”, e que agora chega a Portugal, 9, 10 e 12 de setembro, no Coliseu de Lisboa e o Coliseu do Porto, a 14 e 15 de setembro, é a manifestação concreta da elegância e da vitalidade que Caetano Veloso continua a demonstrar, já com 80 anos e a voz e a curiosidade de sempre. Fazer um concerto para divulgar um disco novo, como o próprio diz, é um hábito velho. Felizmente, há hábitos que não mudam.

 

O que muda, sim, é a forma como Caetano olha para cada espetáculo, sempre com uma sensibilidade cinematográfica própria de alguém que admite ter alma de cineasta. “No show Meu Coco procuro juntar peças marcantes do álbum com obras que registem momentos históricos do meu trabalho”, escreve o próprio sobre este espetáculo.

O reportório é escolhido a dedo, não apenas com “a mera função de agradar aos espetadores”, mas criando um enredo que ponha em diálogo faixas de diferentes tempos. No fundo, que ponha em diálogo Caetano com a sua obra, com o seu público e com os seus mestres e discípulos.

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