“ceifa” é o single de estreia dos bracarenses mutu. O tema que dá origem à narrativa musical dos mutu, embarca em momentos de uma portugalidade de outrora, sem filtros, intenso, incomensuravelmente marcante, desesperadamente digno, uma autêntica bengala da eterna saudade lusa.
Em a “ceifa” há a cadência dos ritmos lusitanos; uma voz embargada em memórias; há sons ecoantes que acompanham melodias progressivas; há corpo e transpira-se alma. Semanticamente a ceifa é o ato ou efeito de colher cereais; uma ação violenta, agressiva, que perpetua o acto de viver: em boa verdade alimento é vida, e a vida é alimento. Antagonicamente, a ceifa pode ser interpretada como mortandade, vida interrompida, terminus; canta-se “fica o restolho”; ruído, sobras de uma persona de outras vidas.
Em a “ceifa” aborda-se a desesperança e a culpabilidade da ação humana “A CULPA é minha, a CULPA é tua; CULPA alheia”; vislumbra-se uma “terra deserta, infértil; parece o Inferno Terrestre;”, fala-se de “gente esquecida, em que a Morte está à espreita;” um cenário apocalíptico, fogo-fátuo de uma existência perdida, outrora vivida; memórias mil, que, no final são ceifadas até à hipoderme do silêncio.
