Béla Guttmann: De sobrevivente do Holocausto a Glória do Benfica

Antes de Mourinho e de Pep Guardiola, havia Béla Guttmann: o primeiro treinador superstar de futebol, e o homem que abriu caminho aos famosos treinadores da era moderna com as suas cláusulas milionárias. O treinador que conseguiu duas Ligas dos Campeões pelo Benfica terá roubado o jovem Eusébio ao Sporting após uma conversa num barbeiro em que ouviu falar das qualidades excepcionas do jovem moçambicano de 19 anos.

Guttmann (27 de Janeiro 1899 – 28 de Agosto 1981) fez fortuna a vender álcool ilegal nos Estados Unidos, foi professor de dança e sobreviveu ao Holocausto escondido no sótão de um salão de cabeleireiro situado perto de Budapeste, antes de se tornar o lendário treinador da década de 60 do Benfica, cuja “maldição” ainda perdura, mesmo depois de inaugurada uma estátua no estádio e do próprio Eusébio ter rezado na campa do treinador, em 1990, pouco antes de mais um final perdida, em Viena, no Prater.

Antigo jogador de futebol (era um extraordinário médio) chegou a representar a selecção húngara nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em 1924. Enriqueceu a jogar à bola e na roleta, mas perdeu tudo em 1929, na famosa sexta-feira negra na bolsa nova-iorquina. Na II Guerra Mundial, ainda enviado para um campo de trabalhos forçados, de onde conseguiu fugir em Dezembro de 1944, pouco antes de ser enviado para Auschwitz. O pai, irmã, e muitos outros familiares, morreram nesse campo de concentração.

Antes do Benfica conseguira ser campeão nacional pelo Porto, em 1959, mas, é, em 1961, como treinador do Benfica, que consegue a proeza de vencer a Taça dos Campeões Europeus – um feito que repetiu no ano seguinte. Saiu do clube da Luz logo de seguida, após a recusa de um aumento de 65 por cento por parte do clube, e de Salazar o ter feito comendador: “Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim…” O Benfica nunca mais ganhou, apesar de ter estado por mais cinco vezes na final da Taça dos Campeões. Conhecido pelas tácticas inovadoras e pelas mudanças frequentes de clube foi eleito, em 2013, por jogadores e treinadores, o nono melhor treinador de todos os tempos. “Um trabalho notável”,  escreveu o jornal “L’Équipe”.

Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim…” 

David Bolcher é autor e comentador. Publicou três livros, nomeadamente o «bestseller» O Gestor de 90 Minutos, que explora os vários estilos de gestão dos grandes treinadores de futebol. Colaborou com diversos jornais, entre os quais o The Times, The Telegraph e Financial Times. Trabalhou durante três anos na investigação deste livro. Conversou com António Simões, que foi treinado por Béla Guttmann na década de 60.

Edição: Oficina do Livro

À venda a 20 de fevereiro

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