António Pinho Vargas apresenta o disco “Lamentos”

O conceituado músico e compositor António Pinho Vargas apresenta o novo trabalho, “Lamentos”. É uma edição da Artway Next, que conta com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e direção do maestro Pedro Neves, com as solistas Ana Pereira no violino e Joana Cipriano na viola.

Lamentos” apresenta três obras: Concerto para violino, composto em 2014-15 in memorian Gareguine Aroutionian, encomendado pelo CCB, onde estreou, por Tamila Kharambura que acompanhou a composição e reviu a parte solista, e a Orquestra Metropolitana dirigida por Garry Walker em fevereiro de 2016. Posteriormente foi tocada em Montemor-o-Novo e na Gulbenkian por André Gaio Pereira (2018) e Pedro Amaral com a Metropolitana e por Tamila Kharambura na Casa da Música com a Orquestra Sinfónica do Porto, dirigida por Pedro Neves (2019) e Ana Pereira com a Metropolitana no CCB (2023); Concerto para viola – resultou do honroso convite e encomenda de Diemut Poppen, a obra foi composta em 2016 e estreada por Diemut Poppen e a Orquestra Gulbenkian, dirigido por Jan Wierzba no Festival Cantabile nas Ruínas do Carmo em Lisboa. Segundo Pinho Vargas, “como metáfora fundadora usei (O Livro de Job: leituras, é o subtítulo) como títulos dos quatro andamentos: Fé; Dúvidas; Lamento, Dúvidas e Fúrias, Coda: fé.

A ligação é meramente especulativa, pessoal e posso descrevê-la deste modo: uma situação estável, uma turbulência inesperada, uma meditação perplexa (III-Lamento) e um desenlace próximo da grande intensidade quer das dores quer do vislumbre de uma pacificação final”. Foi reposta no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian por Diemut Poppen e a Orquestra Gulbenkian dirigida por José Eduardo Gomes em 2021 e por Joana Cipriano, Pedro Neves e a Metropolitana no CCB (2023); e Sinfonia (Subjectiva): esta obra resultou de uma encomenda do CCB. Estreou em Abril de 2019 pela Orquestra Metropolitana de Lisboa dirigida por Pedro Amaral, na primeira parte do concerto com a obra Six Portraits of Pain (com Pavel Gomziakov) e o filme-mudo com o mesmo título de Teresa Villaverde feito propositadamente para este concerto. Na Sinfonia (subjetiva) entabula-se, em última análise, um diálogo com a tradição, que é sempre também a tradição do seu autor.

 

Segundo António Pinho Vargas, “A música tem de se realizar em obra enquanto música. Heidegger passa muitas páginas a tentar demonstrar, com a sua persistência circular, que antes de ser obra, uma obra de arte é uma coisa. Estamos tão habituados à expressão ‘obra de arte’, seja qual for o seu meio de expressão específico, que podemos muito bem esquecer esse carácter primordial e milenar: ‘coisas’ resultantes do trabalho humano na sua ânsia de tratar, de trabalhar, de enfrentar na obra, os seus medos, anseios, desejos, enfim, o seu desejo último de expressão, de dar uma razão de ser secreta à sua vida. Nesta ambivalência sempre presente reside tanto o lado mais maravilhoso como o mais duro. No longo tempo do fazer das obras ‘os criadores’ – um termo que por si só exprime o inalcançável divino perfeito que paira por cima – fazem sempre o melhor que podem e quando acontece uma emoção estética somos obrigados a celebrar: a obra conseguiu existir, interpelar e tocar os ouvintes.

 

Não me é fácil, nesta altura, falar destas três obras. Cada uma destas composições tem uma motivação muito particular, muito íntima, no que respeita mais aos segredos da vida do que a quaisquer segredos de composição (inexistentes). Desse modo – depois da interrupção trágica e já quase esquecida da pandemia – que as tenha podido ouvir nos três dias das gravações no CCB tão admiravelmente tocadas, não deixou de me surgir como uma aparição quase miraculosa e muito comovente.”

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