Foi ao final da tarde desta segunda feira que foi apresentado na Casa do Roseiral no Porto, a nova edição do MIMO FESTIVAL. Depois de uma pausa forçada pela pandemia, o MIMO FESTIVAL está de volta, numa edição de estreia na cidade do Porto.
Nos três dias de festival, totalmente gratuito, de 23 a 25 de setembro, o MIMO encerra o verão na Invicta com mais de 20 concertos, 11 DJ Sets, 8 workshops, oficinas e residências no Programa Educativo, além de diversas atividades de arte, performance e tecnologia dedicadas à Amazónia; sem dispensar a mítica Chuva de Poesia, que este ano acontece na Livraria Lello.
Sítios do Centro Histórico do Porto, classificado como Património Mundial pela UNESCO, como o Largo Amor de Perdição, Jardim da Cordoaria, Reitoria da Universidade do Porto, Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, Jardim das Virtudes, Palácio de Cristal e as Igrejas do Carmo, dos Carmelitas Descalços, de São José das Taipas, de Nossa Senhora da Vitória e de São Bento da Vitória, fazem parte da sonosfera multigeográfica que o MIMO promoverá.
De acesso gratuito, o MIMO é um festival inclusivo que privilegia a facilidade de acesso e a diversidade. Tendo como premissa dar a conhecer o que de melhor se faz na música na atualidade, em Portugal e no mundo, entre nomes consagrados e novos talentos, o MIMO proporciona uma experiência única e o contacto com representantes de diferentes géneros musicais e culturas.
E são muitas as novidades que se vêm juntar nesta estreia no Porto. Entre os artistas que aquecerão as ruas portuenses estão os brasileiros Emicida, o nome mais importante do hip hop brasileiro da atualidade. O artista fará a primeira apresentação do premiado álbum “AmarElo” em Portugal, no MIMO Porto.
Já o jornalista, poeta, compositor e intérprete Chico César, mostrará porque está, há 31 anos, a consolidar uma das mais profundas e sólidas carreiras na Música Popular Brasileira. Lança no MIMO Porto o seu 10º álbum de sua carreira: “Vestido de amor”.
A cantora e compositora franco-nigeriana Asa (Asha), que cultivou as suas raízes musicais nos sucessos da Motown e no Afrobeat de Fela Kuti, vem ao MIMO Porto exclusivamente para apresentar o álbum “V” – dedicado ao afrobeat nigeriano – que contou com as participações do rapper Wizkid, da dupla The Cavemen e do ganense Amaarae.
Já o multi-instrumentista congolês Ray Lema, reconhecido como um dos artistas mais inovadores e criativos da cena musical africana e mundial, vem apresentar a sua costura etérea de música clássica, jazz e ritmos tradicionais subsaarianos, numa homenagem a Franco Luambo – o pai da rumba congolesa, declarada Património Imaterial da Humanidade pela Unesco, em 2021.
O realizador e DJ inglês, Don Letts, mostra no palco principal do MIMO Porto, um set dedicado à sua explosiva combinação musical, além de exibir alguns dos seus filmes e de fazer uma palestra sobre a sua obra. Letts ganhou notoriedade no final dos anos 70, quando enquanto DJ na noite londrina, transformou toda uma geração e reuniu o punk ao reggae.
Da Argélia e Tunísia, o DuOuD, que, como o nome sugere, é uma dupla de oud, o alaúde árabe, formada por dois dos seus músicos mais inovadores. É composto pelo tunisiano Jean-Pierre Smadja, também conhecido como Smadj, e pelo argelino Medhi Haddab, distinto líder da Speed Caravan.
Mário Lúcio, com Mário Lúcio & Os Kriols, é o nome maior da música e das artes de Cabo Verde, aqui acompanhado pelos Kriols, o seu grupo formado por cinco músicos portugueses que exploram a sonoridade crioula, a mistura, a síntese. Mário Lúcio é o compositor mais gravado da história do seu país e é também um premiado romancista, poeta, dramaturgo e filósofo. Foi Ministro da Cultura durante cinco anos. No MIMO Porto ele fará o pré-lançamento europeu do seu mais recente disco, “Migrants”.
Da Ucrânia vem a pianista clássica Valentina Lisitsa, que se auto intitula “a rainha do Rachmanino‑”, é uma das intérpretes clássicas mais populares.
Da Índia chega ao Porto Nishat Khan, virtuoso tocador de cítara e um dos destacados nomes do instrumento na atualidade. Originário de uma ilustre família de sete gerações de músicos profissionais da cítara clássica, já colaborou com John McLaughlin, Philip Glass, Eric Clapton, Carlos Santana e Je‑ Beck, e com o artista-escultor Anish Kapoor. No MIMO Porto, Nishat fará um concerto de música clássica indiana, mais conhecida como Raga.
De Portugal, reforçam o cartaz o produtor e DJ Branko, nome de destaque ímpar na ativação digital durante toda a pandemia, que tem vindo novamente a movimentar a cena nas apresentações ao vivo. Já Pedro Burmester & Quarteto de Cordas de Matosinhos apresentam um programa dedicado a Robert Schumann e Antonín Dvořák. O guitarrista vimaranense Manuel de Oliveira traz a sua música de alma ibérica e Maria João & Mario Laginha, dividem com o público, para lá do jazz, uma cumplicidade que não se explica.
Mas o MIMO PORTO tem mais para oferecer. Encerrando a exposição “Mulheres que fazem barulho – Cenas do Rock Português I”, promovida pela Casa Comum, da Reitoria da Universidade do Porto, um concerto que promete reviver os capítulos dourados da história do rock português escritos no género feminino. Em palco Ana Deus, Lena D’água, Anabela Duarte, Sandra Baptista, Mitó Mendes, Carolina Brandão e Marta Abreu.
Ainda do Brasil, chega a Orquestra Voadora, que é sinónimo de alegria e festa. Quem não conhece o Carnaval carioca pode espantar-se, mas o facto é que a Voadora chega a reunir mais de 100.000 foliões que a seguem por uma das principais avenidas da cidade durante o Carnaval.
A sua música é pautada por uma mistura bombástica de ritmos como rock, funk, pop, jazz com os tradicionais frevo, samba e maracatu.
No MIMO Porto o coletivo faz um concerto/cortejo e um baile de Carnaval, onde o público poderá provar, afinal, a fusão de samba, frevo, maracatu, afrobeat, bandas sonoras de filmes do Tarantino e perceber o que é que a Orquestra tem.
Para os amantes do jazz, imagine fechar os olhos e ouvir as notas elegantes e precisas da música de Miles Davis a ecoar pelo Porto. É o que promete Gileno Santana, trompetista, arranjador, docente e compositor luso-brasileiro ao executar a obra-prima de Miles, “Kind of Blue” ao vivo e na íntegra, com uma super banda de músicos residentes no Porto, que reproduzirá os acompanhamentos de Bill Evans, Wynton Kelly, John Coltrane, Paul Chambers e Jimmy Cobb.
Da música clássica brasileira, vem a soprano Chiara Santoro, que acompanhou Ennio Morricone e Andrea Bocelli em digressões internacionais e venceu diversos concursos europeus. Será acompanhada do pianista italiano Fabio Centanni, formado na prestigiada Accademia di Santa Cecilia em Roma e nome requisitado no circuito lírico internacional. Juntos apresentam um recital que celebrará o Bicentenário da Independência do Brasil.
Também pela primeira vez em Portugal, uma promessa da música clássica internacional, o brasileiro Plínio Fernandes. Tem sido apontado como uma das maiores revelações do violão clássico contemporâneo. Aos 16 anos, foi aceite pela Royal Academy of Music, em Londres e hoje, aos 28, lança o seu primeiro álbum pela editora Decca Records (EUA), “Saudade”, no qual discorre pelos seus amores musicais e mostra duetos com a cantora brasileira Maria Rita e os irmãos Braimah e Sheku Kanneh-Mason.
Outra novidade que o MIMO PORTO também traz em exclusivo a Portugal, é a rapper e atriz KT Gorique. Nascida na Costa do Marfim, aos 21 anos, foi “Campeã do Mundo” na batalha “End of the Weak”, em Nova York e também a primeira e mais jovem mulher a obter este título na história da EOW.
As novidades continuam na edição de 2022. Uma delas é a implementação na programação de um espaço dedicado à cultura Sound System. Montado no Jardim das Virtudes, o espaço recebe grandes nomes ligados à cena sound system, com destaque para Channel One, um dos reggae sound systems mais conhecidos e amados do Reino Unido. Mikey Dread – Channel One – e seu irmão Jah T., começaram a tocar no Carnaval de Notting Hill, em 1983, e nunca mais pararam. Outro representante de peso, o Brother Culture Sound System, está presente há 30 anos na cena dub roots britânica. Após a conquista do Reino Unido, a partir do Dub Club de Londres, Brother Culture conquistou a Europa e estará presente no MIMO Festival a tocar emoldurado pela vista panorâmica das Virtudes.
Provando que esta cultura se espalhou pelo mundo, do Brasil virá o Ministereo Público Sound System, criado em Salvador, em 2005. O coletivo já dividiu palco com artistas como Manu Chao, Martin Campbell, Natiruts e The Congos, Max Romeo e Alpha Blondy.
Em parceria com a Universidade do Porto e o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, o festival apresenta uma série de atividades dedicadas à Amazónia brasileira, através do olhar de artistas multidisciplinares nascidos na região, de diferentes etnias, tendo como pano de fundo a maior floresta tropical do mundo.