Vodafone Paredes de Coura 2018… A celebração dos Sentidos

Sempre assente nos sentidos, o Vodafone Paredes de Coura sabe como ninguém trazer a energia, as emoções e as vivências sempre ao de cima. A 26ª edição não fugiu a essa premissa, pelo contrário, reforçou mais esse casamento entre sentimentos, música e claro, a beleza natural do Couraíso, tido há muito como o verdadeiro habitat da música, frases feitas mas que fazem sentido para quem passa por lá.

A edição de 2018 chegava ao fim, mas a edição de 2019 começa a ganhar forma. Ao início da tarde foram apresentadas as datas para a edição do próximo ano, 14 a 17 de Agosto, bem como foi feito um balanço da edição de 2018. Cerca de 100000 pessoas passaram pela edição 26 do Festival, edição que contou com bastantes alterações de forma a oferecer um conforto suplementar para quem viveu o festival intensamente.

Mas voltando aos sentimentos, a magia de Coura esteve presente desde a primeira hora, mas seria neste último dia mais intensa, mágica e única, quer pelo regresso nostálgico 13 anos depois dos Arcade Fire, quer pelo concerto único e irrepetível dos Dead Combo com o norte americano Mark Lanegan.

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Mais uma vez as tardes eram passadas junto ao rio Coura, com a música de mais 2 projectos nacionais, a poesia brejeira, burlesca, satírica e erótica dos Penicos de Prata e a aventura a solo do baterista e vocalista dos Stone Dead, Mr. Gallini.

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Os Keep Razors Sharp são uma superbanda nacional, composta por Afonso (Sean Riley & The Slowriders), Rai (The Poppers), Bráulio (ex-Capitão Fantasma) e Bibi (Pernas de Alicate, entre outros). Isto é o que sabemos desde 2014, altura em que lançaram o seu disco de estreia. 4 anos depois a banda regressa, para já com um tema novo, “Always & forever” e com a promessa de um segundo disco muito em breve. Com uma sonoridade entre o psicadelismo, o shoegaze e o pós-rock, o palco Vodafone FM foi pequeno para a intensidade que se viveu na abertura do último dia do Vodafone Paredes de Coura, mesmo com Raiseguro’ com uma dose de morfina após uma queda horas antes. Os 40 minutos foram vividos intensamente, onde temas como “The Lioness”, “9th” ou “By The Sea” marcaram a apresentação, bem como uma afluência elevada logo na abertura do último dia.

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Soul, love & sweat…. Assim se pode definir o que se passou ao final da tarde no palco Vodafone. O regresso de Myles Sanko a Portugal não poderia ter sido melhor, e logo no palco maior do festival. Dono de uma voz única e de uma presença em palco a lembrar as brilhantes estrelas da soul music norte americanas, o Inglês cedo conquistou um público exigente e conhecedor das canções de Myles Sanko.

Com muita alma (soul), Myles entra em palco ao som de “Just Being Me“, incluído no disco mais recente, num ritmo frenético e animado, marcando logo desde o início, o ritmo do concerto. “Is there love here tonight?”… Myles procurava o amor, o amor do público e o carinho de quem por ali relaxava ao som da voz profunda do britânico. No final, um misto de insatisfação de ter que deixar o público ao fim de 40 minutos. Myles é daquelas vozes e presença em palco que vai perdurar na memória de todos, e merecedor de um concerto em horário mais nobre no festival, de modo a compensar o efeito agridoce de um concerto (muito) curto.

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A terceira proposta musical do último dia chegava de Barcelos para se instalar no palco Vodafone FM. Liderados pela voz sedutora de Graciela Coelho, os Dear telephone, acabaram por ser prejudicados pelo concerto de Myles Sanko.  Num dia carregado de excelentes propostas repartidas pelos dois palcos, as escolhas por vezes são difíceis, e as opções do público acabaram por cair pelo conforto, e por o que se passava no palco principal. Mas a curiosidade de muitos acabou por ser brindada por uma excelente apresentação ao vivo de “Cut”, o segundo disco dos Dear Telephone. Canções eficazes, em registo cinematográfico, como os próprios tinham referido em entrevista à Glam Magazine horas antes, e que transportaram o público à estratosfera para depois, suavemente, nos fazerem aterrar em Paredes de Coura.

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Se Myles foi Soul, love & sweat, Curtis Harding juntou mais 2 ingredientes, o groove e a nostalgia. Curtis é dono de uma voz que transmite dor, prazer, anseio, tristeza e força numa gama completa de emoções, assente em sonoridades soul dos anos 60 mas com os riffs de um psicadelismo tímido, timbrado em falsetes gospel, influências da mãe, Curtis tem a habilidade de misturar tudo e criar o magnetismo que prende o público às suas apresentações. “Face Your Fear”, o seu mais recente disco, é a fusão da sua visão da música. Um concerto irrepreensível do músico de Michigan que segurou um público adulto e exigente que àquela hora já ocupava quase por completo o anfiteatro natural do Coura.

A homenagem a Aretha Franklin não ficou esquecida.

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Liderados por Adrianne Lenker, os Big Thief tinham a difícil tarefa de segurar um público conquistado pelo amor e pelos sentimentos de Myles e Curtis, e que esperava pelos regressos dos Dead Combo e Arcade Fire. Já referido, um público adulto e exigente que encontrou no início da noite uma voz minimalista mas aveludada por vezes acutilante levando a nossa imaginação a registos semelhantes com Angel Olsen. O minimalismo foi a noite dominante ao longo do concerto, onde o disco “Capacity” foi despido de uma ponta à outra, sem a presença de um dos elementos do grupo, num palco enorme que acolheu a banda bem no centro do mesmo.

Rótulos à parte, o folk aliado a uma linguagem mas aproximado do indie rock, serviu como cartão de visita do grupo de Indianápolis na sua estreia em Portugal. Das agruras  às alegrias e recompensas da vida, os ‘sentidos’ marcaram mais um concerto na 26ª edição do Vodafone Paredes de Coura.

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Uma verdadeira instituição musical, os Dead Combo dispensam apresentação ao fim de 15 anos de carreira. Desde o longínquo disco de estreia intitulado “Vol I” até ao mais recente “Odeon Hotel”, os Dead Combo são peça fundamental na música Portuguesa. A reinvenção sempre foi a palavra de ordem de To Trips e Pedro Gonçalves ao longo dos anos, na forma de recriar a sonoridade clássica da guitarra portuguesa. Em 2018 o duo foi mais longe, mais longe na sonoridade, mais longe nas apresentações ao vivo, mais longe no número de elementos e mais longe no palco do Vodafone Paredes de Coura. “Oden Hotel” junta no mesmo disco e neste caso em palco um leque de músicos que evoluíram a música do duo a um patamar muito difícil de igualar. Quintino, Gui (sim o dos Xutos), Gonçalo Prazeres e Alexandre Frazão na bateria, juntamente com os 2 rapazes transformaram o palco principal do festival numa anarquia musical sempre com Tó Trips a ‘assassinar’ a(s) guitarras e Pedro Gonçalves a marcar o ritmo, quer com a sua coleção única e estranha de guitarras, quer pelas teclas abordadas das mais diferentes formas.
Deus me Dê Grana” a abrir, “The Egyptian Magician” dedicada a Zé Pedro, “As Quica As You Can”, “Rumbero” sem as cordas da má fama mas com muito mais energia, encerrando com “Lisboa Mulata”, foram algumas das passagens mais marcantes da noite de sábado em palco. Mas o momento mais aguardado por muitos chegava na parte final do concerto. Mark Lanegan juntava-se ao palco para 3 canções, “I Know, I Alone” de “Odeon Hotel”,  “Fire of Love” e “Wedding Dress” do disco de 2004 “Bubblegum” do norte americano.
Aposta mais que ganha e mais uma vez a música nacional a sair vencedora no palco principal do festival que desde sempre estendeu a passadeira vermelha a grandes projectos lusos e que marcou esta 26ª edição, onde Linda Martini e The Legendary Tigerman marcaram pontos no horário nobre.

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Se os Dead Combo são uma instituição musical em Portugal (e não só), os Arcade Fire ocupam essa posição a nível global. Foi em 2005 que os Arcade Fire se estrearam em Portugal, num concerto na Praia Fluvial do Taboão. O acontecimento histórico, no palco principal do festival, vive até hoje na memória de todos os que o presenciaram, e no imaginário de todos os que o perderam. 13 Anos depois desse concerto, o colectivo canadiano cresceu à escala global mas não perdeu a energia que conquistou milhares em 2005.
Na altura, “Funeral”,  o disco de estreia do grupo de Montreal, que presenteou o público com uma actuação explosiva, catártica, capaz de provocar epifanias a tantos que ali estiveram. A banda, e a sua visão muito própria que criou do rock alternativo, continua a fazer História com a intensidade de sempre e uma carreira repleta de canções, que viram verdadeiros hinos, veja-se o recente “Everything Now”.
Ao longo da sua carreira de 15 anos, a banda liderada por Win Butler construíu uma autêntica viagem musical preenchida com sucessos que vão desde o EP de estreia, homónimo, em 2013 até à mais recente ode musical da banda dos subúrbios de Montreal “Everything Now”.
O combate da noite abria com a faixa título do mais recente trabalho, com passagens por temas marcantes dos restantes 4 álbuns da banda, sem esquecer o marcante “The Suburbs” de 2010  e o mais recente “Reflektor” de 2013 sem David Bowie mas com Régine Chassagne  a ocupar o topo da régie com uma bola de espelhos. Se horas antes os Big Thief tinham-se acomodado num pequeno espaço no palco, os Arcade Fire pouco espaço livre deixaram no mesmo, um dos motivos que o palco desta 26ª edição maior que as edições anteriores. A capacidade da banda alternar entre instrumentos e coreografias, simular autênticos confrontos físicos, saltar para o junto do público, sentir o pulso do festival marcaram definitivamente este regresso 13 anos depois. Do frenesim do inicio do concerto, à electricidade de “Electric Blue” e  do complexo “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” nada ficou por apontar nem nada ficou esquecido no alinhamento ao longo de 100 minutos em palco. 13 Anos depois a memória continua para as 28 mil pessoas que ali estiveram com as memórias a perdurar por muitos mais anos. “Everything now”… veio para ficar

 

Terminava assim a 26ª edição do Vodafone Paredes de Coura. Um edição onde o público mais uma vez acolheu de braços abertos as mais de 40 propostas musicais que passaram em Paredes de Coura ao longo de 4 dias de festival. Da poesia ao início da tarde, aos moches de King Gizzard, à terapia de Slowdive, à anergia de The legendary Tigerman terminando numa apoteose dos Dead Combo e claro Arcade Fire, esta edição do festival que caminha a passos largos para a sua idade adulta, vai ficar na história, numa história que acontece à 27 anos e que ocupa um lugar muito especial no coração de quem passa por aquele local mágico ao longo do dia.

All my friends” dos LCD Soundsystem assinalaram a despedida, acompanhada de celebração com confetis e bolas gigantes.
Em 2019 a partir de 14 de Agosto lá estaremos, para fazer parte da história do festival que alterou para sempre a forma de ouvir e sentir a música.

 

Reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo

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