Tó Trips & João Doce e Jorge Coelho encerram com chave de ouro o ciclo As Guitarras Não Têm Saudade

Encerra este sábado o ciclo de concertos de guitarra promovido, este mês, pela Fundação Bissaya Barreto: três noites singulares com alguns dos mais desafiantes intérpretes de cordas nacionais. O dedilhado frenético e espontâneo de Tó Trips em conjunto com a percussão experimental e tribalista de João Doce, e os sons exploratórios pintalgados de harmonias folk do trabalho nas seis cordas de Jorge Coelhosão as últimas duas propostas de um ciclo que ousou fazer-nos viajar pela qualidade e originalidade de alguns dos artistas portugueses que fazem das guitarras o local onde o futuro acontece.

O encontro de Tó Trips e João Doce dá-se a meio caminho entre o álbum de estreia do primeiro e um café melancólico em Esmoriz. Se trazia a sua “Guitarra Makaka” e o imaginário do velho oeste, da boémia lisboeta, a tradição cubana a lembrar Marc Ribot dos seus Dead ComboJoão trazia o compasso dado aos seus Wraygunn, onde talha o som da banda a machado sobre rolos de madeira. No encontro, dá-se o diálogo meticuloso, sensível e efusivo que resulta no primeiro disco em conjunto “Sumba“. Tal como nesse sítio imaginário, no sábado, na Casa Museu Bissaya Barreto, o tempo não vai existir. Tudo é será contemplado, admirado, belo e impoluto.

A noite arranca com Jorge Coelho, um dos segredos mais mal guardados do panorama nacional. Músico de muitas aventuras, dos Cosmic City Blues aos Zen, à composição de bandas sonoras em parceria com Alexandre Soares ou Adolfo Luxúria Canibal. Actualmente podemos ouvir Jorge Coelho como guitarrista dos Torto, ao lado de Jorge Queijo e Miguel Ramos. A solo, como numa pausa, pousa a guitarra ao colo para divagar por entre um imaginário sem lugar para o entretenimento persuasivo. Com 3 discos editados, Jorge Coelho parece convencer-nos que a vida é um jogo de contínuas subidas e descidas de tom. O poema é agora a alegoria de um mundo dissonante, desenhado numa incerteza melódica tremendamente crua. O mesmo mundo que ecoar pela Casa Museu

Porque dia 18 de Novembro, pelas 21h30, na Casa Museu Bissaya Barreto, mais uma vez, Coimbra tem mais encanto quando “As guitarras não têm saudade”.