“Screenshot” é o segundo single a abrir caminho para o álbum “Galavanting” dos Time for T a ser editado no próximo dia 4 de Outubro. O tema foi lançado pela Street Mission Records, uma nova parceria feita entre a banda e a editora que começou em Londres, mas agora baseia-se em Lisboa e conta com outros artistas nacionais como Marinho e Niki Moss.
O single tem tido uma excelente recepção e quando foi tocado no Festival Vodafone Paredes de Coura, foi cantado por grande parte do público.
A ideia para o vídeo surgiu após Tiago Saga e o amigo e grande realizador Rui Major começarem a desembrulhar ideias. Decidiram levar o título do tema literalmente para o vídeoclipe, tentando capturar um screenshot de várias vidas e personalidades diferentes, como numa representação de um espaço-tempo único, transversal à realidade contemporânea da nossa sociedade.
A intenção foi unir as pessoas todas pelo uso, quase ridículo, do telemóvel. Um objecto que tem invadido as nossas vidas gradualmente nos últimos anos, sendo quase uma extensão física e espiritual da nossa pessoa. A realidade é que fazemos tudo com o telefone na mão e por isso quiseram abordar estes contextos de uma forma amplificada, surrealista e absurda, com o objectivo de atribuir um tom satírico, que é cómico numa primeira observação, mas chocante quando consciencializamos que é bastante real. Curiosamente, ao longo do processo de definir e produzir novas situações a filmar, consoante abordávamos as pessoas com a proposta, muitas vezes elas próprias se reviam na situação, e consciencializavam o absurdo da mesma. Inicialmente o filme seria todo construído apenas com retratos de pessoas ao telemóvel, em ritmo lento. No entanto, em narrativa paralela, decidimos construir uma acção que retratasse as questões consequentes a estas utilizações dos smart phones. A mensagem pertinente a partilhar é a alienação que os telemóveis pode criar entre as pessoas, um paralelo à moralidade de “Smart Phones, Stupid People“.
É aí que surge o lip-sync e performance do Tiago Saga, sempre com o telemóvel na mão, a deambular num cenário inóspito, numa coreografia contemporânea que o leva a caminho de lado nenhum, em que o cansaço, o desequilíbrio, o sofrimento, a exaustão, a dor e o desespero nada importam desde que o telemóvel esteja com ele (até quando cai fica com ele na mão), quase numa referência à “última gota de água no deserto”.
Nesse sentido, a câmara também foi coreografada com essa inquietude, sendo desequilibrada, ansiosa, entre focos e desfoques, numa procura de algo que não é concreto e definido.
Para a cinematografia, a abordagem a preto e branco surgiu como um proposta estética que o Rui Major queria explorar na sua obra há algum tempo. Vimos neste filme a oportunidade certa, uma vez que embora seja um retrato da realidade dos nossos tempos presentes, o preto e branco confere-lhe um tom intemporal. Desprovido da cor não o enquadramos numa estética ou era, o que facilmente definiria um estilo e um tempo na história associado, deixando o contexto narrativo dos personagens e telemóveis a única referência à época. Sem os ruídos da cor, a abordagem cinematográfica em enquadramentos de retrato, com pequenos e discretos zoom-in, surgiu pela permissa do vortex onde entramos quando concentrados no telefone, em que nos isolamos de tudo à volta e o tempo passa a ser lento e/ou indefinido.
photo: Paulo Homem de Melo / arquivo Glam Magazine