The Gift confirmados no Maia Compact Records Fest’22

Nos dias 18, 19 e 20 de Março de 2022, o Complexo Desportivo da Maia recebe a primeira edição do Maia Compact Records Fest’22, que apresenta algumas afinações à programação já anunciada: a noite de abertura, em que se festejam os 25 anos da Compact Records, organizadora do festival, conta agora com as actuações de The Human League, Herman José, The Gift e dos DJs da discoteca O Batô.

 

No dia 19 de Março a celebração continua com os Orchestral Manoeuvres in the Dark, UHF, Táxi e The Last Internationale e termina no dia 20 de Março, com os Editors, dEUS, Mão Morta e The Legendary Tigerman.

“Estava-se em finais de 90. Nas festas de casamento era-se embalado por Celine Dion, nos recreios cantava-se Backstreet Boys e em campos de férias aprendia-se letras dos Hanson. Ah, e se nos funerais se ouvia ‘Candle in the Wind’, de Elton John, o mundo não deixava de ser uma enorme pastilha elástica mastigada ao som das Spice Girls. Quase ninguém usava internet – e óbvio que de telemóveis, redes sociais ou plataformas de streaming, nem um pio! Dito assim, até parece 1897. E realmente a música popular envelhecia a passos largos: Bowie fazia 50 anos, McCartney ordenava-se Cavaleiro, Madonna era Evita, os U2 entravam em crise meia-idade, e o regresso ao ativo de Blondie, Echo and the Bunnymen e Depeche Mode não destoava assim tanto do que fazia o Buena Vista Social Club.

 

Nada disto era muito normal. Mas, em retrospetiva, o mais estranho, ainda, era o que se vendia: na altura, no mercado português, os discos de culto – de Björk, Divine Comedy, Elliot Smith, Yo La Tengo, Spiritualized, Tindersticks, Mogwai, Royal Trux, Sonic Youth, Mercury Rev, Pulp, Beck ou Cat Power, por exemplo – vendiam numa semana o que vendem agora Billie Eilish, Olivia Rodrigo, Harry Styles, BTS, Dua Lipa, Weeknd ou Taylor Swift num mês! Dava trabalho, no entanto. Era preciso entrar-se numa loja, perguntar-se pelo “Album of the Year” e os empregados saberem que nos referíamos ao novo dos Faith no More – por acaso, na época, uma banda dada já como irrelevante, pelo menos quando comparada com Mouse on Mars, Autechre, Air, Massive Attack, Boards of Canada, Aphex Twin… Luminárias de umas circunstâncias muito específicas em que, pelos vistos, se previa a extinção da guitarra.

 

Abílio Silva não ligava muito a essas conjeturas e quem o conhece sabe muito bem o que é que ele andava a comprar. Mas o mais provável seria julgar-se que comprava tudo! No grupo de amigos, era o Abílio que tinha uns milhares de discos em casa, era ele que batia as lojas, ia aos concertos e que ouvia os programas de rádio que interessava ouvir. De tal modo, aliás, que um dia lhe falaram de um armazém, na Holanda, que enviava discos pelo correio e que talvez lhe arranjasse algumas das novidades que, apesar de tudo, não chegavam cá. Estas histórias começam sempre assim: foi porque queria discos para a sua coleção e para as coleções de uns quantos amigos que o Abílio constituiu a Compact, e foi por acreditar que a sua paixão era partilhada por muita gente mais que um dia colou numa parede d’O Meu Mercedes é Maior Que o Teu um poster a anunciar essa sua atividade, com umas quantas capas e uma morada. Até que lhe chega uma carta.

 

Era de uma loja de discos, curiosa, interessada, a querer saber condições, preparadíssima para fazer uma encomenda. A que se seguiu outra, e depois mais outra, numa ecologia comercial muito distinta da de hoje, em que as grandes superfícies vendiam CDs, megastores só mesmo a recém-chegada Virgin e com umas quantas cadeias nacionais e uma série de pequenas lojas independentes espalhadas um pouco por todo o país. Com a ajuda de um artigo da Proteste, o Abílio começou a inseri-las numa base de dados: eram mais de 300, muitas ignoradas pelas multinacionais e a necessitar desesperadamente de um armazenista de confiança que não só lhes conseguisse fornecer a música dos tops como também títulos mais obscuros ou retirados de catálogo ou lançados por editoras sem representação local. Muito depressa, era na própria Virgin ou na novíssima FNAC que não se dispensava a consulta da oferta da Compact. Surgem novas parcerias, novos fornecedores, novos clientes, com o Abílio a pegar no carro aos sábados, carregado de amostras e listas de promoções e a compreender em primeira mão que a procura era bem maior do que a oferta.

 

Amigos noutras distribuidoras começam a recomendar a Compact. De Inglaterra, telefonam-lhe da One Little Indian, de França, da Wagram, e a Compact torna-se, assim, representante de catálogos em regime de exclusividade nacional, algo que dura até aos dias de hoje, com parcerias com alguns dos selos mais relevantes nas respetivas áreas: da Nuclear Blast à SPV, da Analog Africa à Mr. Bongo, da Kscope à Bureau B, da Glitterbeat à Metal Blade, etc, etc. Ao mesmo tempo, artistas portugueses começam a ver os seus discos a chegar às lojas através da Compact, o que cimenta a posição da empresa no meio, apesar de se começar a perceber que tudo assentava em areias movediças: a partir de 2007-2008, com a crise financeira e a proliferação da pirataria, uma área de negócio já de si fragilizada pela insolvência de cadeias de lojas – e o desaparecimento de lojas independentes incapazes de competir com os líderes de mercado – vê-se ainda mais abalada pelos efeitos recessivos da crise das dívidas soberanas. Presença assídua em certames internacionais da indústria fonográfica, como o MIDEM, em França, o Abílio passa então de importador a exportador, o que lhe permitiu estar na linha da frente quando se dá o boom do e-commerce, em 2013.

 

Agora, o Abílio pode afirmar com certeza que em qualquer local do mundo onde se pretenda comprar CDs, LPs ou DVDs se encontra títulos disponibilizados pela Compact. Aliás, em termos da oferta – tendo concentrado muito da sua capacidade de investimento na aquisição de stocks de qualidade – situa a empresa entre as líderes mundiais, com cerca de quatro milhões e meio de unidades em armazém, prontas a despachar. O que, de certo modo, viabilizou a concretização de um sonho antigo, intimamente ligado à sua história de vida: a abertura de lojas, que teve como arranque a compra da Auditu, em Leiria, e como corolário a da Tubitek, no Porto (atualmente com sucursais em Braga e Lisboa). Exatamente daquelas lojas em que há 25 anos se podia ir pedir o “Album of the Year” que haveria de se encontrar atrás do balcão quem soubesse perfeitamente do que é que estávamos a falar. Ainda se pode. Aí mas também na distribuição, na gestão de stocks ou no site, encontram-se hoje muitos daqueles que direta ou indiretamente foram ao longo dos anos fazendo parte da história da Compact, e que sabem que seja 25 de dezembro ou 1 de janeiro, faça chuva ou faça sol, o Abílio há-de estar a fazer aquilo que mais gosta: a dar música ao mundo!”

 

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