Texto de Marguerite Duras no Teatro Rivoli… “A Fera na Selva”

Nos dias 8 e 9 fevereiro, Miguel Loureiro apresenta, no Teatro Rivoli, “A Fera na Selva” – uma peça sobre “o medo de afirmar coisas na vida.” Esta é a história de um affair entre John Marcher (Filipe Duarte) e May Bartram (Margarida Martinho), mas sobretudo entre o público, que assiste, e eles, que adiam a vida.

 

Dois atores para duas personagens em décor sóbrio, indefinido, talvez intemporal.

Explicam-nos o mundo, como Marguerite Duras costuma explicar, explicam-nos a impotência perante esse mundo, perante o amor que adiam, perante o medo que pressentem na fera que espreita, sensação que domina John, a catástrofe eminente, que os arrastará para o fim.

 

“A fera na selva” (“The beast in the jungle”), escrito por Henry James, em 1903, foi o ponto de partida para a autora francesa, Marguerite Duras, em 1961, fazer uma primeira versão da peça homónima, onde regressou em 1983, estabelecendo o texto que agora foi trabalhado pelo encenador.

 

Miguel Loureiro explica que “esta é uma peça introspetiva, de alguém que se sente assustado porque não tem atividade na vida – profissional ou pessoal. São dois aristocratas, um homem e uma mulher – o homem está paralisado de medo, porque acha que há uma grande catástrofe à espera dele e isso impede-o de viver; a personagem feminina solidariza-se com ele e o tempo passa. Entre distrações, ficam velhos e morrem. A fera nunca salta para fora da selva e nada acontece, realmente.” Sublinha ainda que “é uma peça sobre o impasse e o medo de afirmar as coisas na vida.”

 

A partir da tradução de João Paulo Esteves da Silva, o encenador trabalhou a peça, onde o seu principal interesse era o de “explorar a história do teatro, de onde vem, as questões do texto, quando se estabelece a cena ou não, quando existe teatro ou deixa de existir. Há, no entanto, uma coisa que nunca pode escurecer: o amor pelo texto, porque o teatro é ainda muito ligado à literatura, àquela que é pensada para o palco.”

O encenador conclui ainda que “este espetáculo é misterioso. Tem um enigma, sem qualquer linha de projeção do meu pensamento político, económico ou social“, até porque isso não lhe interessa, mas sim “lidar com mistérios e enigmas.”

 

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