Finisterra é o novo gesto internacional do Teatro Nacional São João, após a produção de dois espetáculos em parceria com teatros nacionais de Espanha e França. A partir de 27 de janeiro, o São João apresenta uma mostra de espetáculos internacionais, projetados em conjunto por dez teatros nacionais de Espanha, França, Luxemburgo, Roménia, República Checa, Eslováquia, Bulgária, Eslovénia, Sérvia e Grécia. Finisterra é um projeto gerado no interior da União dos Teatros da Europa – rede que o teatro nacional portuense integra desde 2003 –, em que cada produção resulta da parceria de dois teatros nacionais, nos quais é levada à cena.
Iphigénie, Decalogue of Anxiety, Prometheus ’22, Focs/Vatre e Iokasté são os títulos dos cinco espetáculos que resultaram desta colaboração europeia. Tomando como mote a matriz clássica da tragédia, as coproduções procuram refletir sobre a experiência da catástrofe, questionando o impacto da pandemia ou o recrudescimento dos nacionalismos no continente europeu. Estes diálogos internacionais chegam ao Porto a partir de janeiro e são sequencialmente apresentados no Teatro São João e no Teatro Carlos Alberto, ocupando a programação de todo o mês de fevereiro.
É com Iphigénie (na foto), uma produção do Théâtre National de Strasbourg coproduzido pelo TNSJ, que a mostra de espetáculos internacionais Finisterra tem início. Com texto de Tiago Rodrigues e encenação de Anne Théron, Iphigénie encena o destino de Ifigénia se os homens que decidem a sua sorte não se submetessem à autoridade dos deuses. Uma abordagem ao livre-arbítrio que seduziu a encenadora francesa, que explora com frequência o grito interior das mulheres nas suas encenações. O espetáculo em língua francesa conta no elenco com os atores portugueses Carolina Amaral e João Cravo Cardoso nos papéis de Ifigénia e Aquiles. Depois de uma digressão por França que começou com a abertura do Festival d’Avignon, Iphigénie sobe ao palco do Teatro São João nos dias 27 e 28 de janeiro.
A peça que se segue, Decalogue of Anxiety, é uma coprodução búlgaro-luxemburguesa com dramaturgia de Florian Hirsch, do Théâtre National du Luxembourg, e direção artística de Margarita Mladenova e Ivan Dobchev, do Theatre Laboratory Sfumato. A partir do romance distópico Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, o espetáculo imagina um grupo de dissidentes que procura salvar a literatura mundial das chamas, memorizando alguns dos grandes textos da humanidade, de Platão a Dostoiévski e de Tchékhov a Heiner Müller e à sua Máquina-Hamlet. Decalogue of Anxiety é um espetáculo em língua portuguesa, inglesa, alemã, francesa, castelhana, grega e búlgara, uma esquizofrenia idiomática protagonizada por dez jovens atores e atrizes, entre os quais o português Daniel Pinto. Estreia no Luxemburgo uma semana antes de chegar ao palco do Teatro Carlos Alberto, nos dias 3 e 4 de fevereiro.
A 10 e 11 de fevereiro, o Teatro Nacional São João acolhe o regresso do encenador romeno-húngaro Gábor Tompa, autor da encenação de À Espera de Godot recentemente produzida pelo TNSJ. Acompanhado por Ágnes Kali, Gábor Tompa propõe Prometheus ’22, uma coprodução dos romenos Hungarian Theatre of Cluj e Constanţa State Theatre e do eslovaco SNT Drama Ljubljana. A partir de Prometeu Agrilhoado, de Ésquilo, a peça faz um elo paradoxal entre os intelectuais – cientistas, médicos, artistas – do século XXI e o titã da mitologia grega. Segundo o encenador, Prometheus ’22 aborda o mito de Prometeu a partir uma perspetiva irónica, explorando a sua relevância no mundo contemporâneo. O espetáculo em esloveno, romeno, húngaro e inglês é uma homenagem ao dramaturgo Samuel Beckett.
Nos dias 17 e 18 de fevereiro, sobe ao palco do Teatro São João Focs/Vatre, encenado por Carme Portaceli, diretora do Teatre Nacional de Catalunya, instituição que produz o espetáculo em parceria com o sérvio Yugoslav Drama Theatre. Focs/Vatre – catalão e sérvio para “fogos” – baseia-se em Feux, da escritora belga Marguerite Yourcenar. Publicada em 1936, a obra é uma sequência de textos sobre o conceito de amor que tem por base as figuras da mitologia grega. A peça em línguas sérvia e catalã estreia na Sérvia no dia 2 de fevereiro.
A fechar o Finisterra, o Teatro Carlos Alberto recebe Iokasté, uma coprodução checo-eslovaca, falada em ambas as línguas, com texto e encenação do encenador eslovaco Lukáš Brutovský. Depois de já ter estreado nas instituições produtoras, o Prague City Theatres e o Slovak Chamber Theatre – SKD Martin, o espetáculo apresenta-se agora no Porto nos dias 24 e 25 fevereiro. Iokasté – Jocasta, em português – foca-se nesta figura da mitologia grega, dando-lhe a centralidade e a voz que nunca teve, para investigar as raízes da misoginia, do antifeminismo e da masculinidade tóxica.