Poderá uma obra manter-se atual 70 anos após a data da sua criação?
Ciente do desafio, o coletivo Ensemble – Sociedade de Actores pôs mãos à obra e decidiu revisitar um dos primeiros trabalhos de Eugène Ionesco, intitulado Jacques ou a Submissão. A obra, escrita em 1950 foi levada a palco, pela primeira vez, em 1955. A peça tira partido do teatro do absurdo ou do insólito, como Ionesco preferia chamar-lhe para que através da palavra, relata a resignação total do seu protagonista.
Depois de uma curta passagem pelo palco digital do Teatro Nacional São João, o espetáculo apresentou ao público num espaço físico nesta quarta feira ao final da tarde.
Jacques ou a Submissão apresenta um protagonista que vive preso num jogo de convenções sociais de cujas regras se quer libertar. Antecipando o conformismo das sociedades capitalistas, Jacques questiona o conceito de liberdade e como se pode viver em liberdade, acabando por ser conduzido “até à mais completa submissão”, chegando mesmo a resignar-se a “uma espécie de quietude biológica”.
A ação ao longo da apresentação foi sendo pontuada por elementos de humor e de histeria, desenvolvendo-se sobretudo no plano das palavras. A linguagem e o nonsense são os instrumentos de poder desta comédia fatalista, onde se opera a transformação do burlesco risível numa apoteose do grotesco moderno.
Em palco, Emília Silvestre, António Afonso Parra ou Clara Nogueira, entre outros, deram a vida necessária para apresentar, sob encenação e cenografia de Jorge Pinto, o absurdo de Jacques ou a Submissão.
Jacques ou a Submissão vai estar em cena até ao dia 2 de Maio.
Fotografias / Reportagem: Paulo Homem de Melo