Sem-vergonha ou o cinema de Doris Wishman em retrospectiva no Indielisboa 2022

“Depois de morrer, estarei a fazer filmes no inferno!”, afirmava a lendária realizadora norte-americana que chega este ano ao IndieLisboa. Doris Wishman (1912-2002) passou meio século na vanguarda da má reputação, tornando explícito com o seu cinema aquilo que não era permitido à imagem. Autodidata, Wishman construiu sozinha a sua carreira, produzindo, realizando e montando a maior parte dos filmes que compõem a sua filmografia, e que serão apresentados em conjunto com a Cinemateca Portuguesa já na próxima edição do festival.

 

Estreou-se em 1960 e tornou-se pioneira da sexploitation feminina no cinema ao longo da década. Começou por produzir os chamados nudie cuties, dos quais se destaca Nude on the Moon (1961), uma longa-metragem de fantasia científica que leva dois astronautas a descobrir uma colónia de nudistas na lua. Mas o crescente desinteresse do público pelo estilo fez com que a cineasta mudasse o rumo do seu cinema e seguisse o caminho dos roughies, um subgénero popular à época que combinava desejo e violência, e que em Wishman acabou por denunciar um olhar sobre o que significa ser mulher. Com o frenético Bad Girls Go to Hell (1965), a sua obra-prima por excelência, hostilidade para com as mulheres e tentações pervertidas tornaram-se temas recorrentes. Audaciosamente eróticos e de carácter protofeminista, fazem ainda parte da sua lista de filmes mais conhecidos os títulos Deadly Weapons (1974), Double Agent 73 (1974), ou o semi-documentário Let Me Die a Woman (1978).

 

Afastou-se da indústria nos anos oitenta e a artista Peggy Ahwesh foi reencontrá-la em Miami, em 1994, a trabalhar numa sex shop. Uma “mulher obcecada com os temas do estatuto social e liberdade feminina, o drama contemporâneo do medo, desconfiança e o desafio entre os sexos”. É assim que Ahwesh descreve o cinema daquela que até à data é a cineasta mulher com mais filmes realizados, na sua zine The Films of Doris Wishman, produzida pela primeira vez em 1995. Peggy Ahwesh irá estar em Lisboa durante o festival, para acompanhar a retrospectiva que este ano mostra cinema só para adultos.

Em 2022, o IndieLisboa volta a ocupar as salas do Cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, entre os dias 28 de Abril e 8 de Maio.

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