Seckou Keita ao vivo em Lisboa…

Conta-se que o primeiro corá foi oferecido pelos jinis, espíritos da savana, ao griot Jali Madi. Quando ele morreu, os seus companheiros, homenageando-o, retiraram uma corda às 22 do instrumento. A maioria dos corás tem 21 cordas. Mas no Sul do Senegal, onde a “harpa africana” foi entregue pelos espíritos, usam-se 22 cordas. Foi com um instrumento destes que Seckou Keita gravou “22 Strings”, o álbum que está na base do concerto do próximo dia 30 de Novembro na Culturgest.

Keita quis gravar um CD a solo que mergulhasse nas raízes da música do seu povo, usando o instrumento original. Muitos músicos da África Ocidental têm utilizado o corá em incursões por músicas muito diversas, do rap ao jazz, do pop à fusão, acústicas ou elétricas. Depois de ter gravado, com imenso êxito, um álbum com a harpista galesa Catrin Finch (apresentado em concerto na Fundação Gulbenkian), neste CD preocupa-se em responder a duas perguntas: quem sou eu? Quem somos nós? Existe, hoje em dia, uma forte tendência para erradicar a diferença. Seckou Keita, reage a esse movimento, realça a diferença que há em si e no seu povo respondendo às duas perguntas primitivas.

Pelo lado do pai, Keita descende do rei fundador do Império Mali. Pelo da mãe, de uma antiquíssima linhagem de muito reputados griots. Educado por ela e pela família dela, desde muito pequeno que foi treinado, em treino duro, para ser griot e dominar a técnica, os segredos, as músicas centenárias do corá e do povo mandinga. Hoje faz parte da elite dos tocadores deste instrumento, a par de músicos como Toumani Diabaté.

“22 Strings” é um álbum mágico, de grande contenção e espiritualidade, unanimemente aclamado pela crítica. O concerto desta noite decerto será ainda melhor do que o disco. Porque é no contacto com as pessoas, no instante de tocar para os outros, que os grandes músicos revelam toda a sua arte.

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