Santa Casa Alfama’20… palco Centro Cultural Dr. Magalhães Lima

O Santa Casa Alfama está de regresso para dois dias em que um povo de encontra com a sua música, o Fado.

Nos dias 2 e 3 de outubro, alguns dos melhores fadistas da atualidade vão passar pelos vários espalhados pelo mítico bairro de Alfama. A pandemia da Covid-19 obriga a algumas mudanças, respeitando todas as normas da DGS, mas isso não impede que se continue a celebrar o fado em espaços tão emblemáticos como Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, e a programação preparada para este palco é mesmo imperdível: no primeiro dia, a 2 de outubro, o público vai poder ouvir o fado contemporâneo de Duarte e Maria Emília; no segundo dia, 3 de outubro, é a vez de ouvir a juventude de José Geadas, e a raça e a experiência de Filipa Cardoso.

 

A voz de Maria Emília é fresca e límpida, luminosa. Canta o fado como quem respira e sente-se em “Casa”. Nesse single de apresentação do seu primeiro disco, com a produção e o acompanhamento à guitarra de Carlos Manuel Proença, e as palavras de Cátia Oliveira, Maria Emília demonstra o seu amor ao fado e às casas de fado onde nasceu para a música, cresceu e se fez fadista. Em tom castiço (e de mão na cintura!) fala-nos de amor e de amores, de ciúme e compara o Fado ao Carnaval… Maria Emília nasceu em São Paulo, mas ainda muito jovem partiu para o Minho e aí teve o primeiro contacto com o fado, acompanhando o pai, guitarrista. Ouviu e começou a cantar. Viria depois a regressar ao Brasil, mas o fado já não a largou. Não resistindo à saudade, Maria Emília voltou a Portugal e deu início à sua carreira de fadista, atuando nas casas de fado mais emblemáticas do país. O sucesso do primeiro disco, editado em outubro de 2018, fez com passasse por vários destinos, como Argélia, Espanha, Reino Unido, França, Itália, Brasil, Nova Iorque, África do Sul, Suécia, Holanda, Lituânia… Em 2020 esta jovem e possante voz concluiu com sucesso uma digressão de 13 datas na Polónia, além de uma primeira incursão na Letónia.

 

Duarte, natural de Évora, viveu a sua infância e adolescência na vila de Arraiolos. Começou a cantar fado em jeito de brincadeira, mas essa relação foi ficando cada vez mais séria. Em 2004 apresentou o seu primeiro trabalho, “Fados Meus”. Pouco depois, a convite de Maria da Fé e do poeta José Luís Gordo, integrou o elenco do “Senhor Vinho”, onde continua a cantar. Em 2006 foi distinguido com o Prémio Amália Rodrigues, na categoria de Revelação Masculina. Desde aí nunca mais parou, destacando-se como “o Príncipe da Melancolia” ou como “o mais contemporâneo dos fadistas”. Em 2015 edita “Sem Dor Nem Piedade” e três anos depois lança “Só a Cantar”, com produção de João Gil. Nesse último trabalho a orientação artística ficou a cargo de Aldina Duarte, apontando quais as melhores melodias do fado tradicional para servir as letras de Duarte. Depois de cantar o fim de uma relação, nos quatro atos do disco “Sem Dor nem Piedade”, o fadista decidiu cantar histórias que venceram a solidão em “Só a Cantar”, editado em 2018. O registo dos cinzentos, a atitude contracorrente e a indiferença pelo mainstream são fatores que marcam o caminho deste nosso fadista. No final do ano de 2020 ou no início de 2021 será lançado um novo trabalho: “No Lugar Delas”. O fadista dá o mote com ReViraVolta, o primeiro single: “Porque estamos de voltas contadas. Porque haverá sempre novos lugares para cantar. Porque faz cada dia mais sentido cantar. Porque a ReViraVolta saiu de casa e veio para a rua combater a malícia dos dias. Porque fará sempre sentido uma nova canção de partida.

 

Filipa Cardoso estreou-se com apenas quinze anos na casa de fados “Taverna do Embuçado”, onde é contratada de imediato para integrar o elenco. Depois de alguns anos afastada das lides do fado, Filipa regressa de alma amadurecida marcada pelo facto de ter sido mãe e de ter tido experiências que a marcaram como mulher e a impulsionaram para fazer aquilo que mais gostava de fazer: cantar fado. Essa decisão fê-la ganhar a “Grande Noite do Fado” no Teatro São Luiz em Lisboa. Posto isto, passou a ser presença assídua em várias casas de fado como “Faia”, “Marquês da Sé”, “Café Luso”, “Clube de Fado”, até ter sido ouvida pela fadista Maria da Fé, proprietária do restaurante “Sr. Vinho”. Filipa grava o seu primeiro álbum em 2009. “Cumprir seu fado” contou com a produção de Jorge Fernando e com a participação especial da fadista Argentina Santos em “Fado da Herança”. Filipa encarna o fado mais genuíno, aquele que sai do bairro para conquistar o mundo. Mais recentemente, brilhou como protagonista do musical “Severa”, de Filipe la Féria, onde interpretou o papel da mãe do fado, e arrasou no programa “Enquanto Houver Santo António”, também de Filipe la Feria. Neste momento Filipa Cardoso está a preparar um novo disco.

 

José Geadas iniciou o seu percurso no fado em 2006, quando foi o vencedor da Grande Noite do Fado de Lisboa, ao interpretar um tema inédito chamado “Assim Sou Feliz”. Uns anos mais tarde, em 2010, concorreu ao programa “Uma Canção Para Ti”, onde alcançou o 2º lugar. Pouco tempo depois, participou no musical “Fado História de Um Povo” de Felipe La Féria, e em 2012 iniciou o Curso de Guitarra Portuguesa no Museu do Fado, conduzido pelo Mestre António Parreira. Hoje toca em algumas das mais emblemáticas casas de fado de Lisboa, como o “Luso”, “Adega Machado”, “Casa de Linhares”, “Boteco da Fé”, entre outras. José Geadas é uma promessa, mas também já uma certeza no fado.

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