Salgado Faz Anos Fest 2020… “A oferenda foi e sempre será a Música”

Antes das 21h já havia gente à espera sentada, isto é o que acontece quando um dos melhores programadores de Música do País faz anos e junta um punhado de boas bandas e djs portugueses para celebrar.
Às 21h30, as portas do 4o andar mais famoso da Invicta – Os Maus Hábitos – abriram para uma noitada de 9 horas de música. Atrás da cabine encontrámos o Jonas Gonçalves, isto é, o Dj Jetro Tuga a fazer uma ode ao Pop Rock retro português, tal como o nome artístico sugere, ora reparem bem. Com sorte, já viste o Jonas a tocar com os Stone Dead. É isso… um Dj cheio de bom gosto responsável por preencher os interlúdios entre concertos. A sala do palco Super Bock encheu-se rápido com sorrisos, abraços, beijos e os primeiros finos.
Às 22h, na Sala Mupi, o brasileiro O Gringo Sou Eu! rasgou a cortina da noite. O seu Funk interventivo atracou no Porto já faz alguns anos. De marcada componente social e política, a palavra é protagonista e quer mesmo te dar um abanão à mente. Sem papas na língua lembra a desigualdade e categoriza o agora como a “Era dos Idiotas”. Também conhecido por Frankão, o artista trabalha com várias associações, especialmente, com crianças, fora e dentro de Portugal usando a música como veículo educativo.
22:30. A festa ganhou músculo rockeiro e jovem  com o Collectivo Pointlist, nem mais nem menos que elementos de Sunflowers e Fugly. Psicadélico cheio de vontade, energia a subir notavelmente – fucking beautiful! Melhor que tomar um redbull! Energia pura. Cabeças a abanar, como não? A sala estava cheia. A malta adorou, claro.
Next. La Baq no palco Salgado. A brasileira residente em Leiria, apresentou o seu electro pop a uma sala cheia. A meio caminho entre Surma e Isaura de guitarra pendurada, drumstick na mão e computador ao lado, cria um ambiente harmonioso mas ao mesmo tempo firme. O Salgado fez questão de agradecer a presença de Labaq, uma das one-woman-band do momento.
Saltando para a Sala Experimental do Salgado Fest, encontrámos Nooito, um du composto por Arpa electrónica, mesa e voz. O som delas provocava uma certa angústia e desconforto remetendo a acontecimentos trágicos de alta intensidade. Ouviu-se a determinado momento entre uma espécie de gritos angelicais: “a gente se fode a gente se faz”. 
Voltando ao palco Super Bock, Don Pie Pie, a banda da Invicta divertiu o público. Rock fresco, maioritariamente, instrumental com ritmos surpreendentes. Descontraído e espontâneo!
No Palco Stockhausen, uma sala branca onde se pode ouvir o mais experimental do Salgado Fest, estava já a italiana Sara Pérsico. Video arte atrás dela, mesa à frente e voz para soltar interjeições. Ela cria um som tecnológico e incomodativo. São apenas técnicas de sobrevivência.
Enquanto isso os Fugly tocavam no palco com o nome do anfitrião. O refrão confessava o que todos sentem “Music makes me feel so good!”. Podíamos ver o Kevin dos Lonzdales’s Fantasy em palco a dançar, provando isso mesmo, em cada gota de suor.
El señor, a banda de Fafe manteve a linha do Rock n’Roll. Para além de felicitar o Salgado, tocou o último álbum “Suburbs of Join”, lançado em Novembro de 2019. Estes meninos ouviram muito rock inglês. “I want be the light for this city” Façam o favor de iluminar o que quiserem! O público abanava a cabeleira e cantalorava as letras contente.
Da luz para o sinistro som que a Joana Guerra cria…o violoncelo, o cabelo jogado encima do instrumento, os pedáis e a voz que serve para emitar muito mais que palavras – cria ambientes. Parecia que o que estávamos a ouvir era o ruído que sairia duma casa assombrada. Hipnótico! O público mais inquieto emitiu vários comentários. Os apreciadores permaneciam em absoluto silêncio, sentados ou de pé. Joana Guerra enfeitiça-te e leva-te para onde quer. O corpo da compositora contraía-se ao som da música que interpretava. Usava o loop para por cima integrar sons incomuns e longínquos, viagens que decorrem em álbuns como o “Passion” de Peter Gabriel.
De regresso ao palco Salgado, encontrei os veteranos ZEN já em modo crowsurfing aguerrido. Punk Rock alternativo, prata da casa, os ZEN não tocam todos os dias e só por isso já é uma celebração. Durões, sinceros e de palavrão afiado. Havia calor humano, emoção e revivalismo.
Depois de atravessar encontrei os Bed Legs a puxar pelo público como ninguém! Dirty Rock Bluesy delicioso. Sente-se a testosterona e a paixão!
Na sala alternativa fui encontrar um trovador moderno… Samuel Uria. O cantautor não se baldou este ano e para compensar trouxe um amigo, o Manuel Cruz. Cantaram juntos “Lenço Enxuto“. Foi um momento muito apreciado pelo público. Também a curta versão “El pez” de Juan Luiz Guerra, tudo com sentimento e delay.
Parece que os “madrileños” FAVX encheram os ouvidos de Indie enquanto esperavam por tocar já que fizeram questão de dizer que com eles era hardcore – moche. Tipos magrinhos sem camisa, muita energia, vontade de tocar e background punk.
Scuru Fitchadu no palco que levava o nome do aniversariante – Salgado – convidou esta banda pouco doce. Marcus Veiga, o vocalista gritou “Porto, puta que pariu! Este sítio é o meu amuleto da sorte” O resto vocês já sentiram  algum momento, muito 1o sacra a abanar, que Scuru é música africana. Agressivo e bom.
A noite começou a encerrar com o set de Lorr No na Sala StockHausen, um dito rave nostálgico. Ali a festa fecharia só após o bailarico e cantoria do refrão “Apocalipse“, dos Conferência Inferno, que são um post-punk electrónico embebido em Kraut. Nada como tocar para os amigos em casa.
Em simultâneo, no palco Super Bock, tocava o “hard working rock n’roll couple” de Viseu, os The Dirty Coal Train. Apesar dum problemazinho técnico com a guitarra, fizeram o que sempre fazem, desgarrar um rock honesto e forte.
Para quem tinha vontade de dançar o folclórico set dos brasileiros Venga Venga foi a sobremesa servida no Palco Salgado. As Twisted Sisters ficaram encarregadas de fazer rockar a pista do Super Bock com os seus vinis. O set começou com Black Velvet de Alannah Myles.
Uma festa gira, com muitas caras conhecidas e bom ambiente! Parabéns Salgado!

Reportagem: Magda Costa

Fotografias: Paulo Homem de Melo
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