“Quarentena Cinéfila – Raridades” regressa a 1 de Março

Com o confinamento a prolongar-se, a Medeia Filmes, em colaboração com a Leopardo Filmes, continua a sua programação regular on-line, com duas “sessões” semanais da “Quarentena Cinéfila – Raridades”, que entrará a 1 de Março na sua III fase, levando o cinema à sala dos/as espectadores/as, em streaming gratuito, no seu site: www.medeiafilmes.com

 

O ciclo começa dia 1 de Março com O Território, de Raúl Ruiz, o primeiro dos filmes do realizador chileno produzido por Paulo Branco, que segue o “pesadelo” de um grupo de turistas americanos e franceses perdidos numa serra labiríntica (o filme foi rodado na serra de Sintra), esforçando-se por sobreviver.

Este filme, que explora o corpo como lugar de desejo e violência, uma espécie de “conto surreal de terror psicológico” (Ruiz é um mestre na exploração do inconsciente) que nos hipnotiza, acabaria também por “dar origem” a O Estado das Coisas, de Wim Wenders.

No “intervalo forçado” da rodagem de Hammett, Wenders veio a Portugal visitar uma amiga, a actriz francesa Isabelle Weingarten, que participava no filme.

O realizador alemão ficou impressionado com a atmosfera do plateau, com o trabalho de Ruiz, e com o director de fotografia que há muito admirava, o célebre Henri Alekan, que fizera a fotografia de “alguns dos mais belos filmes a preto e branco”, como A Bela e o Monstro, de Cocteau. E teve a ideia de fazer um filme, com a equipa que trabalhava em O Território. Sondou o produtor Paulo Branco e assim nasceria O Estado das Coisas, onde participaria também como personagem o lendário produtor Roger Corman, que deveria ter sido um dos produtores de O Território (o filme de Ruiz tem, na sua maior parte, um elenco americano), mas que nunca enviaria o dinheiro. Um filme raro de um dos maiores e mais singulares cineastas, a quem há pouco tempo o Film Lincoln Center de Nova Iorque organizou uma homenagem e retrospectiva, a merecer a (re)descoberta;

 

Segue-se a 4 de Março o documentário John Mcenroe: O Domínio Da Perfeição, de Julien Faraut, que em 2018 foi um dos filmes mais aclamados pela crítica. Sob a epígrafe de Godard, “O cinema mente, o desporto não”, juntam-se aqui John McEnroe e Ivan Lendl na célebre final de Roland Garros, Serge Daney e os seus textos, os filmes de um visionário na forma de filmar o desporto, Gil de Kermadec, e a narração de Mathieu Amalric (e a sombra de Chris Marker a pairar por ali…). Para os amantes do cinema, para os amantes das artes, para os amantes do ténis, para os amantes do desporto em geral;

 

A partir de 8 de Março, Chuva De Julho, obra-prima de Marlen Khutsiev (o LEFFEST dedicou-lhe, em 2014, a sua primeira retrospectiva completa, dando assim a conhecer uma das obras mais modernas e livres da sétima arte soviética, relegada ao “esquecimento” por razões políticas. No ano seguinte, também o festival de Locarno e a Cinemateca Portuguesa lhe dedicariam homenagens). Como escreveu Alena Shumakova para o catálogo do festival, “este filme comprova o traço principal da coragem de Khutsiev, que residia sobretudo no saber ‘constituir um limiar, o cume absoluto’, para usar as palavras de Miron Chernenko, do cinema soviético dos anos cinquenta e sessenta e abrir uma nova página, começar a fazer o cinema do futuro.”;

 

Segue-se Carneiros, de Grímur Hákonarson. Vencedor do prémio Un Certain Regard no Festival de Cannes, esta comédia islandesa foi considerada pelo Le Monde como “um poderoso poema rural islandês com uma tonalidade burlesca e melancólica”. Para ver entre 11 e 15 de Março;

 

Por fim, a partir de 15 de Março, encerra esta terceira fase com Movimento Em Falso, multi-premiado filme de Wim Wenders. Com argumento de Peter Handke e Wim Wenders, a partir da obra de Goethe, Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, foi o grande vencedor dos Prémios do Cinema Alemão em 1975, nas categorias de Melhor Realização, Melhor Fotografia, Melhor Argumento, Melhor Actuação, para o conjunto do elenco, Melhor Montagem e Melhor Banda Sonora. Este filme que, como na obra de Goethe, viaja pela Alemanha num movimento único e belo, é, nas palavras de Peter Handke, a transposição, da “situação histórica de alguém que parte, que está a caminho para aprender algo, para ser outra pessoa, para ser realmente alguém”. Foi também com ele que descobrimos Nastassia Kinski no cinema.

 

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