O Teatro Nacional São João (TNSJ) dedica, nas próximas duas semanas, um ciclo de cinco peças, com tradução de Francisco Luis Parreira, a Mark O’Rowe, um dos dramaturgos responsáveis pela renovação do teatro irlandês, em meados da década de noventa, e pelo seu relançamento a nível internacional. Os Nossos Dias Poucos e Desalmados é um dos passos, em estreia absoluta, nesta incursão pelo universo de O’Rowe, numa encenação de João Cardoso. O espetáculo – uma produção do TNSJ – estará em cena entre 21 de novembro, e dia 30 do mesmo mês, no Teatro Carlos Alberto (TeCA).
No percurso de Mark O’Rowe, Os Nossos Dias Poucos e Desalmados rompe um hiato de sete anos desde Terminus (2007), período em que o dramaturgo se dedicou a adaptações de Shakespeare e Ibsen e à escrita de argumentos para televisão e cinema. O monólogo como máquina de narração e rememoração, tão caro a O’Rowe nas peças anteriores, dá lugar, neste texto, a uma sucessão cronológica de seis cenas, igualmente distribuídas por dois atos, com um prólogo e um interlúdio.
O texto vive de diálogos por vezes frenéticos, pontuados de silêncios inquietantes ou de sussurros inaudíveis. O “drama familiar” de personagens ambíguas, numa história em que a verdade se torna cada mais insondável, conduz o espectador a uma visão dolorosa da humanidade. Tal como nas outras peças de O’Rowe – esta é a quarta encenação de textos do dramaturgo irlandês por parte de João Cardoso –, a opção recaiu numa cena minimalista, despida ao máximo, que amplia o espaço dado à leitura aberta de um tempo e de um lugar possíveis e próximos de nós.
Photo: João Tuna