Pedro Abrunhosa… Um concerto que valeu mais que mil palavras e mil Imagens

Esta sexta feira o Coliseu Porto recebeu o primeiro de dois concertos esgotados de Pedro Abrunhosa. A ‘jogar’ em casa, a noite de Pedro Abrunhosa recebe logo com uma grande ovação na sua entrada, uma voz trémula na primeira música, talvez por estar em casa, e um ‘és grande’ ecoou na sala, a melodia que sai do piano que toma conta do ambiente com o público a cantar o refrão de “Agarra-me está noite”.

Um começo em grande que agarra o público pelos galões, ou talvez agarra o público por todos os pelos que ainda estão eriçados devido ao frio que se fazia sentir la fora. Inicia-se um desfilar de hits, que o público, aos primeiros acordes acompanha, “eu não sei quem te perdeu” com as vozes mais tímidas a arriscar no refrão. Uma outra luz ilumina agora guitarrista e Pedro Abrunhosa deixa de estar sozinho em palco ao som de “Deixas tanto de mim”.

Pedro dá agora a vez no piano a outro músico e agarra-se ao micro no centro do palco. A letra da canção surge projetada numa tela que cobre o palco mas o público retrai-se e não acompanha o músico em “Será”. “Será” por não conhecer ou por não se sentir à vontade?

 

Pedro Abrunhosa sente-se agradecido pelo estarem ali e de terem saído de casa numa noite tão frio, fria como a “Balada da Gisberta” que surge no alinhamento, após um enquadramento sobre o que aconteceu. Em palco, Abrunhosa homenageia Gilberta, que foi barbaramente assassinada apenas por ser diferente e mais fraca. A letra deu lugar a imagens do local onde Gisberta foi encontrada.

Pedro Abrunhosa partilha algumas memórias da sua vida e da sua cidade… “Eu gosto de sair pela cidade e conhecer as personagens e quando ia a Lisboa apesar de numa ter trocado uma palavra passava sempre por um senhor a quem dizia adeus. Passaram se dias e semanas e nunca mais o vi e senti falta de lhe dizer adeus por isso escrevi a música “senhor do Adeus”.

Nessas memórias recorda que sempre teve muitos convidados nos seus discos, e o problema de ter muitos e que depois não os pode trazer nos espetáculos ao vivo.

Recorda ainda algumas memórias suas do Coliseu… “Está sala e está cidade tem para mim um valor mas há uma razão muito inefável e que eu aqui assisti pela primeira vez aos concertos da juventude … e mais tarde o palhaço popof e o Apocalipse Now…”

“Quase sempre pelas mãos dos meus pais eu não costumo falar da minha vida pessoal mas foi com eles que descobri a vida, a arte… Os meus pais viveram juntos 70 anos e a minha mãe faleceu recentemente e eles mostraram me que o amor existe. Agora que o meu pai está mais só está canção foi escrita a antecipar este momento e chama se pode acontecer”.

Uma ovação de pé e uma fotografia dos pais… foi assim que terminou uma das canção mais emocionante da noite.

Depois das memorias, segue-se no alinhamento “Fazer o que ainda não foi feito”, acompanhado por uma batida rítmica de palmas e por várias vozes do público a acompanhar o refrão. Já no refrão com o Pedro ao piano, o chão do Coliseu estremeceu com o bater dos pés. As mãos já não chegaram para o ritmo frenético.

Mais o ritmo frenético continua com “Vem ter comigo aos Aliados” e a vontade de saltar das cadeiras e dançar instalou-se no Coliseu. A sucessão de sucessos da carreira de Pedro Abrunhosa era uma constante ao longo da noite e aos primeiros dois acordes o público delirou…. Não há como enganar seguindo-se “Se eu fosse um dia o teu olhar”

 

“Ainda estão vivos?” À pergunta o público responde com uma salva de palmas mostrando que aguenta ainda outra dose igual e o concerto ainda não ia a meio. Em “não desistas de mim” toda a qualidade musical de Pedro Abrunhosa, sem voz, apenas ao piano e a Bandemónio a acompanhar vieram ao de cima. Em “Não posso mais” sobressaem os sopros com Pedro a dançar do centro do palco até ao piano.

“Para os braços de minha mãe” abranda o ritmo do concerto para uma toada mais melancólica e sentida, sobretudo depois de Pedro ter aberto o coração umas canções atrás. ‘Força Pedro’ ouve-se de fundo e as palmas demoradas e os assobios tomam conta da sala. “É preciso ter calma” mostra que apenas uma voz, um poema e um piano chegam perfeitamente até à entrada da banda que veio dar um colorido mais orgânico à canção.

Alguém confidência…. “estou morta por dançar mas ninguém se levanta” mas o que é certo que a vergonha invade a plateia. Só mesmo na geral vê-se o público em pé a abanar mais que a cabeça. “Socorro” ouve-se no refrão, as palmas sentem-se, os pés abanam, as cabeças retorcem mas o ‘cu’ teima em não sair da cadeira. Finalmente acontece mas só mesmo para a ovação de pé no final da música.

A luz desce novamente, tornado o ambiente ainda mais intimista. Uma luz ténue ilumina o músico que está novamente sentado ao piano. Os telemóveis dão uma ajuda e acedem ao pedido do Abrunhosa “iluminam-me”. “Aconteça o que acontecer no palco eu só peço uma coisa que cantem enquanto não houver amanhã ilumina-me”… Este refrão ouviu se por largos minutos, e o Coliseu veio abaixo com o Público todo de pé.

Chegados ao encore, em “Lua”, Pedro Abrunhosa desceu do palco para o meio do público que o acarinhou, e que já não se sentou, mesmo aqueles que estavam retraídos à espera que alguém avançasse.

“Viva o Coliseu, até amanhã Porto” foi assim que Pedro Abrunhosa se despediu mas o público não deixou que essa fosse a sua despedida. Exigiu o regresso do músico que acedeu ao pedido, voltando e trazendo a canção “Tudo o que eu te dou”

O Carinho do público do Porto foi uma constante ao longo do concerto de Pedro Abrunhosa. Um coliseu esgotado que recebeu de braços abertos o músico, filho da cidade, e uma referência importante no panorama musical nacional. O culminar de uma digressão e a prova mais evidente que a invicta está sempre de braços abertos para o receber, quer seja na Avenida dos Aliados, quer seja no Coliseu.
Este sábado, regressa para mais uma noite que se prevê seja pelo menos igual à de hoje.

Na primeira parte, Paulo Praça deu a conhecer as canções do seu novo disco, editado no inicio do mês de Novembro.

Reportagem e fotografias: Júlia Oliveira

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