A Galeria ZDB em Lisboa recebe esta quarta feira, 11 de Abril Nadah el Shazly. Violeta Azevedo será responsável pelo aquecimento da sala.
Oh tudo é diferente, no Cairo quente, dizia a velha canção. Também dizia Cairo, excitante Cairo, apaixonante. A milhas da musicalidade da canção dos Táxi, no Egipto vai surgindo uma cena musical underground, exatamente isso, diferente, excitante e apaixonante. Com Maurice Louca ao leme, do Nilo têm fluido laços musicais que têm dado grandes discos, culminando nos fabulosos The Dwarfs Of East Agouza de Alan Bishop, onde Maurice colabora com o líbio Sam Shalabi. Ambos, que por sua vez, estão de alma e coração na feitura do excelente álbum de estreia de Nadah El Shazly.
“Ahwar” lançado no final do ano passado, é um verdadeiro avant-rock the casbah, caldeirão de dois anos de influências globais, salteando o rock, a eletrónica e a música experimental. Nadah é uma mulher de armas sonoras num mundo de homens, uma rapariga que começou punk a cantar covers dos Misfits, ao que o tempo e a sua voz fabulosa a levou a reinterpretar clássicos do riquissimo património musical do país do Nilo, acontecendo nesta reunião de poções díspares, a magia da validação como cantora egípcia de pleno direito, abrindo agora com autoridade as portas da pirâmide da experimentação. Tão longe no mapa mas decididamente muito perto de por onde andou Annette Peacock ou Dagmar Krause. Cada tema é uma revolução.
A sua voz intrigante, poderosa, cantando em árabe, adquire a envolvência narcótica de uma dança do ventre à velocidade de uns Islam Chipsy 800% mais lentos, mixados com um disco velhinho de Soft Machine (oiçam “Koala”, inacreditável). Há quem a compare a uma Jenny Hval do deserto, compreendem-se até algumas semelhanças melódicas e vocais, mas Nadah é muito mais a tradução em árabe da glossolalia da mítica Breadwoman de Anna Homler. Se procuram uma viagem, preparem-se para dar a volta ao mundo paralelo.
Violeta Azevedo utiliza a flauta transversal como instrumento principal, criador de mundos de surrealismo sonoro. O som é esmagado por processos eletrónicos no limiar do seu propósito, a monofonia da flauta desaparece, a tessitura expande para além do imaginável. Os timbres e paisagens são cheios, orgânicos onde vivem lá criaturas.