Obrigado…. Carlos do Carmo!!

Anunciada no inicio do ano de 2019, a despedida dos palcos de Carlos do Carmo teve a primeira parte este sábado, 2 de Novembro no Coliseu Porto, esgotado à muito para a despedida sentida da grande voz do fado e da canção nacional.

 

Há muitos anos na Suécia, Carlos do Carmo descobriu que estava hospedado no mesmo hotel onde se encontrava Frank Sinatra. Sabendo disso ficou à espera que ele passasse o que acabou por acontecer.., a ‘voz (The Voice)’ de uma maneira subtil, passou pelo Carlos, nessa noite que o iria marcar ao longo dos anos…

Mas ainda iriamos voltar a Frank Sinatra…

 

Carlos do Carmo é a nossa ‘voz’. A voz de um povo e de tradições que espelham através do fado a nossa cultura popular. É a ‘voz’ que ao longo de 50 anos de carreira caracterizam a música popular Portuguesa sempre atento às mudanças e hábitos de uma sociedade única, quase sempre retratada nas canções e poemas que o fadista tem divulgado ao longo de 5 décadas, e nunca esquecendo a sua Lisboa característica, longe do turismo atual, já cantada em “Lisboa Menina e Moça”.

 

80 anos de idade são por si só uma celebração, uma celebração que Carlos não quis deixar para trás, e que se apresenta como o finalizar de uma carreira de mais de 50 anos de vida em palco. A introdução do concerto, com voz do saudoso Pedro Moutinho fala disso fala desse inicio de carreira, com testemunhos do próprio Carlos aos 31 anos de idade.

 

Visivelmente emocionado, a cidade do porto recebeu esta primeira parte dos dois derradeiros espectáculos do músico, do fadista, mas sem sombra de dúvida do homem que é e que foi ao longo das 8 décadas quem tem partilhado a sua vivência connosco. Num espectáculo preparado, sem ele saber, ao mais ínfimo pormenor, recordou igualmente memórias e histórias da sua ligação com a cidade invicta, enaltecendo a forte personalidade dos portuenses, que ou gostam ou não gostam, não têm meio termo nem problemas em manifestar de uma forma directa e honesta o que lhes vai na alma.

 

Homem do fado mas que canta o que quer e que não gosta de ser rotulado. Desfilou os clássicos da sua carreira por vezes acompanhado pelo público que não perdia a oportunidade de tirar o protagonismo e os aplausos ao próprio Carlos do Carmo.

 

As memórias em vídeo, preparadas pelo filho, culminavam com a recordação da cerimónia da entrega do grammy em 2004.

É nessas memórias que nos levam novamente a Frank Sinatra, a voz do outro lado do oceano que sempre foi um referência na sua carreira. Um dia foi convidado para cantar nos Estados Unidos as canções de Cole Porter imortalizadas por Frank Sinatra, onde se destacou o memorável “I’ve got you under my skin

 

Entre mensagens de amigos, colegas e individualidades, as memórias levam à escrita de Mia Couto, um dos seus escritores preferidos.

 

Entre clássicos que iram fazendo parte do repertório do concerto, brinda o público com “mariquinhas.com” de autoria de Vasco Graça Moura, tema que faz parte do novo disco, apesar de já não estarem na moda (os discos), faz questão de lançar em janeiro de 2020.

mariquinhas.com” recupera o clássico “casa da mariquinhas” numa versão mais atualizada e moderna, fazendo uso do tom brejeiro, característica do Porto.

 

Na recta final agradece a todos que o acompanharam ao longo da sua carreira e agradece a Portugal, por ter um presidente e um primeiro ministro que não são corruptos.

Visivelmente emocionado e cansada, afinal são sempre 80 anos ironiza, acede ao pedido do público para um pequeno encore, onde desafia o próprio coliseu a ficar em silencio para ouvir a derradeira canção, sem recurso a microfone, fazendo uso da ‘voz’, a mesma que marcaram as últimas 5 décadas de fados e canções.

Obrigado Carlos do Carmo pela sua ‘voz’, pela sua liberdade, pelas canções mas sobretudo pelo Homem que é, directo e sem rodeios… e que seja assim por muitos anos. O Porto continua de braços abertos para o receber sempre que quiser.

Reportagem: Sandra Pinho
Fotografias: Paulo Homem de Melo

 

Partilha