Nuno Cardoso regressa a Guimarães com “Timão de Atenas”

Este sábado, 5 de maio, as portas do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) abrem-se para receber “Timão de Atenas”. O encenador Nuno Cardoso regressa, assim, a Guimarães para apresentar a mais implacável obra de Shakespeare  “Timão de Atenas” é a mais implacável obra de Shakespeare sobre a misantropia e constitui quase um insulto moral à depravação humana, recusando suavizar a angústia e a amargura resultantes do embate frontal que se produz no seu seio com a avareza e a ingratidão. Na sua corrosiva visão da loucura humana, “Timão de Atenas” assemelha-se a “Coriolano” pelo desencanto na constatação da prevalência da futilidade como denominador comum da vida. Ontem como Hoje, conflitos políticos terminam em impasses ou na vitória dos oportunistas; a populaça e os seus líderes são instáveis e medrosos; a virtude cede ao interesse.

O retrato que Shakespeare faz de nós em “Timão de Atenas” é surpreendente na sua contemporaneidade. Na acuidade da reflexão e crítica da natureza política e social da humanidade, por mais globalizada e digitalmente comprimida que esteja. No sarcasmo e desânimo para com a absurdidade trágica da vida. Neste sentido, esta peça permanece sombria e desalentadora até ao final, constituindo um severo retrato da vilania humana e da corrupção. Estranhamente, este retrato de 400 anos é o corolário lógico, o grande fresco dramatúrgico que resume e sublima tudo o que se disse e fez após a crise global de 2008 e que se traduziu talvez no período mais negro da sociedade democrática portuguesa.

Enquanto obra dramatúrgica em si, “Timão de Atenas” ombreia formalmente com qualquer texto dramático contemporâneo ao desafiar as categorias convencionais da tragédia, comédia e história, criando uma forma de difícil classificação na sua fixação com a morte e a esterilidade. Ao escalpelizar uma queda trágica da grandeza, apresentando um protagonista que é agido através do sofrimento, mas não sofre qualquer crescimento moral. De facto, no seu destino, a peça é percursora na definição do arquétipo contemporâneo do Anti-Herói, cujo papel na identificação das falhas do ser humano é tão caro ao discurso dos dias de hoje.

 

Timão de Atenas” é uma coprodução Ao Cabo Teatro, Teatro Municipal do Porto, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Municipal São Luiz e Teatro Aveirense

 

photo: José Caldeira

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