Vais quebrar-me consecutivamente na esperança de guardar um caco, de dedilhar um fio, de revelares a penumbra do teu reflexo numa fenda fininha. O meu corpo não me conhece, nunca soube o que quis ser. Nunca se quis a si. Para onde olho vejo montanhas de mágoa que moem esse caminho do momento. Inundam-nos as almas de um pranto branco consecutivo. As flores pálidas dos umbigos murcham no bater do som do tempo, espelhadas nas janelas deste arco sem fim… voltámos juntos de superfícies diferentes e desvendaste o meu corpo como uma arqueologia de contornos. Os nossos corpos são não lugares, uma paisagem, uma miragem pela qual passam consecutivamente sem ver que não somos daqui, que este espaço não nos engole, que a pertença é realmente escassa. E se eu te habitar? Posso dizer-te que sou teu e que tu és meu e que eu pertenço dentro de ti? Agora sou o teu lugar.
“Num Vale do Aqui” é uma procura constante de lugares e não lugares nos corpos individuais que se espelham nos outros, relacionando a temática da pertença com a necessidade de alojamentos emocionais para a criação de colectivos unos. A colecção constante de paisagens efémeras, abrem portas a escolhas e fugas de acontecimentos agitados, envoltas numa pesquisa arqueológica do espaço biológico que nos acompanha neste percurso efémero.
Entre os dias 27 e 29 de Setembro, o Teatro Ibérico recebe a performance de dança contemporânea “Num Vale do Aqui”, de Daniel Matos. Depois da sua estreia em Junho, no Centro Cultural de Lagos, “Num Vale do Aqui” é apresentada em Lisboa, no espaço que tem sido essencial na mostra de criadores emergentes.