NANT ocupa palco do Teatro Viriato, ruas e discoteca da cidade de Viseu

A segunda semana da 11.ª edição da NANT – New Age, New Time quebra a barreira entre dança e o espaço marginal do corpo, com propostas que nos fazem olhar para os corpos trans, para os conceitos cibernéticos aplicados ao corpo e para as novas naturezas de clubbling como atos de resistência.

Gaya de Medeiros, Beatriz Soares Dias, Catarina Keil, Fernando Queiroz, Alfredo Martins e Marco da Silva Ferreira rasgam fronteiras e preconceitos na mostra de dança contemporânea do Teatro Viriato, ocupando o palco, as ruas da cidade e a discoteca NB Viseu.

 

Atlas da Boca”, de Gaya Medeiros, é uma investigação de dois corpos trans acerca da boca como lugar de interseção entre a palavra, a identidade e a voz, o público e o privado, o erotismo e a política. Busca novas narrativas, explorando os verbetes que se abrem da boca para fora e que se leem da boca para dentro.

 

“O Atlas da Boca discute sobre esse espaço simbólico onde a boca se torna a interface entre o público e o privado, entre o erótico e o político, entre o silêncio e a palavra que dura. É nessas situações que a palavra se torna identidade, afeto, fé e riso. Como bebês que descobrem o mundo colocando o mundo na boca: saber o gosto do chão, das chaves de casa e dos cabelos da mãe. Crescemos e a boca vai se tornando um lugar mais longe da mão, mais rebuscado, sóbrio e soberbo. Nessa coleção de palavras que transitam da boca para fora e da boca para dentro, eu e o Ary vamos nos permitindo transbordar algumas palavras numa relação muito horizontal e despretensiosa com o público. Ambos transacionamos muito tarde e, agora, começamos a vivenciar/ser outras palavras e experienciar o mundo em posições novas”, explica Gaya de Medeiros

O espetáculo sobe ao palco do Teatro Viriato, no dia 24 de janeiro

 

No dia 27 de janeiro, a NANT propõe não um, mas sim três espetáculos, um verdadeiro pack de experiências que começa no palco do Teatro Viriato e termina na discoteca NB Viseu. Entre as 21h00 e as 23h00, o público terá a oportunidade de assistir à performance “Neon80” de Beatriz Soares Dias, “Selvilização”, de Catarina Keil e Fernando Queiroz, e “Silent Disco”, com direção artística de Alfredo Martins e cocriação e interpretação de Marco da Silva Ferreira.

A performance “Neon 80”, que sobe ao palco às 21h00, traça o seu labirinto, inspirada nos conceitos de cyberpunk, cyberspace, cyborgbody e videogame. Enaltece o lado marginal de um corpo, a sua persistência e sobrevivência, a sua oposição às regras e a sua busca por um espaço de liberdade, acreditando na transformação do género binário para um lugar de metamorfose, de hibridez extensiva e na qual a prótese é integrada como um membro integrante do corpo humano. “Neon 80 aborda a capacidade do ser humano se distanciar do seu corpo e de se tornar independente dele numa realidade virtual, onde o corpo performático imerge num desfasamento temporal e se apropria de ferramentas e mecanismos de comunicação diversos”, revela Beatriz Soares Dias, reforçando que “a performance tem como referência a dimensão gaming como um espaço de liberdade do próprio corpo e do que este utliza para sobreviver”.     

 

Às 22h00, Catarina Keil e Fernando Queiroz embarcam numa performance que servirá de ponte entre o Teatro Viriato e a Discoteca NB Viseu. “Selvilização” traça um caminho delineado por um caos supostamente organizado.  Um descontrolo consciente, sem ponto de fuga. O ciclo repete-se. E com o presente unem o antes e o depois, num emaranhado de perspetivas no meio de tantos percursos.

 

O último espetáculo da noite chega às 23h00. “Silent Disco” é um espetáculo imersivo que acontece em contexto de discoteca, explorando o potencial da tecnologia das festas silent disco. “A música é difundida através de um transmissor de rádio, enquanto o sinal é captado pelos receptores dos auscultadores sem fios usados pelos participantes. Quando observada de fora, dá a impressão de estarmos perante uma sala silenciosa, cheia de pessoas a dançar ao ritmo de nada. O público forma uma comunidade temporária, guiada através de auscultadores pelo espaço vazio da discoteca”, explicam os artistas.

Este espetáculo procura especular sobre a natureza do clubbing como um ato de resistência, capaz de reconfigurar formas de reflexividade, afetividade e corporalidade. Identidades espetaculares, sexualidades múltiplas, consumos hedonistas, fisicalidade crua – poderão estes constituir-se como práticas políticas de resistência? É a pergunta que esta performance levanta.

Partilha