Maquete gigante da casa de Castro habita o palco do TNSJ

Em 1598, o poeta António Ferreira foi o primeiro a escrever uma tragédia em língua portuguesa a partir de um tema nacional: o amor (histórico ou lendário) de Pedro e Inês. Quase cinco séculos mais tarde, o encenador Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ), serve-se desta obra – revestindo-a de uma modernidade e densidade intrínseca, veladas pela poesia da linguagem e pela elocução – para assinalar a sua estreia na dramaturgia clássica portuguesa. Castro expõe questões como o desejo e o poder, como vício e caos; ou a impunidade e prepotência, como cegueira que “escurece daquela luz antiga o claro raio”.

O espetáculo sobe ao palco do TNSJ na próxima quinta-feira, 20 de agosto, e fica em cena até 12 de setembro.

Numa mistura de argumentação e contra-argumentação, Nuno Cardoso recorre a um imenso palco-casa-país, espécie de maquete gigante dos espaços da ação, para jogar com as tensões, surdez e cegueira das personagens que se revelam cativas de si próprias e da sua irredutibilidade. Ao assumir que Castro reúne três “personagens-lugar” (Inês de Castro, infante Pedro e rei Afonso IV), é possível sobrepor estes três espaços, numa única casa e “encenar o jogo de desencontros que está na base do problema”, como conta o responsável pela dramaturgia, Ricardo Braun. Esta casa – com varanda, um pequeno relvado e baloiços – reflete a ligação entre a identidade própria de cada um e sua casa, um rasto comum que os portugueses preferem deixar  si.

 

O espetáculo que marcou o arranque das celebrações do Centenário do Teatro São João assinalou ainda a estreia da companhia “quase” residente e materializou a política de descentralização que a Instituição quer prosseguir ao longo dos próximos anos.

 

Photo: João Tuna

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