Maguy Marin assombra Guimarães com “May B”

O corpo e o movimento regressam ao Centro Cultural Vila Flor no próximo dia 20 de maio com a coreógrafa Maguy Marin a apresentar aquela que é já considerada uma obra-prima da história da dança contemporânea. A peça é baseada em textos e personagens do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett, que anseiam por quietude, mas não conseguem deixar de se mover. Criada em 1981 e coproduzida pela Compagnie Maguy Marin e pela Maison des Arts et de la Culture de Créteil, “May B” é apresentada no Grande Auditório Francisca Abreu, em Guimarães.

 

Fundadora de um discurso e momento raros por ter conseguido dar às palavras de Samuel Beckett o corpo que há tanto tempo procurava, “May B” foi uma conquista da coreógrafa francesa Maguy Marin face à resistência do dramaturgo irlandês em aceitar que as suas peças fossem adaptadas. Ele não só aprovou o projeto, como também a convidou para se encontrarem e discuti-lo, tornando “May B” numa criação única e intemporal.

 

Inicialmente, Maguy terá pensado criar a peça a partir da segunda parte do texto “Fim de Partida” de Beckett. Mas o encontro com o escritor, onde falaram do que ela desejava fazer, deixou-a com o sentimento de libertação, quando ele lhe aconselhou a não respeitar o texto e trabalhar sobre a intuição. É também na conversa com o escritor que se inspirou para o uso das palavras que suscitam uma estrutura de início e final de peça. Essas poucas palavras que ainda se escutam em cena, extraídas de “Fim de Partida”, têm um duplo significado para o espetáculo.

 

Em “May B”, obra de arte da dança contemporânea de Maguy Marin estreada há mais de 40 anos (em 1981), a carga simbólica de reivindicação política é transportada por um coletivo de figuras que anda em grupo. E contém os elementos a partir dos quais se constrói a identidade artística desta criadora, assumindo-se como a obra seminal geradora de todas as questões que são posteriormente colocadas, como ritmo, o ensemble, a escuta, o jogo teatral, a precisão do corpo.

 

O título de “May B” condensa múltiplos sentidos e é, desde logo, uma possível interpretação de uma homenagem à mãe de Samuel Beckett, que se chamava May. E nesta coreografia de Maguy o que resta do texto é: “Acabou. Está acabado. Isto vai acabar. Isto vai talvez acabar.” Naqueles corpos e rostos de pó, cansados de um movimento perpétuo que não os leva a lado algum, uns encurvados, outros tortos, outros desamparados ou simplesmente perdidos. Também suportados pela intensa relação com a música original de Franz Schubert, Gilles de Binche e Gavin Bryars, numa partitura rítmica muito precisa que nos leva a explorar o imaginário através do corpo.

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