Luis Miguel Cintra (está de regresso) e estreia “Um D. João Português”

A 19 e 20 de janeiro, Guimarães recebe um dos maiores nomes do teatro português, Luis Miguel Cintra, que elegeu o Centro Cultural Vila Flor para a estreia absoluta da sua mais recente criação. Construído em diferentes cidades ao longo de 2017, “Um D. João Português” chega finalmente ao palco que acolherá a primeira apresentação do espetáculo na sua versão integral. A partir de uma tradução anónima de literatura de cordel em que o nome de Molière é omisso, o espetáculo cruza um vasto conjunto de referências culturais e transforma D. João e Esganarelo numa dupla em permanente fuga, como num road movie. A peça divide-se em duas partes e decorre de forma continuada a 19 e 20 de janeiro, com o início de ambas as sessões marcado para as 21h30, no Grande Auditório do CCVF.

Depois de um percurso de 43 anos à frente do Teatro da Cornucópia, Luis Miguel Cintra regressa ao trabalho com um grupo de atores ligados à companhia que entretanto terminou. Ao longo de 2017, o grupo realizou 4 residências artísticas em outras tantas cidades e, em cada uma delas, partilhou com o público as diferentes fases de preparação do seu novo espetáculo, “Um D. João Português”. Após a construção de todos os segmentos, chegou finalmente a hora da estreia absoluta da versão integral.

Molière não foi o único autor a dedicar-se à figura de D. João. Ao longo dos séculos, o libertino inspirou obras de Tirso de Molina, Lord Byron e, talvez a mais famosa de todas, a ópera Don Giovanni, de Mozart. Luis Miguel Cintra parte de uma tradução de cordel portuguesa do séc. XVIII, anónima e em que o nome do dramaturgo francês é omisso, e evoca um conjunto de referências culturais e artísticas de vários tempos para construir um espetáculo em que D. João é, mais do que europeu, verdadeiramente português. Construído ao longo de 2017 em quatro cidades, Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães, o espetáculo acompanha o percurso em fuga de D. João e do seu fiel criado Esganarelo, como se de um road movie se tratasse. A vida vai-se revelando no contacto de ambos com as mais diversas realidades, da mais densa reflexão filosófica à entrega aos prazeres mais simples. Constante, porém, é a busca pela total liberdade por parte do protagonista, que tenta escapar a tudo aquilo que possa impedi-lo de viver como bem lhe apetece. Existe, ainda assim, um único limite que talvez não lhe seja possível transpor: a morte.

Mais do que preparar, desde logo, um produto acabado pronto a consumir, o processo de trabalho que deu origem a “Um D. João Português” procurou dar ao público a possibilidade de participar numa reflexão sobre a transformação da atividade artística. Em simultâneo, do ponto de vista artístico, este projeto implicou uma busca permanente pela libertação da linguagem cénica de quaisquer modelos previamente estabelecidos, assumindo diferentes formas de abordagem de acordo com as caraterísticas de cada local, misturando estilos e registos, referências culturais populares e eruditas, clássicas e contemporâneas.

Na sua forma integral, “Um D. João Português” junta em palco um corpo de 18 atores e apresenta-se dividido em duas partes: no primeiro dia vamos poder assistir aos primeiros dois blocos, Na Estrada (da Vida) e O Mar (e de Rosas); no segundo, aos dois restantes, As Árvores (dos Desgostos) e A Escuridão ao Fim da Estrada. Depois da estreia em Guimarães, esta coprodução da Companhia Mascarenhas-Martins, do Teatro Viriato e do Centro Cultural Vila Flor fará um percurso no sentido inverso ao da sua preparação, com apresentações marcadas no Teatro Viriato, Fórum Municipal Luísa Todi, Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida, e adicionando uma nova cidade ao roteiro: Almada, no Teatro Municipal Joaquim Benite.

 

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