Quando se pensa em artefactos icónicos na história da música ocorrem-nos sempre certos modelos de guitarra elétrica, imagens de microfones, sintetizadores, de grandes mesas de mistura, mas raramente se pensará num sofá. E, no entanto, há já duas décadas que o sofá da Red Bull Music Academy é um dos objetos com maior concentração de talento do planeta.
Esse sofá aterrará agora no evento Lisboa Electrónica para uma série de quatro palestras que alinharão história e estórias, conhecimento, experiência, segredos e estratégias por parte de protagonistas que têm moldado esta cultura no nosso país e não só.
As lectures terão lugar no Teatro Capitólio, bem no coração de Lisboa, no histórico Parque Mayer. Este edifício, uma das primeiras construções de betão no nosso país, abriu originalmente em 1931. Criação do arquitecto Luís Cristino da Silva, o Capitólio foi um dos mais nobres exemplos do modernismo no nosso país nas primeiras décadas do século XX. Agora, assume de novo uma importante posição no agitado mapa cultural da cidade, abrindo espaço para um dos mais importantes sofás do planeta música.
As conversas realizam-se a 4 e 5 de abril e cada uma das jornadas receberá dois oradores. No primeiro dia sentam-se no sofá da Academia duas verdadeiras lendas e dois incontestados pioneiros. O arranque às 14 horas é assegurado por Carlos Maria Trindade: membro dos míticos Corpo Diplomático, Madredeus ou Heróis do Mar. Trindade gravou com Nuno Canavarro o clássico Mr. Wollogallu, álbum que mereceu recentemente reedição internacional e elogios de publicações internacionais como a Pitchfork. Às 17 horas do mesmo dia, o público presente poderá sintonizar-se com a experiência de Mike Grinser, um dos mestres a assinar masterizações num dos estúdios mais importantes do planeta, o Dubplates and Mastering, uma das instituições que molda o som dos clubes globais.
A 5 de Abril, o sofá destas conversas recebe, pelas 14 horas, Serge, o DJ holandês que fundou em 1994 uma das mais respeitadas editoras do universo da eletrónica, a Clone Records. Rui Vargas, um dos maiores embaixadores da música eletrónica em território nacional, é o convidado que se segue. O DJ e radialista, que conseguiu manter uma sensibilidade única ao longo de 30 anos de carreira, falará pelas 17 horas e abordará a história de um dos maiores clubes europeus, Lux Frágil, onde tem um papel crucial como diretor artístico.
As sessões serão de carácter imersivo, onde o público terá oportunidade de participar num momento de open mic e poderá fazer perguntas ou tecer comentários junto dos lecturers.
Em ano de 20º aniversário da verdadeira instituição em que a Red Bull Music Academy se transformou, é importante relembrar que as suas míticas lectures – oferecidas em edições que viajaram por todo o mundo, de Berlim, Londres, Roma ou Barcelona, na Europa, a Cidade do Cabo, em África, Melbourne, na Austrália, Tóquio, no Japão, São Paulo, no Brasil, ou Nova Iorque, Seattle e Toronto, na América do Norte – reuniram centenas de nomes cruciais para a história da música, de inventores como Roger Linn, Bob Moog ou Donald Buchla, a pioneiros de todos os géneros como Alexander Robotnick, Bootsy Collins, Giorgio Moroder, Danny Krivit ou Larry Heard, passando pelos mais conceituados nomes da electrónica, dos Masters at Work a Derrick May, de Richie Hawtin a Goldie.
Perante plateias de participantes na Academia vindos de todo o globo, estes verdadeiros criadores e inventores do futuro abriram as portas para a sua carreira, partilharam as histórias de que se fez e continua a fazer o seu percurso, revelaram segredos do ofício e lançaram luz sobre incontáveis obras primas da música, com um espírito de total generosidade, de vontade de partilha, de comunhão. Serão essas as coordenadas para o evento que a Red Bull Music Academy agora propõe ao público do Lisboa Electrónica, em quatro lectures que pegarão no ângulo português e abordarão importantes aspectos ligados à criatividade, à música, ao permanente desejo de traduzir o futuro para o pulsar que anima pistas de dança ou que preenche auscultadores